Plenário da Câmara dos Deputados. Foto: Agência Câmara.

É duro o editorial de ontem (8) do jornal O Estado de S. Paulo, intitulado “Quebrando louças”, sobre as últimas manifestações públicas do presidente da República, Jair Bolsonaro. O sentimento de alguns políticos cearenses, externado reservadamente, tem certa relação com o posicionamento do periódico paulista. Até mesmo no espaço das correntes políticas mais antagônicas ao presidente há uma certa tensão com as consequências negativas para a política e a economia nacionais que poderão gerar os seus pronunciamentos.

Se estratégia há, é a de deixar o País apreensivo a cada novo tuíte ou discurso presidencial, pois nunca se sabe o que virá. Bolsonaro parece imaginar que foi eleito para dizer o que lhe vem à cabeça, sem se importar com os estragos – e seus assessores que se esforcem para tentar reduzir os prejuízos decorrentes de seus excessos, assevera o editorial do Estadão.  As reações à publicação do vídeo do Carnaval, considerado pornográfico até por aliados do presidente, e a declaração de que “democracia e liberdade só existem quando as Forças Armadas assim o querem”, demonstram um certo agastamento com Bolsonaro, com possibilidade de refletir em ações desfavoráveis para todos os brasileiros.

Vai mal um país cujo presidente claramente não entende qual é seu papel, especialmente quando não consegue dominar os pensamentos que, talvez, lhe venham à mente. Como chefe de Estado, Bolsonaro tem a obrigação de saber que todas e cada uma de suas palavras nortearão o debate político nacional, seja no Congresso, seja nas ruas, e terão consequências também no delicado campo da economia. O presidente deve ter consciência de que não é mais candidato, condição que lhe permitia incorporar o personagem histriônico e falastrão que seus fanáticos seguidores apelidaram de “mito”. Deve entender que sua retórica truculenta e polarizadora pode ter sido muito útil para viabilizar sua candidatura presidencial, mas é péssima para agregar apoio político para um governo que começa sem base visível no Congresso, registra o Estadão.

Os políticos, mesmo falando sob reserva, são cautelosos quanto ao futuro do atual Governo. O País precisa de reformas para o soerguimento da sua economia e tornar realidade a perspectiva de melhoria para o seu povo. E eles também sabem que, se falharem as promessas de avanços feitas na campanha eleitoral por Bolsonaro, serão todos eles, e não somente o atual presidente,  responsabilizados pelo insucesso, aumentando mais ainda a repulsa do brasileiro pela classe política, se ainda há possibilidade de ela crescer.

Já não se aposta mais no início da discussão, na Câmara dos Deputados, da Reforma Previdenciária na próxima semana, com a instalação da Comissão de Constituição e Justiça daquela Casa do Congresso Nacional, embora admita o presidente daquela Casa, deputado Rodrigo Maia. Realmente, o atraso não tem relação direta com a intempestividade dos discursos do presidente. A classe política, apesar do desgaste que experimenta, não aceita ser escanteada, como está, e dar aval irrestrito aos projetos do Governo, mesmo que eles sejam reclamados pela sociedade. Ela quer ser parte ativa. E o presidente precisa ter a consciência de que o Executivo não é suberano. O Legislativo tem uma força imensurável, embora não tenha sido utilizada como foi idealizada pelos constituintes de 1988.