Tasso admite trabalhar essa união, mas reconhece que a candidatura de Ciro Gomes (PDT) é irreversível. Ao ser apresentado como o único capaz de demover Ciro de abrir mão de sua pretensa postulação em nome da formação da grande aliança de centro, o senador respondeu: “Eu acho difícil o Ciro sair (do páreo). Mas não acho muito difícil o Ciro vir. O Ciro já foi de esquerda, mas hoje é de centro. E acredito que ninguém vá mudar o desejo dele de tentar a Presidência. Ele tem esse objetivo na vida”.
“Mas não acho muito difícil o Ciro vir”. Ora, se Tasso reconhece que Ciro não desistirá de concorrer por ser o objetivo dele chegar à Presidência República, principalmente agora quando é reconhecido como um político “de centro”, estaria o senador tucano a admitir que Ciro poderia ser o candidato para se contrapor a Bolsonaro e a Lula? O pedetista cearense foi um dos seis presidenciáveis que assinaram, recentemente, o documento em defesa do fortalecimento da democracia, que Tasso admite ter sido o “primeiro passo” em direção a um entendimento entre eles.
“Mas a abertura de diálogo entre todos esses candidatáveis (os seis que assinaram o documento: Ciro, Doria, Eduardo Leite, Mandetta e Luciano Huck) é fundamental. Eu posso ajudar (no acordo), acho até que tenho uma facilidade de diálogo. Isso não indica que seja eu o candidato. Tenho enorme admiração pelo governador Eduardo Leite”, enfatiza Tasso, após ter dito ser possível participar de uma prévia interna no PSDB, concorrendo com os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) e o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio. Nenhum político, com a experiência do cearense, diria não participar de uma prévia no partido. Seria presunçoso e antidemocrático.
Tasso sabe que o PSDB continua pequeno para ter um candidato próprio à chefia do Executivo nacional. Geraldo Alckmin, após ter deixado o cargo de governador de São Paulo, em 2018, para disputar o mandato de presidente somou uma votação pífia. De lá até aqui, afora a obstinação do governador João Doria de ser presidente, gerando inclusive divisão no partido, o PSDB em nada avançou para oferecer perspectiva de obter resultado menos decepcionante em 2022. Talvez por isso Tasso defenda prévias só em 2022, dando tempo para os tucanas reconhecerem que só lhes restará, no próximo pleito, a condição de coadjuvante.
Ao concluir o seu segundo mandato de senador em 2022, Tasso estará completando 36 anos de vida político-partidária, iniciada com sua primeira disputa ao Governo do Estado em 1986. Ciro Gomes despontou na política cearense na gestão de Tasso, primeiro como líder do seu Governo na Assembleia Legislativa, pouco tempo depois é eleito prefeito de Fortaleza, e antes de concluir o mandato de quatro anos Tasso o fez seu sucessor no Governo. Houve arranhões ao longo desses últimos anos, mas o respeito entre ambos permanece.
Nas eleições presidenciais do próximo ano, o discurso dos dois converge para uma mesma direção: a da necessidade de fortalecimento de uma terceira via para evitar uma campanha polarizada entre Bolsonaro e Lula. Tasso, em 2002, votou em Ciro para presidente da República, inclusive o PSDB tendo José Serra como candidato no mesmo ano. Se repetir o feito em 2022, por certo será candidato a um novo mandato de senador. E, assim, Ciro terá a oportunidade de retribuir todo o apoio dele recebido, a partir da sua eleição de prefeito de Fortaleza, incluindo-se, a partir daí, um novo capítulo na relação de ambos.
Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre a repercussão das declarações do senador Tasso: