É muito claro o Art. 77 § 2º da Constituição Federal, repetido pela Constituição do Estado do Ceará no § 4º do Art. 82, apenas trocando a palavra Presidente por Governador, quando diz: “Será considerado eleito Presidente (Governador) o candidato que, registrado por partido político, obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos”. Sendo didático: Se forem computados 5 milhões de votos válidos na eleição para Governador do Ceará, deixará de existir segundo turno se um dos concorrentes conseguir 2.500.001 votos. Numa disputa polarizada, como avalia-se será esta de 2022, é possível de isso acontecer. Hoje, a menos de cinco meses do dia da votação só duas candidaturas competitivas são avaliadas: a das oposições e a governista, esta sem nome definido ainda. A candidata do PSOL, Adelita Monteiro, não parece ter possibilidade de somar votos suficientes para forçar um segundo turno.

O deputado federal Capitão Wagner, nos últimos quinze dias, em duas oportunidades falou que o pleito deste ano, para Governador do Estado, será resolvido no primeiro turno. Ele não disse que ganharia, mas insinuou. De fato, ele e quem seja o seu principal concorrente, apresentado pelo grupo governista, tudo farão para encerrar a disputa no dia 2 de outubro, mas, ambos, reservadamente, torcem pelo surgimento de um outro candidato que, sem ameaça-los no primeiro turno, consiga votos suficientes para um segundo embate, no final do mesmo mês de outubro. O segundo turno é uma nova eleição, uma outra oportunidade para os dois mais votados. Por este ângulo, tem gente no PDT torcendo pelo rompimento da aliança com o PT para esta agremiação lançar o seu próprio candidato. Para o Capitão Wagner, um candidato petista só lhe prejudicaria, posto, apoiado por Lula, ter condições de criar musculatura para chegar ao segundo turno.

Mas o PT do ex-governador Camilo Santana, hoje o principal fiador da aliança, mesmo não tendo o controle do partido no Ceará, mas com o respaldo do ex-presidente Lula e do deputado federal José Guimarães, o controlador do diretório estadual, quer manter a coligação. Sua candidatura ao Senado, rompida a aliança, sofre algum abalo, porém não tornar-se-á inviável. Embora reconhecendo o esforço do ex-governador para a manutenção do ajuntamento de petistas com pedetistas, estes estão certos de que uma parte do PT trabalhará para derrotar o candidato do Governo à sucessão da governadora Izolda Cela, pois a parte contestadora do PT só pensa em atingir o presidenciável Ciro Gomes e o senador Cid, seu irmão, mesmo que o vencedor da disputa pela chefia do Executivo cearense venha a ser um aliado do presidente Bolsonaro. Aliás, Ciro disse, recentemente, que Luizianne andava “entranhada” com o Capitão Wagner, desde a eleição municipal de 2020.

E aqui reside outra razão para Wagner torcer pela manutenção da aliança do PT com o PDT, a de ser ajudado por petistas para derrotarem os inimigos comuns deles. Wagner, como Luizianne Lins, José Airton Cirilo e outros filiados ao PT, estão no mesmo barco dos inimigos de Ciro e Cid, onde inclui-se o ex-senador Eunício Oliveira, presidente estadual do MDB, e hoje forte aliado do ex-governador Camilo Santana. Pode, porém, uma artimanha dessa prejudicar a postulação senatorial de Camilo Santana, que precisa, como o candidato a governador, ter o apoio, incondicional, de todos os correligionários. Numa eleição como a deste ano, diferente daquelas em o governador é candidato à reeleição, a disputa será dura. Em 2014, no pleito para o primeiro mandato de Camilo Santana, a diferença da votação no primeiro turno entre ele e o ex-senador Eunício Oliveira foi de apenas 1,40% dos votos. A campanha de Camilo foi comandada pelo governador Cid Gomes, com toda a força do cargo, e uma coligação sem qualquer contestação.

Não é bom prenúncio de resultado favorável para candidato majoritário de partido ou coligação divididos. E talvez por isso, pedetistas, mais que os petistas insatisfeitos, defendem o rompimento da aliança para que os contestadores possam, realmente, ser tratados como adversários. Os candidatos a governador e senador precisam de tranquilidade. Desconfiando de aliados nenhum terá condições plena de desenvolver suas campanhas. E como a coligação governista está hoje, por conta da reação de alguns filiados do PT e do próprio Ciro, experimentando um ambiente de fato conturbado, há sentido no movimento de rompimento, defendido conscientemente por alguns. Óbvio que aqueles defensores da separação, por vindita, não só deixarão de votar como trabalharão, sub-repticiamente, contra nomes da própria coligação.

Veja comentário do jornalista Edison Silva sobre o assunto: