Consórcio Nordeste. Foto: Reprodução

Em entrevista ao Estadão no último dia 05, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) defendeu uma frente Sul-Sudeste ante os estados do Norte e do Nordeste. “Pela primeira vez, um dia antes da reforma tributária ser votada, nós convidamos todos os 256 deputados federais (metade da Câmara dos Deputados) do Sul e do Sudeste. Os do Norte e Nordeste estão muito na nossa frente”, disse Zema.

A fala do governador gerou bastante polêmica e o presidente do Consórcio Nordeste, João Azevedo, publicou uma nota no domingo (06/08) criticando as declarações dadas pelo governador de Minas Gerais e afirmando que a entrevista aprofunda a lógica de um país subalterno, dividido e desigual.

“Já passou da hora do Brasil enxergar o Nordeste como uma região capaz de ser parte ativa do alavancamento do crescimento econômico do país e, assim, contribuir ativamente com a redução das desigualdades regionais, econômicas e sociais”, defendeu João Azevedo.

Para o Consórcio Nordeste, indicar uma guerra entre regiões significa não apenas não compreender as desigualdades de um país de proporções continentais, mas, ao mesmo tempo, querer mantê-las, mantendo, com isso, a mesma forma de governança que caracterizou essas desigualdades.

Após a publicação da nota, Zema se manifestou através das redes sociais e afirmou que a União do Sul e Sudeste jamais será pra diminuir outras regiões. “Não é ser contra ninguém, e sim a favor de somar esforços. Diálogo e gestão são fundamentais pro país ter mais oportunidades. A distorção dos fatos provoca divisão, mas a força do Brasil tá no trabalho em união”, disse.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, saiu em defesa de Romeu Zema e disse que a criação de uma frente de Estados do Sul e Sudeste não tem nada a ver com frente dos estados contra estados ou região contra região. “Se trata de nós nos unirmos em torno do que é uma pauta comum do Sul e do Sudeste. A gente nunca achou que os estados do Norte e Nordeste haviam se unido contra os demais estados do país. Pelo contrário, a união desses estados em pauta que é de interesse comum deles serviu de inspiração para que a gente possa, finalmente, fazer o mesmo”, declarou.

Veja a íntegra da nota publicada pelo Consórcio Nordeste

NOTA OFICIAL

O governador de Minas Gerais, em entrevista publicada no jornal O Estado de São Paulo em 05 de agosto, demonstra uma leitura preocupante do Brasil. Ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste, indica um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste, sabidamente regiões que vem sendo penalizadas ao longo das últimas décadas dos projetos nacionais de desenvolvimento.

O Consórcio Nordeste, assim como o da Amazônia Legal, valendo-se da profunda identidade regional, cultural e histórica, foram criados com o objetivo de fortalecer essas regiões, unindo os estados em torno da cooperação e compartilhamento de melhores práticas e soluções de problemas comuns, buscando contribuir com o desenvolvimento sustentável e a mitigação de nossas desigualdades regionais.

Negando qualquer tipo de lampejo separatista, o Consórcio Nordeste imediatamente anuncia em seu slogan que é uma expressão de “O Brasil que cresce unido”. Enquanto Norte e Nordeste apostam no fortalecimento do projeto de um Brasil democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução, a referida entrevista parece aprofundar a lógica de um país subalterno, dividido e desigual.

Já passou da hora do Brasil enxergar o Nordeste como uma região capaz de ser parte ativa do alavancamento do crescimento econômico do país e, assim, contribuir ativamente com a redução das desigualdades regionais, econômicas e sociais.

É importante reafirmar que a união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento.

Nesse contexto, indicar uma guerra entre regiões significa não apenas não compreender as desigualdades de um país de proporções continentais, mas, ao mesmo tempo, sugere querer mantê-las, mantendo, com isso, a mesma forma de governança que caracterizou essas desigualdades.

A união dos estados do Sul e Sudeste num Consórcio interfederativo pode representar um avanço na consolidação de um novo arranjo federativo no país. Esse avanço, porém, só vai se dar na medida em que todos apostarmos num Brasil que combate suas desigualdades, respeita as diversidades, aposta na sustentabilidade e acredita no seu povo.

Assim, nós, governadoras e governadores da Região Nordeste, além de defendermos um Brasil cada vez mais forte e próspero, apelamos pela união nacional em torno da reconstituição de áreas estratégicas para o nosso país, a exemplo da economia, segurança pública, educação, saúde e infraestrutura.

Nordeste do Brasil, 06 de agosto de 2023.

JOÃO AZEVÊDO
Presidente do Consórcio Nordeste
Governador do Estado da Paraíba