Renato Roseno diz que não há como normalizar as declarações do presidente e cobra posicionamento da sociedade brasileira. Foto: Blog do Edison Silva

As diversas polêmicas criadas nas últimas semanas após declarações do presidente Bolsonaro viraram o principal assunto nesta quinta-feira (01) na Assembleia Legislativa, quando a Casa voltou aos trabalhos após um período de 13 dias de recesso parlamentar.

Logo no discurso de abertura da sessão, o presidente José Sarto (PDT) afirmou que a democracia tem como base o respeito às leis e se disse preocupado com atitudes e declarações que vão no sentido contrário. “Precisamos dar cada vez mais vida à liberdade democrática e garantir os direitos individuais e coletivos do povo cearense, garantindo o respeito à Constituição no que toca a pontos como o sigilo da fonte e a liberdade de imprensa, por exemplo”, disse, sem citar especificamente o nome do presidente da República.

Espiral de silêncio

As palavras mais duras contra o presidente da República foram proferidas pelo deputado estadual Renato Roseno (PSOL), durante pronunciamento no primeiro expediente. Segundo o parlamentar, a população se vê “perplexa”, diante das declarações do chefe do Executivo Nacional. “Durante o período, o presidente negou a tortura na época do regime militar, desdenhou da dor de um filho que perdeu o pai para a ditadura, além da falta de sensibilidade ao comentar a morte de 57 detentos em presídio no Pará e minimizou o trabalho infantil”, pontuou.

Em conversa com o blog, Roseno diz que não há como normalizar as declarações do presidente. “Nós não podemos normalizar ou diminuir a gravidade da situação. Nós temos que quebrar a espiral do silêncio e da normalização. Não é normal, nós não podemos silenciar diante de um chefe de estado que mente para seu povo, que não demonstra empatia aos mortos, mortos inclusive pelo próprio estado brasileiro conforme reconhecido pelo estado brasileiro durante o regime ditatorial, que nós não queremos que volte. Por isso, é necessário repudiar as declarações e garantir o direito à memória, à verdade e à Justiça”, afirmou.

O parlamentar cobrou que a sociedade não se cale diante do que ouve. “O que me escandaliza não é só Bolsonaro, é o silêncio de parcelas grandes daqueles que se dizem democratas na sociedade brasileira, é necessário um grande levante dos democratas na sociedade contra esse neo-fascismo no século XXI que se instala no Brasil. Nós precisamos ter a sensibilidade para a gravidade para o que está acontecendo nesse exato momento histórico”, concluiu.

Pelo posicionamento da sociedade

Para o deputado Dr. Carlos Felipe (PCdoB), o momento político em termos nacionais é bem tenso. “Nós vemos um ministro do Supremo dizer que o presidente precisava de uma mordaça. Nós vemos um presidente, de uma forma cruel, falando sobre o pai de um presidente da OAB, querendo atribuir uma morte aos seus companheiros. A forma, digamos, não digna que ele se dirigiu é uma agressão ao povo brasileiro. A forma como ele (Bolsonaro), ao longo de sua história, estimulou esse tipo de pensamento, a forma como se dirige às minorias, como fala que os índios em uma reserva são como bichos em um zoológico, isso tem levantado polêmicas nas mais diversas áreas. São várias classes atingidas, inclusive jornalistas. A forma como ele discute a liberdade de imprensa e o sigilo da fonte em um país democrático. Eu acho que nós estamos vivendo uma ameaça à democracia. É importante que a sociedade brasileira, como um todo, posicione-se com relação a isso”, cobrou, em conversa com o blog.

Outros pronunciamentos

Também durante o primeiro expediente desta quinta, outros parlamentares trataram do assunto. “É importante que as instituições sejam fortalecidas, amadurecidas para que o Brasil viva a plenitude da democracia, com ampla defesa, e a liberdade de imprensa. Tenho certeza que a Assembleia Legislativa não se furtará e exercerá seu papel para que os direitos e garantias continuem”, garantiu Romeu Aldigueri (PDT).

Apesar de criticar as falas de Jair Bolsonaro, o deputado Fernando Hugo (PP), que retornou hoje à Casa após uma licença médica, cobrou que haja união em prol do país. “Precisamos deixar de intervenções fadigais e buscar raciocínio racional e liberdade respeitosa. É preciso dar as mãos e não apenas criticar e ser contra ao Governo Federal”, enfatizou.

Delegado defende presidente

Último orador do primeiro expediente, Delegado Cavalcante (PSL) defendeu o governo Bolsonaro. “Ouvi muitas bravatas aqui, não sei se é gente sentida ou pessoas que querem macular ou atrapalhar o governo, que tem passado por situações porque não negociou com a política do toma lá, da cá”, argumentou.

O deputado citou que o governo Bolsonaro conseguiu reduzir a violência em 23% e que sua equipe de ministros é formada por técnicos. “Isso só reforça a seriedade do presidente. O Bolsonaro vai pro enfrentamento porque tem coragem, é digno, verdadeiro e tem moralizado o país. Ele pegou um país quebrado e hoje está conseguindo sobreviver e está crescendo pela moralização. Não admito determinadas situações que não venham trazer a verdade pra enganar ou a induzir o povo a um erro”, disse.

Cavalcante também rebateu a fala do deputado Renato Roseno, criticando quando o colega falou que o presidente representa o neo-fascismo. “Isso é política partidária pura, porque sabiam que iam perder a eleição. Estão querendo enganar o povo mas temos o exército da população de bem que não quer que o Brasil seja entregue às forças corruptas onde gente se enriqueceu se elegeu através das instituições. O Bolsonaro está combatendo isso, partidos políticos queriam transformar o Brasil uma ditadura”, refutou.

Em aparte, o deputado Fernando Hugo (PP) alegou que as falas do presidente Bolsonaro atrapalham a imagem do Governo Federal. “Se não fosse a falação do Bolsonaro, esse Governo teria um toque ótimo, porque ações públicas estão sendo realizadas. Já há fumaça branca dando esperança à economia, um conjunto de dados sobre diminuição da mortandade no País, um conjunto de propostas que nunca um governo teve coragem de fazer. Há uma vontade enorme do Governo. Infelizmente, o presidente tem, com sua verborragia, contribuído para a manutenção de um clima de disputas, estendendo o acirramento que vimos nas eleições. É preciso entender que as eleições acabaram e que o país precisa avançar. Estamos precisando de calma ou se para com esse acirramento, com tanta fala desnecessária ou então não teremos a paz econômica do país”, avaliou.