Camilo Santana em reunião com lideranças partidárias. Foto: Divulgação.

Esperteza, quando é muita, vira bicho e come o dono“. Este provérbio português foi muito utilizado no Brasil por políticos mineiros, a partir de Tancredo Neves, Aureliano Chaves e outros, embora alguns trocassem a palavra “esperteza” por “sabedoria”. O ex-governador Camilo Santana, na tentativa de querer ser o padrinho do candidato da aliança que o elegeu e reelegeu, acabou sendo engolido.

E, por isso, terá de fazer o que nada fez para ser bem sucedido nas quatro últimas eleições: montar o seu próprio palanque. Para ser eleito duas vezes deputado estadual  beneficiou-se das secretarias de Desenvolvimento Agrário e das Cidades, nos governos de Cid Gomes, e para ser governador o Cid encarregou-se de montar e conduzir o palanque.

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, delegou a ele (Camilo) e ao deputado federal José Guimarães, a condução do processo de formação da chapa majoritária do partido para disputar o Governo do Estado, dando como efetivado o rompimento da aliança de mais de uma década, responsável pela vitória de quatro eleições para o Governo do Ceará.

O rompimento, de que falamos em comentário recente, ultrapassou fronteiras e, óbvio, pela amplitude do esgarçamento registrado, cada um tem que seguir o seu destino solo. E Camilo, a quem os petistas, em sua ampla maioria, têm como líder, não terá outra saída senão a de assumir o comando, inclusive, para evitar embaraços à sua própria campanha ao Senado. Evidente que o ex-governador não é mais aquele neófito que perdeu duas eleições consecutivas, em 2000 e 2004 para prefeito de Barbalha. Conduzir um palanque majoritário estadual, principalmente em eleição muito disputada, é missão para profissional.

Para o Ceará, no nosso sentir, ter mais um candidato competitivo para o Governo do Estado, acaba sendo bom. A campanha pode permitir a ampliação do debate político necessário para que o eleitor conheça os candidatos, e estes possam ser mais claros na explanação de suas ideias para os mais variados problemas do Estado. E se os cearenses ganham, Camilo não foi vítima de “esperteza” ou “sabedoria”, ao contrário. Todavia, Camilo não queria um terceiro candidato, sua pretensão era forçar, como já registramos anteriormente, que os líderes do PDT indicassem a governador Izolda Cela como a candidata do partido. Esqueceu ou não aprendeu que esses pedetistas são politicamente inteligentes, perspicazes, e mais ainda, pragmáticos. Camilo não poderia ser o condutor da sucessão de Izolda, claro, ele é do PT e ela do PDT.

Foi primaríssimo o movimento que o ex-governador liderou para forçar a indicação da governadora Izolda como candidata à sua própria sucessão. Chamar para reforçar o seu trabalho de pressão adversários e inimigos de Ciro e Cid Gomes, passou a ideia de querer suplantá-los, já agora quando ainda apresentam um certo vigor, esquecendo que já havia levado um basta quando, em 2018, forçou a barra para ajudar a reeleger Eunício Oliveira senador, um dos inimigos dos irmãos Gomes. Eles entenderam que se o emedebista fosse eleito e depois reeleito presidente do Senado, Camilo e ele (Eunício) formariam um outro grupo político para desmoronar o ainda hoje comandado pelos irmãos. E foi de 2018, da derrota de Eunício, que nasceu o “ódio” de Camilo a Roberto Cláudio.

Camilo, agora, tem a oportunidade de formar um outro grupo político no Ceará. O seu teste de liderança não está só na sua eleição para o Senado, pois já tivemos senadores vários que não conseguiram manter-se ativo na política estadual. Ele precisa, também, independentemente da substancial ajuda da candidatura do ex-presidente Lula, transmitir confiança para aqueles que sonham com novas lideranças estaduais.

Sobre o tema, veja o comentário do jornalista Edison Silva: