Aliados de Capitão Wagner, os deputados Tony Brito, Delegado Cavalcante e Dra Silva votaram contra a prorrogação dos trabalhos da CPI. Foto: ALCE

Os deputados da Assembleia Legislativa aprovaram, na manhã desta quarta-feira (08), a prorrogação dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga possível envolvimento de associações militares com motins realizados no Estado. Depois de divulgação de áudio atribuído ao presidente da Associação dos Profissionais de Segurança (APS), Cleyber Araújo, supostamente envolvido em tentativa de tráfico de influência, o tema norteou a sessão plenária da Casa.

A “CPI do Motim” foi prorrogada por mais 120 dias, mas de acordo com o relator do colegiado, o deputado Elmano de Freitas (PT), as atividades do grupo podem ser concluídas antes do prazo. Votaram contrários à prorrogação os deputados Soldado Noélio (UB), Tony Brito (UB), André Fernades (PL), Delegado Cavalcante (PL) e Dra. Silvana (PL). Todos eles são aliados do deputado federal Capitão Wagner (UB) e atribuem uso político do inquérito para atingir o parlamentar, pré-candidato ao Governo do Estado.

Autor do pedido de CPI, ainda no ano passado, o deputado Romeu Aldigueri (PDT) fez um relato sobre o andamento dos trabalhos do colegiado, afirmando que “meia dúzia de oportunistas” usaram os militares, em 2020, a favor da paralisação para se propagarem politicamente. O pedetista também destacou o áudio que foi divulgado por Elmano de Freitas em reunião do colegiado, que segundo disse, comprovaria que a APS não estava sendo utilizada para atender aos interesses da categoria.

“Atenção para a frase ‘isso é contra nossa essência, mas na guerra a gente faz qualquer coisa’. A guerra é contra quem? Contra os cearenses? Contra os próprios militares? A associação está guerreando contra o Estado Democrático de Direito ou contra os próprios associados?”, question Aldigueri.

Presidente da CPI, Salmito Filho (PDT) também se posicionou sobre o tema. Ele lembrou que Cleyber Araújo, em um primeiro depoimento, ao ser questionado sobre um contrato de R$ 400 mil, disse ter pagado o montante a advogado, mas que não sabia as motivações do pagamento. Em seguida, disse que os valores eram para treinamento de advogados. “O Elmano apresentou um áudio em que ele diz, se for realmente ele, que o dinheiro é para ajeitar, conseguir uma liminar no Judiciário. Isso é gravíssimo”, apontou.

O líder do Governo, Júlio César Filho (Cidadania), chegou a citar o nome de Capitão Wagner com o áudio, visto que em dado momento, uma das pessoas gravadas cita “Capitão”. Segundo o parlamentar, o grupo político do deputado federal tentou “angariar votos no terrorismo”, lembrando que muitos policiais foram demitidos “porque acreditaram em falsos líderes”. “Qual a ligação que esse amigo tem com  Capitão Wagner, que o senhor Cleyber diz no áudio? Quem é esse amigo do Capitão Wagner que foi trazido no áudio?”.

R$ 400 mil

Soldado Noélio criticou a prorrogação da CPI e disse que o colegiado trabalha com “cartas marcadas“. “É uma palhaçada com o povo do Ceará que queria ver uma CPI da Enel, uma CPI para ver como estão sendo ocupados os leitos hospitalares”. Dra. Silvana apontou “falta de eficiência” dos trabalhos, enquanto que Delegado Cavalcante disse que o objetivo do colegiado é perseguir a APS, que foi fundada pelo deputado Capitão Wagner.

Em resposta, Elmano de Freitas lembrou de inquéritos que também demoram meses nas delegacias, e questionou as falas de parlamentares ligados à Polícia Civil. “Será que nunca tiveram inquérito com oito meses ou mais? Se duvidar talvez tenham até coisas que nunca foram encerrados”, disse. O relator também desmentiu que tenha recebido o áudio desde janeiro passado. Ainda de acordo com ele o valor de mercado de um mestrado gira em torno de R$ 40 mil, enquanto que  a APS teria gastado R$ 400 mil apenas para capacitação de dois advogados.