Plenário da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. Foto: Blog do Edison Silva.

Se até a Legislatura passada o governador Camilo Santana tinha que se preocupar em dirimir embates entre aliados que disputavam mesmo território eleitoral em municípios cearenses, na atual ele enfrenta um problema a mais: as intrigas por questões ideológicas na sua base governista na Assembleia. Não foram raras as vezes em que conservadores e progressistas, alinhados com o chefe do Executivo, protagonizaram confrontos na tribuna do Plenário 13 de Maio desde o início do atual período legislativo.

Com o advento de parlamentares da chamada “bancada religiosa“, as pautas conservadoras também avançaram, o que causou certo desconforto entre aqueles com viés ideológico dito mais progressista. A menor participação da oposição apontando falhas da gestão também fez com que os embates se centrassem, muitas das vezes, em discussões sobre costumes e comportamento.

O Governo, claro, para não se estremecer com nenhuma das partes, prefere não se envolver diretamente nas pautas levantadas por seus aliados. Recentemente, a discussão sobre inserir a Marcha Pela Diversidade Sexual no Calendário Oficial do Estado escancarou o desconforto entre os dois grupos. O deputado Elmano de Freitas, do PT, chegou a chamar de “safadeza” a atitude do também governista Apóstolo Luiz Henrique (PP) que criticou o projeto de autoria do petista.

O presidente da Assembleia Legislativa, José Sarto (PDT), também visando evitar ser mal interpretado ao pautar a matéria, colocou para discussão, no mesmo dia, votação da concessão do titulo de cidadã cearense para a ministra Damares Alves, que tem posicionamento forte em defesa de temas mais conservadores.

Também recentemente, uma discussão sobre uma suposta cartilha que ensinaria sexualidade para crianças e adolescentes da rede pública de ensino de Fortaleza colocou aliados progressistas e conservadores em disputa. Ainda na semana passada, Apóstolo Luiz Henrique (PP) cobrou do presidente da comissão de Educação da Assembleia, o pedetista Queiroz Filho, da ala mais moderada na Casa, que requerimentos de sua autoria, solicitando audiência com as secretarias de Educação do Estado e de Fortaleza, para elas responderem sobre as supostas cartilhas.

A deputada Dra. Silvana (PL), até então principal representante da bancada religiosa na Casa, vez por outra tem embates acalorados com membros de partido de esquerda, como Renato Roseno (PSOL) e Elmano de Freitas. Geralmente, as discussões se limitam a chamada “ideologia de gênero“, feminismo e assuntos relacionados a costumes em geral.

O interesse do Governo Estadual nas Escolas Cívico-Militares, o projeto Escola Sem Partido, nome social para pessoas trans e o título de cidadania para o presidente do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, foram outros temas que geraram bastante atrito entre aliados do governador Camilo Santana. Essas desavenças, por questões religiosas e ideológicas, podem em, um momento futuro, fazer com que a própria base se posicione contrário à proposta oriunda do Executivo como já ocorreu no início da legislatura passada.

“Sempre tive meu mandato pautado em questões ideológicas, acho até que os progressistas se esconderam muito de suas convicções devido o governo, na sua maioria, ser de esquerda”, disse a deputada Dra. Silvana. “Acredito que se formos pontuar tais embates, os conservadores saíram ganhando. Viva os conservadores”, disse.

Já o petista Acrísio Sena ressaltou que a falta de temas mais relevantes fazem com que parlamentares, mesmo aqueles da base governista, centrem seus discursos em temas de interesse de seu público-alvo. No caso dos conservadores, nos assuntos de costumes, por exemplo.

Disputas paroquiais

Para além desses embates de teor mais ideológico, Camilo Santana terá que contornar também as já tradicionais disputas paroquiais, onde temas de interesse local são levados para a tribuna da Casa. Muitos governistas sequer se falam entre si visto as divergências municipais. Há casos relatados, inclusive, de embates de mais de duas horas entre parlamentares da base, na comissão de Constituição e Justiça, sobre a paternidade do nome de uma Areninha (campo de futebol).

No Plenário 13 de Maio foram inúmeras as vezes que governistas se digladiaram por conta de intrigas em seus municípios. Muitas das vezes o púlpito é utilizado para que parlamentares mandem recado para desafetos em suas bases eleitorais.

Com a aproximação das eleições municipais, no ano que vem, se tornará cada vez mais comum temas relacionados a determinados municípios serem os principais assuntos levados por deputados da Casa. O presidente do Legislativo não tem o costumo de policiar seus pares sobre seus pronunciamentos, o que fará com que as disputas por prefeituras no Estado sejam reverberadas no Plenário 13 de Maio.

Interesses

A  base governista de Camilo Santana é formada por 39 dos 45 deputados que compõem a Assembleia Legislativa do Ceará. Muitos são, entre si, adversários políticos em suas regiões. Outros, aos poucos, vão se afastando por interesses religiosos e ideológicos.