Sarto e Elmano, que nunca foram tão próximos no parlamento, se distanciaram ainda mais após as eleições de 2022. Foto: ALCE

A crise na saúde pública de Fortaleza e do Ceará tem gerado debates na Câmara Municipal da Capital cearense e na Assembleia Legislativa. De um lado, parlamentares aliados do prefeito Sarto e opositores do governador Elmano que apontam a gestão do Governo do Estado como culpada pela situação atual, do outro, governistas e oposicionistas da Prefeitura que culpam o gestor do Município como responsável direto da crise.

Recentemente, como mostrado no Blog do Edison Silva, o governador Elmano de Freitas chegou a dizer que o fechamento de unidades de Saúde na Capital corroborou para a superlotação na rede estadual. Já o prefeito Sarto respondeu dizendo que caso o chefe do Poder Estadual queira resolver o problema, ele o fará, lembrando ainda que a metade dos atendimentos em hospitais da rede municipal, como o IJF, é feita para cearenses de outras cidades do Ceará.

O clima de animosidade entre os principais representantes do Executivo no Estado, resquícios do pleito eleitoral do ano passado, tem repercutido nas casas legislativas, onde alguns deputados tentam buscar solução para o problema, mas ao mesmo tempo preferem apontar dedo para eventuais responsáveis. E nesta semana não foi diferente durante os pronunciamentos na Assembleia Legislativa do Ceará.

Na sessão plenária de quinta-feira (27), o  deputado Cláudio Pinho (PDT) cobrou celeridade na melhoria do serviço de saúde pública do Estado, e disse que a saúde no Ceará “está agonizando”, enquanto que o Governo do Estado, do qual ele é opositor,  estaria atribuindo a culpa ao prefeito Sarto.

Há dois anos, quando tínhamos os problemas de saúde, era fácil dizer que o problema era o presidente Bolsonaro. Agora não podemos dizer a mesma coisa, pois o presidente é aliado. E aí sobrou para Sarto, que, mesmo com muitos o aconselhando a trancar as portas do IJF para não atender mais pacientes do Interior, afirmou que jamais faria isso pois a saúde pública precisa estar a serviço de todos”, pontuou.

Ele reproduziu falas do prefeito Sarto e defendeu união entre os dois para resolver os problemas da Saúde do Ceará. “Se o Elmano quer resolver esse problema, vamos nos unir e ver o que é possível fazer. Se Fortaleza precisa contribuir ainda mais e ver como o Estado pode dar sua parcela, pois enquanto acusam a Capital de fechar suas portas, a realidade é que ela investe praticamente sozinha na traumatologia e oncologia do IJF”.

Postura

Ainda de acordo com ele, os secretários de saúde precisam sentar e pensar juntos uma estratégia, nas emendou acusando a gestão do Hospital Albert Sabin, que é estadual, de estar tratando os fortalezenses como “um não cearense”.

Alinhado com bolsonaristas da Casa, Felipe Mota (UB) disse que a postura do Estado em culpar a Prefeitura de Fortaleza pela situação crítica da saúde pública não colabora para a solução do problema. “Só quem sofre com isso é o cearense. Por que esses secretários não se reúnem e pensam soluções para isso? Não queremos saber quem está errado, queremos que resolvam o problema”.

Narrativas

O governista Jeová Mota (PDT), ainda em tom de confronto, afirmou que no Hospital Albert Sabin, entre janeiro e março deste ano, dos 4.984 atendimentos, 3.934 pessoas eram de Fortaleza. “Quero lembrar ainda que foram investidos R$ 24 milhões na construção do IJF 2, no âmbito da iniciativa Juntos por Fortaleza. E, além do IJF, a Sesa investe R$ 487 milhões por ano na política de incentivo hospitalar, beneficiando outros 145 hospitais polos, estratégicos e de pequeno porte em todas as regiões cearenses, o que ajuda a diminuir a pressão assistencial no IJF”, frisou.

As narrativas e críticas de ambos os lados se seguiram com outros pronunciamentos, e no fim das contas, nenhum parlamentar chegou a um consenso de como a situação poderá ser melhorada, visto que, pelo menos a priori, Elmano de Freitas e José Sarto não sinalizam uma proximidade e seus liderados manterão suas argumentações.