A cachaça é uma bebida vista com frequência em bares e restaurantes pelo Brasil. Foto: Agência Brasil.

A cachaça está presente de várias formas no vocabulário e na história do Brasil. Além de cachaça, esta bebida pode ser chamada de “branquinha”, “bendita”, “pinga”, “caninha”, etc. Mesmo com espaço para crescimento, sua produção vem se mantendo estável nos últimos anos. No Dia Nacional da Cachaça, celebrado nesta sexta-feira (13), o setor ainda busca o reconhecimento e a valorização da cachaça como produto típico e símbolo nacional.

Mercado

A capacidade instalada de produção de cachaça atinge 1,2 bilhão de litros no país, enquanto a produção efetiva fica em torno de 700 milhões a 800 milhões por ano. Apenas 1% do que é produzido é exportado. Em 2018, a cachaça gerou receita de US$ 15,61 milhões (8,4 milhões de litros) em exportações. O estado do Ceará conta, atualmente, segundo dados do Ministério da Agricultura, com 105 produtores, sendo 47 destes no município de Viçosa do Ceará, e destes US$ 15,61 milhões de lucros, 5,17% em valores foram advindos das produções locais. Já dos 8,4 milhões de litros exportados, 2,38% vieram do Ceará. Além disso, a bebida é exportada para mais de 60 países.

São mais de 6,3 mil marcas registradas, entre cachaça e aguardente, no setor que gera cerca de 600 mil empregos diretos e indiretos. Carlos Lima destaca também a cadeia por trás da cachaça, de geração de renda e fixação do homem no campo, e avalia que, apesar do grande mercado da cachaça estar dentro do país, o volume exportado está aquém do potencial. Entretanto, os investimentos no setor esbarram na alta carga tributária, que chega a 82% para a cachaça. Segundo Carlos Lima, diretor-executivo do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), a inclusão de pequenas empresas do setor no Simples Nacional, regime tributário simplificado, em 2016, deu um alento, mas grande parcela do volume de produção ainda está sujeito a uma carga tributária elevada.

No ano passado, o instituto lançou um manifesto reivindicando políticas públicas que ajudem o mercado a crescer. Entre elas, o combate à clandestinidade e à informalidade, superior a 85%, segundo o setor, a reavaliação da carga tributária sobre a bebida e a ampliação dos esforços de promoção e de proteção do produto.

Nesse último ponto, este ano a cachaça ganhou o reconhecimento e proteção da Indicação Geográfica da cachaça pela União Europeia, com a assinatura do acordo entre Mercosul e a União Europeia. As reduções de tarifas também tendem a facilitar os negócios com esse competitivo mercado. Até então, apenas quatro países protegiam a denominação da cachaça: Colômbia, Estados Unidos, México e Chile.

De acordo com Lima, mais importante que o ganho monetário, é a proteção intangível desse ativo que é a cachaça. “Ter a União Europeia reconhecendo a cachaça é como se mandasse uma mensagem do local onde é o berço das indicações geográficas, que existem as mais emblemáticas, como champagnescotch whisky, produtos alimentícios como parma. E eles reconhecem a cachaça, isso é extremamente importante. A indicação geográfica tem o papel de evitar o uso indevido da denominação por terceiros, por produtos que não são originários do Brasil”, analisou Lima.

Desafios

Para Carlos Lima, a bebida ainda é uma grande desconhecida da população. “O brasileiro ainda não conhece a versatilidade, a riqueza que existe por trás da bebida. Ainda existe aquela marginalização da cachaça e um grande preconceito. As pessoas ainda preferem beber outros tipos de bebida porque acham que dá mais glamour do que beber uma bebida de qualidade, que é um produto exclusivo do Brasil”, disse.

De acordo com Lima, é um desafio de toda a cadeia produtiva promover a cachaça para o público, inclusive bares e restaurantes. “Muitas vezes, a pessoa que está fazendo o serviço, que está oferecendo o produto, ela mesma não conhece essa riqueza e versatilidade ou já parte do princípio que o consumidor não vai consumir uma cachaça e acaba oferecendo outros tipos de bebida”, explicou o diretor.

O diretor do Ibrac, entretanto, destaca que já existem estabelecimentos e confrarias de consumidores que desempenham um papel importante de elevar o status da cachaça, assim como eventos gastronômicos. “A caipirinha tem um papel extremamente importante de difundir a cachaça, só que hoje é algo muito além. A bebida vem sendo consumida pura e de outras formas, inclusive na criação de novos drinks e em drinks tradicionais substituindo outros destilados. A gente vem observando nos últimos anos essa mudança de consumo”, observou Lima.

O desenvolvimento de novos produtos pelas empresas e o trabalho da academia na inovação e correção de processos de produção também são lembrados por Carlos no trabalho de valorização da cadeia. “Mas, apesar de ser um produto produzido de norte a sul, ainda não existe uma rede nacional de tecnologia da cachaça e que seria importante para o auxílio ao micro e pequeno produtor”, ressalta.

“Mapa da Cachaça”

Januzzi percorre o Brasil à procura de histórias e curiosidades sobre a cachaça. Foto: Reprodução/Rede Social.

Para divulgar a cultura e a história que envolve esse destilado, Felipe Jannuzzi e alguns colegas criaram, em 2010, o Mapa da Cachaçasite este que disponibiliza guias, receitas e artigos sobre a bebida. Formado em comunicação social, Felipe viaja pelo Brasil, conhecendo alambiques e pesquisando os aromas e sabores da cachaça.

Ele explicou que o objetivo é inserir a cachaça na internet como patrimônio dos brasileiros e que a equipe está lançando agora a versão do site em inglês. “Conheci gente incrível. É uma bebida que tem uma grande diversidade de sabores. A cachaça produzida em Paraty é diferente da produzida na Serra Gaúcha, por exemplo. Eu fui aprendendo com o tempo, então o que começou como projeto cultural, acabou virando também um projeto sensorial do Brasil”, disse.

De acordo com Jannuzzi, a paleta de sabores da cachaça se dá pela diversidade de madeiras utilizadas no seu envelhecimento. Ele explicou que a bebida pode ser tomada branca depois da destilação ou passar por madeiras. “O mundo inteiro faz isso com carvalho, uma madeira do hemisfério norte. A cachaça pode passar pelo carvalho, mas passa também por mais de 30 madeiras brasileiras. Isso está muito ligado à acessibilidade dessa madeira nos locais de produção”, explicou.

História

Os primórdios da cachaça no Brasil surgiram quando os índios produziam uma bebida chamada de “Cauim”, no qual todos os indígenas cuspiam num caldeirão de barro para ajudar na fermentação do milho. Os senhores de engenho passam a servir o tal caldo, denominado “cagaça”, para os escravos. Daí é um pulo para destilar a Cagaça, nascendo aí a cachaça.

Do século XVI até metade do século XVII, as “casas de cozer méis”, como está registrado, se multiplicam nos engenhos. A cachaça se torna importante e vira moeda corrente para compra de escravos na África. Alguns engenhos passam a dividir a atenção entre o açúcar e a bebida. Além disso, a cachaça esteve presente em momentos como a Inconfidência Mineira e durante a escravidão e também está na música e na culinária brasileiras.

Para agraciar a importância desta iguaria, o Dia Nacional da Cachaça foi criado em 2009 pelo Ibrac em homenagem à data em que a bebida passou a ser oficialmente liberada pela Coroa Portuguesa para fabricação e venda no Brasil: 13 de setembro de 1661. A rebelião ocorrida no Rio de Janeiro à época, conhecida como a Revolta da Cachaça, levou à legalização da bebida, proibida até então.

Com informações da Agência Brasil.