Carla Michele reconhece que a população brasileira precisa ”refletir adequadamente” para que haja crescimento das bancadas femininas tanto no Congresso Nacional como nas Casas Legislativas estaduais. Foto: Blog do Edison Silva.

A cientista política, Carla Michele, Mestra em Sociologia e professora universitária, em entrevista nesta quinta-feira (20) ao Blog do Edison Silva, analisou que a formação da CPI da Covid sem a presença efetiva de mulheres representa aquilo que é o Parlamento brasileiro, majoritariamente masculino.

Ela declarou que a participação feminina tem crescido, principalmente nas últimas campanhas, mas que está ainda muito aquém daquilo que seria necessário para o que elas representam na sociedade brasileira.

”É uma comissão que não conta com essa participação [feminina], em virtude da negligência pelo processo eleitoral na condução de mulheres às casas parlamentares. O que nós temos é a participação remota de algumas senadoras, mas é um espaço ocupado por homens”, disse a cientista.

Questionada sobre o impacto que a falta efetiva de mulheres trará à CPI, Carla Michele disse que já causa impacto na democracia brasileira, haja vista que as mulheres representam 52% da população no Brasil. ”Essa presença não é encontrada na Comissão Parlamentar de Inquérito”, afirmou.

”O primeiro impacto é a desigualdade de gênero e além disso temos uma negatividade em virtude de que a maioria dos profissionais de saúde são mulheres, as demandas próprias desses profissionais, que estão em combate à pandemia, atuando na linha de frente, acabam também não encontrando correspondência nessa comissão. Muitos parlamentares têm se utilizado de perguntas e questionamentos através da internet sobre a participação mais efetiva da bancada feminina, sugerindo que certas perguntas feitas por elas ajudariam no que se diz respeito às dúvidas das profissionais de saúde, utilizando desses instrumentos pra ter também a garantia que seus questionamentos seriam respondidos pelos depoentes que estão participando desses esclarecimentos dados na CPI em relação ao combate da pandemia”, dissertou Michele.

A socióloga reconhece que a população brasileira precisa ”refletir adequadamente” sobre a questão de gênero na política, para que a participação feminina nas próximas eleições se dê de maneira mais adequada e que haja um crescimento das bancadas femininas, tanto no Congresso Nacional como nas Casas Legislativas estaduais; para que, em momentos de necessidade mais equitativa, as mulheres possam também, pelo número, pelo volume de representatividade, ocupar lugares de destaque.

”É necessário uma discussão permanente, de uma mudança na cultura política, para que através dos processos eleitorais as mulheres consigam alcançar cargos eletivos e em decorrência da maior participação das mulheres, como por exemplo em comissões, elas possam ocupar de forma efetiva”, adverte a professora.

No último dia 5 de maio, durante o depoimento do ex-ministro da saúde, Nelson Teich, enquanto a bancada feminina discursava alguns senadores contestaram a presença das senadoras naquele espaço. Carla Michele confessou que a fala das mulheres na CPI da Covid é desqualificada pelos componentes e relembrou também problematização durante o depoimento do ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. A líder da bancada feminina no Senado Federal, Simone Tebet (MDB-MS), chamou a atenção sobre o diálogo conflituoso entre o chanceler e a senadora Kátia Abreu (Progressistas-TO).

Na visão da cientista política houve toda uma ”desconstrução e desqualificação” da participação de Kátia na CPI. ”Observamos que quando ocorre essa participação [feminina], ela acaba sendo desqualificada, é por aquilo que tem sido hegemônico, a participação masculina. Obviamente que se tratando de questões desrespeitosas, que possam indicar quebra de decoro, devem ser devidamente tratadas e algumas que extrapolam esse campo devem ser tratadas pelos aspectos legais cabíveis para que haja uma punição, para que o desrespeito com as falas femininas não se repitam”, esclareceu Michele.

Confira a entrevista que a cientista política, Carla Michele, concedeu a Letícia Caracas: