Presidente concedeu coletiva ao final da cúpula, em Bruxelas. Foto: Reprodução/ Ricardo Stuckert/ PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliou como ”extremamente exitosas” as reuniões entre lideranças latino americanas e europeias, ocorridas esta semana durante a 3ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE), em Bruxelas, na Bélgica.

”De todas as que participei com a União Europeia, esta foi a mais exitosa”, disse o presidente ao ressaltar o interesse de dimensão inédita do bloco europeu em estabelecer parcerias com os países da América Latina.

”O fato de ter a participação de 60 países demonstrou de forma inequívoca o interesse da Europa de voltar seus olhos para a América Latina. Poucas vezes vi tanto interesse político e econômico dos países da União Europeia para com a América Latina. Possivelmente pela disputa dos EUA e China; possivelmente pelos investimento da China na África e na América Latina; possivelmente pela nova rota da seda; possivelmente pela guerra [entre Rússia e Ucrânia]”, disse o presidente em coletiva de imprensa, pouco antes de embarcar de volta ao Brasil, com escala em Cabo Verde.

Segundo Lula, o ”dado concreto” é que a UE demonstrou ”muito” interesse em voltar a fazer investimentos, a ponto de anunciar € 45 bilhões em investimentos no continente. ”E, em documento, eles reafirmam intenção em ajudar a financiar os US$ 100 bilhões para se combater o desmatamento nas florestas”, acrescentou.

O presidente brasileiro destacou que, durante as conversas, ficou claro que o Brasil vive um outro momento e que está voltando a fazer política internacional, “voltando a ocupar seu papel de protagonista”.

”E quando se trata da questão da bioeconomia e da mudança na matriz energética, o Brasil é imbatível e levado muito a sério. Não vamos jogar fora essa oportunidade. A parte do mundo que pode produzir o hidrogênio verde que a Europa precisa é exatamente a nossa querida América do Sul. Saio daqui feliz porque conseguimos um intento muito grande, que foi restabelecer de forma madura as negociações com a União Europeia”, disse Lula.

Mercosul-UE

Sobre o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), Lula afirmou que há interesse, por parte do bloco, de um eventual processo de reindustrialização, mas com “exigência”.

“Nossa exigência é a de sermos exportadores de manufaturados e coisas com mais valor agregado, de modo a gerar mais empregos qualificados. Por isso, não abrimos mão das compras governamentais, que são instrumento de desenvolvimento interno adotado por países como EUA e países europeus”, acrescentou ao lembrar que, em governos anteriores, essa estratégia acabou por favorecer a indústria naval brasileira.

O presidente defendeu que algo parecido seja feito com a indústria da saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). ”Não há país com mais de 100 milhões de habitantes que tenha um programa de saúde universal como o SUS. Portanto, temos de aproveitar um programa dessa magnitude e o potencial de compra que tem o SUS para desenvolvermos internamente no Brasil uma indústria da saúde”, argumentou.

Lula reiterou críticas às condições do bloco europeu para uma aproximação com o Mercosul citando a carta adicional apresentada pela UE no final de junho, na Cúpula para Novo Pacto Financeiro Global, em Paris, na França: ”Foi uma carta agressiva, que nos ameaçava com punições, caso não cumpríssemos determinados requisitos ambientais. A gente respondeu que dois parceiros estratégicos não discutem com ameaças, mas com propostas”.

Segundo o presidente, o Brasil preparou um texto base com uma resposta, que será discutido com os demais países do bloco sul-americano.

Lula avalia que a UE “vai concordar tranquilamente” com a resposta do Mercosul e disse que o texto da carta adicional “possivelmente foi feito por alguém achando que, fazendo pressão, iríamos ceder”.

”Mas não vamos ceder porque, primeiro, pouca gente no mundo pode falar [mais] de energia limpa limpa ou preservação do que a gente. Temos um compromisso histórico e de campanha, de que vamos, até 2030, acabar com o desmatamento na Amazônia. Esse é um compromisso nosso, do governo brasileiro”, acrescentou ao cobrar que as outras partes atuem para cumprir o compromisso de doar os US$ 100 bilhões para a manutenção das florestas.

Fonte: Agência Brasil