bolsonaro e ciro

Jair Messias Bolsonaro ao lado de Ciro Gomes em debate / Foto: Estadão Conteúdo

Ciro Gomes e Jair Bolsonaro, por razões diferentes, estão fora do Brasil desde o fim do ano passado. Em comum, eles amargaram a derrota na disputa presidencial do ano passado para o presidente Lula. Bolsonaro deixou o Brasil na véspera da posse de Lula, com a alegação de não querer passar a faixa presidencial para o novo presidente, e Ciro, preferiu dar um tempo e buscou um refúgio acadêmico em Boston, na companhia do professor Mangabeira Unger. No exílio, Bolsonaro sentiu perder forças por conta do surgimento de fatos desagradáveis e até de aniquilamento da imagem que procurou passar para os brasileiros, de um governante sério. O caso das joias recebidas como presentes no exterior e chegadas ao Brasil de forma suspeita, ao que parece, parcialmente nocauteou o ex-presidente.

Mas o PL, seu partido, quer fazer uma grande festa para comemorar o seu retorno nesta quinta-feira (30). Indiscutivelmente, Bolsonaro está voltando menor, mas não desprezado pela maioria dos seus admiradores. Ele, antes das primeiras manifestações públicas de Ciro, será, evidente, o principal adversário do presidente Lula, não em relação à próxima sucessão presidencial, mas no dia a dia da gestão do petista, ainda, lamentavelmente, muito distante daquilo que esperavam dele e de que precisa o País para gerar expectativa de melhora para a nossa população. O Governo Lula, mesmo sem oposição nestes três primeiros meses, tem deixado muito a desejar. A emblemática data dos 100 dias lhe dará muitos dissabores.

Não vai demorar para Ciro Gomes ser o destaque da oposição ao Governo Federal. Ciro tem o desgaste natural do político longínquo com o discurso até certo ponto virulento, o que não lhe tira credibilidade para apontar os erros do atual Governo, diferente do ex-presidente Bolsonaro. Com a experiência de dois mandatos presidenciais, iniciados em janeiro de 2003, e a vivência política de todos esses anos, o Governo Lula tem decepcionado. E não venham dizer que ele está sendo atropelado pelo Congresso Nacional, pois com este ele parcialmente já está acertado. Pessoas mais experientes e próximas do PT, dizem que Lula está patinando por não poder contar, por várias razões, com pessoas que o ajudaram a fazer o primeiro Governo, dentre elas o José Dirceu, um dos que mais sofreram condenações, também pelos mal feitos do PT.

Só pela inação do Governo Federal, os discursos de Bolsonaro e de Ciro, nos seus respectivos viés, abalarão as estruturas do petista, cujos defensores estão circunscritos ao seu partido, hoje muito pobre de nomes representativos. Os aliados, fora do PT, ainda não parecem estar devidamente estimulados a defenderem-no. Enquanto Bolsonaro pode explorar o lado ideológico da gestão federal, no que teria o aplauso de toda os seus liderados e outros da direita não bolsonarista, Ciro pode atacar o empobrecimento da população, a política externa ainda atabalhoada, e a falta de definição de uma política econômica que alivie a tensão do setor e dê esperança aos que precisam de um emprego para a própria sobrevivência, animando a outra parte que nunca aplaudiu o PT e seus filiados.