A alegria da atriz Regina Duarte durante visita dia 23/01 ao presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto, quando foi convidada para assumir o cargo de Secretária Especial da Cultura. Ela tomou posse dia 04/03. Foto: PR.

A atriz Regina Duarte, conhecida de quase todos os brasileiros pela sua constante presença nas novelas da TV Globo, deixa a secretaria de Cultura do Governo Bolsonaro, com um expressivo desgaste, até por não ter correspondido às expectativas de muitos dos seus colegas, e do universo cultural brasileiro, apesar de também a Cultura estar, de certa forma marginalizada nos últimos governos, em todas as esferas administrativas.

O fato é que Regina, realmente contribuiu para deixar uma multidão insatisfeita. Ademais, pelo modo externado de governar do presidente Bolsonaro, todos os seus auxiliares ficam desgastados, e mais, passando a ideia de ter mais apego ao cargo do que amor próprio.

Inconcebível, para citarmos apenas a questão do momento, quando um ministro da Saúde, mesmo não sendo médico, aceita a imposição do presidente da República de ditar um procedimento de exclusiva competência do profissional da medicina, no caso a aplicação de cloroquina em pacientes vítimas do coronavírus; tolere o presidente desautorizá-lo quanto às recomendações de isolamento social ou outras medidas de prevenção contra o vírus desafiador da população mundial, adotada como contenção da propagação da “peste” do momento. Exemplos outros poderiam ser dados para mostrar o menoscabo do presidente com auxiliares, aliás, todos escolhidos exclusivamente por defenderem posições ideológicas iguais a do presidente.

Nenhum prefeito, governador ou presidente está obrigado a manter no quadro de auxiliares, pessoas com as quais não se afinem. Mas todos os chamados para ajudar a administração, sendo escolhidos pelo critério inicial da competência e do comportamento ilibado, precisam ter compromisso com o País, o que significa discordar de orientações contrárias ao interesse público, sob pena de capitulação.

Os dois últimos ministros da Saúde exonerados (Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich), são exemplos do que deve ser um auxiliar. Mandetta sempre dizia que, como médico, não abandonava o paciente, ficou no Governo, um certo tempo, amargando constrangimento, mas não cedeu em relação às situações mais caras ao enfrentamento do coronavírus. O segundo, Nelson Teich, idem.

O comportamento do presidente deixa seus ministros pequenos. Conhecendo essa realidade, hoje, em respeito a si, o cidadão que seja convidado a ser ministro do Governo Bolsonaro, precisa fazer uma avaliação profunda sobre o aceite ou não. É dignificante ser ministro. Muitos brasileiros são lembrados, há anos, por suas passagens como auxiliares de presidentes. O ministro Teich, o último a deixar o cargo, mesmo não tendo aceito as imposições de Bolsonaro, saiu desgastado para uma boa parte da sociedade, além de estar pessoalmente, sem dúvida, amargando uma grande decepção e arrependido de ter aceito a empreitada de substituir Mandetta. Não pensou que ia passar por esse sofrimento pessoal. Bolsonaro não vai mudar.

Regina Duarte também não pensou sobre as consequências do “namoro”, do “noivado” e da união estável celebrada com o presidente, embora tenha sido advertida por alguns dos colegas, e criticada por outros. O argumento para a saída de estar com saudade da família não se sustenta.

Sofreu humilhações que nem alguns dos personagens por ela interpretados em novelas. Foi durante o pequeno espaço como agente público, uma ave fora do ninho, além de ter perdido amigos e agregado inimigos. A vaidade, sem necessidade, talvez tenha pesado mais do que a razão para ser secretária de Bolsonaro. E continuando no Governo, como promete, acumulará mais decepções, sem idade para recuperar o perdido em tão pouco tempo.