Os efeitos da nova condenação do ex-presidente Lula, assim como o desdobramento dos demais processos que ainda responde, pouco influenciarão na próxima disputa eleitoral no Ceará, notadamente em Fortaleza. Aqui, o tamanho do PT continuará o mesmo, com ou sem o governador Camilo Santana nos seus quadros, assim como parece não haver alteração na determinação da direção nacional do partido de desenvolver todos os esforços para fazer da deputada federal Luizianne Lins uma candidata competitiva para dificultar a eleição do candidato apoiado por Ciro Gomes, hoje, um dos mais aguerridos adversários de Lula e de seus seguidores.

Parte dos últimos discursos de Lula, após sua saída do cárcere, podem não ter sido dirigidos ao governador Camilo Santana, um dos defensores, desde o tempo do Mensalão, da necessidade de o PT fazer uma autocrítica, mas alcançou o governador. Lula criticou os defensores dessa ideia, como se ele e outros líderes da agremiação fossem infalíveis. A posição do governador, por certo, tem seguidores no partido. As próprias condenações de Lula, de tesoureiros do PT e de outros filiados confirmam que houve desvios e maculada ficou a imagem da sigla.

A decisão recente dos desembargadores da 8ª turma do Tribunal Regional Federal 4 (TRF-4), confirmando a segunda condenação criminal do ex-presidente Lula, por ações delituosas perpetradas no espaço da Lava Jato, além de inibir o seu discurso de perseguição, arrefece o entusiasmo dos petistas que, crentes de que a decisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), no caso da não prisão de condenados em segunda instância, seria a carta de alforria para o ex-presidente ser o principal ator petista da próxima campanha eleitoral. Lula, agora, não será preso como foi em abril do ano passado, após ter sido condenado pela primeira vez, quando o entendimento sobre o recolhimento de condenado em segunda instância era outro.

Mas o seu discurso, depois desse novo revés, insistindo em inocência, não sensibilizará sequer parte de seus adeptos. O ex-juiz Sergio Moro, a quem acusava de persegui-lo, por tê-lo condenado em duas ações criminais (o caso do triplex em Guarujá e o do sítio de Atibaia) é, agora, a figura menos importante na cadeia de magistrados que julgou seus processos. No primeiro caso, o do triplex, além dos três desembargadores que examinaram o seu recurso, mantendo a condenação de Moro, também ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ), decidindo sobre novo recurso, no caso contra a decisão dos integrantes do TRF-4, mantiveram a condenação, embora reduzindo a pena.

Desta vez, com um desembargador novo na turma do TRF-4, a pena imposta a Lula, por Moro, foi aumentada em cinco anos, saindo de 12 como decidiu Moro, para 17 anos de reclusão, começando em regime fechado. Os ministros do STJ, por certo, só irão tratar do recurso, que obviamente será apresentado contra o veredito dos desembargadores, em 2021, com Lula correndo o risco de voltar a ser preso em razão da movimentação existente no Congresso Nacional para mudar o sentido do trânsito em julgado, hoje entendido só acontecer após a última decisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal.

Ora, se desembargadores e ministros confirmam condenações, não há que se falar em perseguição de juiz de primeiro grau. Os recursos judiciais existem realmente para corrigir falhas processuais ou a aplicação indevida das leis no caso concreto. Só a síndrome da perseguição ou a má fé do discurso político, no sentir de pessoas um pouco esclarecidas, são possíveis fazer alguém atribuir esse desiderato a integrantes de três instâncias do Judiciário brasileiro para atingir uma figura pública nacional.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre o assunto: