Ronivaldo, depois do discurso, recebeu abraços de colegas parlamentares. Jornalistas que cobrem a CMFort não tiveram acesso ao plenário. Foto: Gustavo Machado/Blog do Edison Silva.

O vereador Ronivaldo Maia (PT) reassumiu o mandato na Câmara Municipal de Fortaleza e falou, pela primeira vez, sobre a acusação criminal que está respondendo de tentativa de feminicídio contra sua companheira Cícera Fernanda. Ele estava afastado do mandato, primeiro por uma licença para tratar de assuntos particulares, tempo no qual esteve boa temporada preso, preventivamente.

Ao fim da licença particular, Ronivaldo utilizou-se de licenças temporárias para tratamento de saúde até o momento que o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar decidiu por não instaurar o processo disciplinar contra ele por quebra de decoro parlamentar.

Nesta quinta-feira (28), Ronivaldo foi o primeiro a utilizar a tribuna da Câmara para defender a sua inocência, narrando o fato (considerado delituoso) sobre a sua ótica, lendo pausadamente o discurso ao tempo em que chegou a pedir perdão. “Para esclarecer: ela não estava na frente do carro, estava ao lado do veículo e quando saí, não a vi segurar o limpador, de modo que ela ficou com a mão presa nele. Se naquele momento tivesse percebido que a mão dela estava presa, jamais teria saído de lá, pois nunca foi minha intenção machucá-la“, narrou.

Nenhum dos vereadores o aparteou e nem depois do pronunciamento falou sobre o caso. No fim da sessão, porém, a vereadora Adriana Nossa Cara (PSOL), autora, com outros vereadores da representação ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, falou sobre o assunto na tribuna da Câmara.

Ronivaldo Maia disse que está com a consciência limpa sobre os fatos e que a própria vítima endossa a versão narrada por ele, por “lealdade aos fatos”. Ele declarou que ao perceber o que houve, teve a iniciativa de prestar socorro. “Voltei à casa dela e sugeri levá-la ao hospital imediatamente. Eu jamais a deixaria naquela situação“, reiterou Ronivaldo, ao reforçar também que a discussão motivadora da saída dela do carro foi um momento isolado.

O vereador disse que lamentou profundamente a situação e se solidarizou com todos que se sentiram afetados pelo ato. “Antes de mais nada, gostaria de pedir desculpas a todas as mulheres! Estendo e enfatizo o meu pedido de desculpas a cada uma das minhas colegas e meus colegas vereadores; a cada moradora e morador da cidade de Fortaleza; à minha família; e, principalmente, desculpas à Fernanda, a quem sempre tive e ainda tenho muita estima e respeito“, expressou.

Ainda durante o discurso, Ronivaldo declarou sua defesa a valores humanistas e socialistas, norteadores de sua trajetória política, desde o ano de 1988, quando ele assumiu a presidência da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES). O parlamentar disse que vai continuar prezando pela defesa da igualdade social, de gênero, de raça e de credos e que lutará contra toda forma de opressão, violência e discriminação.

Tenho certeza e a consciência tranquila de que não sou um agressor, não é isso que me define e que eu não tentei matar a Fernanda. Eu jamais faria isso contra ela ou qualquer outra pessoa. Confio e acredito na Justiça, neste parlamento e na Democracia brasileira“, concluiu.

Repercussão

Em entrevista ao Blog do Edison Silva, a vereadora Adriana Nossa Cara (PSOL), depois do discurso de Ronivaldo, afirmou ter feito sua parte enquanto parlamentar, ao tentar entrar com um recurso contra a decisão do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar que arquivou o pedido de cassação do mandado do petista, e como protesto, os movimentos sociais deveriam se insurgir com volta de Maia à CMFor.

É uma vergonha que a gente viva, numa das maiores capitais do País, um exemplo como este, de violência contra a mulher. É uma derrota, principalmente, para todas as mulheres fortalezenses, que não têm na Câmara, um apoio legítimo e concreto de parlamentares defensores das vidas femininas. Aqui se fala tanto em ‘defesa da vida’, mas é um discurso falso. É um dia de se lamentar“, pontuou.

Adriana também criticou o fato de Ronivaldo ter citado o nome da vítima – Cícera Fernanda – e considera isto uma “revitimização”, fazendo que ela “visite todo o seu sofrimento vivido”.

Em nota, o presidente do PT/Fortaleza e vereador de Fortaleza, Guilherme Sampaio, deu sua opinião a respeito do retorno às atividades parlamentares do petista. “Penso que, sem desconsiderar a trajetória do vereador Ronivaldo e seu amplo direito a defesa, o que se espera das instituições, diante da grave violência cotidiana contra as mulheres, é que episódios como o que envolveu ele, sejam apurados rigorosamente, de forma transparente e justa. Isso vale para o PT, que suspendeu sua filiação e está conduzindo um processo ético disciplinar interno, e deveria valer para a Câmara também“, escreveu o edil.

Questionada por não ter votado favorável ao recurso contra decisão do Conselho de Ética, a vereadora Enfermeira Ana Paula (PDT), 2ª vice-presidente da Câmara, disse que seu partido tomou cuidado ao ler o depoimento da vítima. Nos autos, segundo a pedetista, Fernanda não deu causa ao processo contra Ronivaldo Maia e, em cima do parecer de não-admissibilidade do relator do processo na Comissão de Ética, Dr. Luciano Girão (Progressistas), a bancada do PDT fechou a decisão de não aceitar a apelação.