Marcos Farias (ao centro) é membro da Igreja Universal e chefe de gabinete do vereador Carlos Dutra (primeiro à esquerda). Foto: Reprodução/Facebook.

A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), através de seus representantes políticos, Ronaldo Martins (PRB) e Carlos Dutra (PDT), conseguiu eleger os dois conselheiros tutelares mais bem votados de Fortaleza, no pleito do domingo passado (06). Quase 140 mil pessoas compareceram às urnas para votar e eleger os 40 nomes que atuarão na defesa da criança e do adolescente pelos próximos quatro anos na Capital.

Além de mais um ano de total desorganização da eleição, alguns conselheiros reclamaram da participação cada vez mais crescente da IURD na disputa para os cargos, não só em Fortaleza, mas em outros lugares do País.

A participação da Igreja Universal na disputa deste ano foi o que chamou a atenção dos especialistas no assunto. No entanto, seguiu-se mais uma vez, o envolvimento de parlamentares, entre deputados e vereadores, que ajudaram a eleger seus apadrinhados.

O vereador Emanuel Acrízio (PRP) foi responsável pela eleição de Elvira Evangelista, que ficou na quarta posição entre os 40 conselheiros eleitos na disputa de domingo passado. Adriel Teixeira, sexta colocada, tem ligações com o vereador licenciado Elpídio Nogueira. Na sétima posição foi eleito Loiola Rodrigues, apoiado pelo vereador Márcio Cruz (PSD).

Fátima Silva foi apadrinhada por José Freire (PDT) e Fatinha é ligada ao vereador Marcelo Lemos, do PSL. Didi Mangueira (PDT) apoiou o nome de Gilvanda Moreira, que também foi eleita.

A vereadora Lucimar Vieira Martins, a “Bá”, apoiou o nome de Kátia Vieira, que também foi eleita conselheira tutelar. Já Wescle Sacramento, o quinto mais bem votado, recebeu o apoio da ex-vereadora Eliana Gomes (PCdoB), de quem já foi assessor parlamentar.

Para se ter uma ideia da representatividade do pleito para conselheiro, os três primeiros mais bem votados, por exemplo, obtiveram mais sufrágios do que o vereador eleito por Fortaleza em 2016, Dummar Ribeiro (Cidadania).

Enquanto Dummar foi eleito vereador da quinta maior cidade do País com apenas 3.115 votos, sendo votado em todos os colégios eleitorais da cidade, Irene Lima, que contou com o apoio do ex-deputado federal Ronaldo Martins, foi eleita conselheira com 3.467 sufrágios.

Marcos Farias, que é chefe de gabinete do vereador Carlos Dutra, também ligado à Igreja Universal, obteve 3.199 votos. Já Andresa Kuki tem ligação com parlamentares de esquerda e foi eleita com 3.144 votos.

Lista com os nomes dos dez conselheiros mais bem votados de Fortaleza.

Na atual legislatura, dos 43 vereadores que atuam na Câmara Municipal de Fortaleza, somente Emanuel Acrízio assumiu a função parlamentar sendo oriundo do Conselho Tutelar. Mairton Félix (PDT) também já atual como suplente de conselheiro tutelar, mas isso já faz algum tempo.

Os ex-vereadores Eulógio Neto e Leonelzinho Alencar também foram parlamentares que surgiram dos trabalhos junto às crianças e adolescentes de Fortaleza. Acrízio informou ao Blog do Edison Silva que o processo eleitoral para escolha de conselheiros tutelares sempre tem dificuldades. Segundo ele, geralmente, aqueles que não se consagram vitoriosos reclamam de todo o pleito. No entanto, ele reconheceu que os locais de votação ainda são de difícil acesso para maioria dos eleitores, e por não ser obrigatório, há maior participação daqueles grupos que têm interesse em eleger alguém que o represente. “Foi muito desorganizado”, constatou.

Radicalizar

Ex-conselheiro tutelar e atualmente vereador, Acrízio afirmou que nos últimos anos têm aumentado a participação de representantes das igrejas na disputa para o Conselho Tutelar, afirmando desconhecer qual interesse de lideranças religiosas neste tipo de atividade.

“Eu não sei do interesse deles. Espero que não queiram radicalizar, porque os conselheiros são escolhidos para cuidarem de nossas crianças e adolescentes”, disse.

Na última eleição para Conselho Tutelar, a Igreja Universal conseguiu eleger um nome, com mais de  5 mil votos. Dessa vez, elegeu dois, dividindo os votos entre o primeiro e o segundo conselheiro eleito mais bem votado.

Emanuel Acrízio, porém, defende a participação de vereadores no processo, porque, segundo ele, é o vereador quem recebe e conhece o dia a dia da população mais carente da cidade. “Nós atuamos como verdadeiros ouvidores da população. Quem é vereador de bairro recebe todos os dias o povo em sua casa”, conta.

Ele destacou, ainda, que a participação de mais religiosos na disputa pelo comando dos conselhos tutelares tem relação com o novo momento pelo qual o País passa. “Isso é reflexo do Governo Bolsonaro. Ele tem uma ligação muito próxima com as igrejas”, disse.

Em defesa dos nomes de religiosos nos conselhos tutelares de Fortaleza, Elpídio Nogueira, que apoiou Adriely Teixeira, afirmou que as igrejas fazem parte da sociedade civil organizada e têm o direito de indicar seus nomes para qualquer disputa. “Isso faz parte da Democracia. Quer dizer que quando é de um lado pode, e quando é do outro, não?”, questionou.

Por ser uma função que atua diariamente na busca de superação de conflitos nas comunidades, o Conselho Tutelar é um dos últimos passos antes da vereança. Muitos, inclusive, após o progresso em suas atividades tentam disputa uma das 43 vagas na Câmara Municipal de Fortaleza.

O que fazem?

O Conselho Tutelar acompanha o dia a dia de crianças e adolescentes, buscando fazer cumprir seus direitos e deveres. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), para ser conselheiro, em geral, o candidato deve ter mais de 21 anos, residir no município e possuir reconhecida capacidade moral.

Aqui a lista completa dos candidatos a conselheiro tutelar de Fortaleza 2019.