Para Renato Roseno, vírus é resultado de um modelo de civilização em esgotamento no mundo. Foto: Reprodução/ Vídeo.

Além de ter afetado o contexto econômico e de saúde em todo o mundo, a pandemia de coronavírus deve mudar a postura da população com relação a política. Pelo menos é o que avaliam algumas lideranças entrevistadas pelo Blog do Edison Silva, que acreditam em um novo comportamento por parte da sociedade diante das atitudes dos governantes e legisladores no trato com à Covid-19.

A postura do presidente da República, Jair Bolsonaro, que vem defendendo, por exemplo, uma flexibilização do período de isolamento social, em desacordo com o que tem adotado a maioria dos governadores e prefeitos, é algo que deve ser colocado na balança num futuro próximo. As eleições municipais devem ser o primeiro termômetro para avaliar quem, de fato, atuou de forma coerente, contra o vírus, na percepção do eleitorado.

Para o deputado Elmano de Freitas (PT), a pandemia deve gerar uma reflexão da população sobre a importância do papel do poder público. “Nosso povo, no fim de tudo isso, vai ter uma mudança de pensamento. Teremos uma eleição diferente, marcada pela importância do sistema público de saúde. Os eleitores estão atentos com as posturas equilibradas e terão novo pensamento após essa situação dramática”, disse.

O socialista Renato Roseno (PSOL) vai mais além. Para ele, há um modelo de civilização em esgotamento no mundo. A pandemia tem demonstrado, por exemplo, uma insustentabilidade, seja social, econômica, política, ética e humanitária. “O Covid é fruto do desequilíbrio ambiental. Da injustiça socioambiental, do esgotamento dos ecossistemas. Por outro lado, é reveladora da desigualdade entre as sociedades”, disse. Na avaliação do parlamentar, os últimos 30 anos foram de desmonte dos estados sociais.

“A crise dos anos 1980, que encerrou o golden age do capitalismo, inaugurou a lógica neoliberal, baseada no tripé financeirização, desregulação dos mercados e flexibilização das regras de proteção do trabalho. Houve nesse período o fim da Guerra Fria, a ascensão da China como a grande fábrica do mundo, a ascensão do capitalismo informacional e países periféricos como o Brasil, reordenaram suas bases produtivas. Veio a desindustrialização, privatização, dependência de exportação de commodities. Aí veio 2008 (do qual ainda não saímos). As taxas de crescimento do mundo não voltaram até hoje e veio o agravamento da crise ambiental. O vírus era esperado pelas autoridades sanitárias internacionais e encontrou o desmantelamento dos serviços de saúde. O SUS brasileiro diminuiu R$ 22 bilhões de 2016 para cá em razão da EC-95. Então, a política tradicional se colocou alheia à crise multifacetada.” (Renato Roseno)

 

Na avaliação de Roseno, agora pode-se ter uma agenda emergencial “mas não há uma articulação com força de barrar a extrema-direita. Não podemos viver de emergências. Precisamos de uma alteração profunda na economia e nas institucionalidades. Precisamos retomar fortemente o investimento social, nos sistemas públicos de saúde e assistência social; proteger o trabalho e as classes trabalhadoras. A ‘uberização’ foi péssima para a humanidade. Precisamos controlar e regular mais os mercados. O mercado financeiro está destruindo a base econômica real”, concluiu.

Segundo Audic Mota (PSB), haverá dividendos de reconhecimento, seja para o bem ou para o mal. “Na medida em que tenhamos, ao longo dessa difícil travessia, a performance de líderes agindo com responsabilidade, diligência, proatividade e abertura ao diálogo com a sociedade. Sem abrir mão da firmeza na tomada de medidas epidemiológicas, do compromisso com o bem-estar da coletividade, do inarredável espírito público”, afirmou.

Do contrário, em sua avaliação, restará da pandemia “a cobrança da fatura daqueles que venham a tirar proveito para cometer os sacrilégios do desmando administrativo-financeiro e do oportunismo eleitoreiro, enganando a população, em discursos não condizentes com a realidade dos seus atos executivos e posicionamentos políticos”.

Com um dos quadros mais delicados no País do ponto de vista do alastramento da doença, o Ceará demonstra para o Brasil planejamento e atitude político-administrativa, segundo defende Audic. “Ações capazes de conter o pior. Ministério Público, Corte de Contas e os legislativos estadual e municipais, por sua vez, têm a oportunidade de redobrar seus papéis fiscalizatórios e propositivos, o que contribuiria para melhorar suas imagens como entes institucionais”, destacou.

Líder do Governo na Assembleia Legislativa do Ceará, o deputado Júlio César Filho (Cidadania), disse que só teremos uma ideia de como os políticos serão avaliados pela população após o término da crise. Segundo ele, mesmo com todas as medidas adotadas pelo governador Camilo Santana, o Estado passará por um “colapso” na Saúde por conta do coronavírus. “Não vai ter UTI com respirador para todo mundo, e, infelizmente, muita gente vai morrer. Quando isso acontecer, dependendo de como isso acontecerá, a gente vai saber quem adotou a melhor medida”, disse.

“Pessoas estão morrendo. O político que está exercendo cargo público, como Executivo Estadual, tem que fazer aquilo que lhe convém e que acredita para salvar vidas. Não deve pensar, de maneira alguma, em eleições. O momento, agora, é de salvar vidas, como o governador Camilo vem defendendo. Infelizmente, existem pessoas que tentam se aproveitar politicamente para tirar proveito do momento grave em que passamos. Essas pessoas precisam ser repudiadas. Imagine se eles chegam ao poder…” – (Júlio César Filho)

O deputado federal Célio Studart (PV) disse que vem acompanhando a preocupação da população com a eficiência e lisura dos gastos que estão sendo feitos. “Isso demonstra que a população espera dos gestores e dos parlamentos, além das ações e discursos, uma postura ética e proba”, destacou.

Segundo ele, as ações do Executivo e Legislativo devem impactar profundamente como a população irá enxergar as autoridades políticas pós-pandemia, “já que poucas vezes em nossa história tivemos momentos tão profundos como esse onde a população, em sua totalidade, se vê atingida”.

Coordenador da bancada cearense na Câmara Federal, o deputado Domingos Neto (PSD) afirmou que tem acompanhado a população mais atenta no momento de pandemia, fiscalizando todos os atos do Governo, seja Municipal, Estadual ou Federal. “Acredito que o resultado influenciará sim na imagem das lideranças políticas”, destacou.