Vereador Sargento Reginauro foi o segundo dirigente da APS ouvido no inquérito. Foto: ALECE.

Como era esperado, a reunião desta terça-feira (12) da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa que investiga possível financiamento de motins por parte de associações de militares no Ceará aconteceu de forma tensa, com troca de acusações por parte do depoente, o vereador Sargento Reginauro (UB), e o relator da investigação, o deputado Elmano de Freitas (PT).

Ao término da discussão, Elmano reafirmou que Reginauro, que presidiu a Associação dos Profissionais de Segurança (APS), assinou cheques após início da paralisação de policiais militares em 2020.

Logo no início do depoimento, Reginauro questionou o andamento da CPI, voltando a afirmar que o colegiado tinha interesses político-eleitorais, visto que o deputado federal Capitão Wagner (UB), líder da oposição no Ceará, e pretenso candidato ao Governo do Estado, foi o idealizador da APS, associação investigada pelo grupo.

O parlamentar apontou o trabalho do inquérito como “desorganizado”, lembrando, ainda, que em 2012, quando candidato a prefeito de Fortaleza, Elmano de Freitas defendeu a anistia de militares envolvidos no motim realizado no fim de 2011.

Ainda de acordo com ele, os R$ 2,3 milhões citados como arrecadados pela APS, foram conseguidos através de cinco anos, por repasses de todos os seus associados, o que daria R$ 38 mil por mês. “A APS foi fundada pelo maior líder de oposição no Ceará, que ameaça o poderio da maior oligarquia do Estado”, disse Reginauro, lembrando que Capitão Wagner deixou a entidade logo que foi eleito deputado. “Não houve prova de um Real saindo das entidades para movimentos de paralisação ou atos políticos”, afirmou.

Deputado Elmano de Freitas, por sua vez, apontou movimentos financeiros na APS da ordem de mais de R$ 18 milhões entre os anos de 2015 e 2021. Para o relator, Sargento Reginauro assinou cheques como presidente da associação, com dinheiro sendo retirado na boca do caixa. Ele disse ter tido dúvida sobre a data de exoneração do parlamentar da presidência da entidade. Segundo o vereador, sua saída se deu no segundo dia após início da paralisação dos militares, em 2020.

O relator também questionou ao ex-presidente da associação sobre o pagamento de R$ 400 mil a advogado, que segundo Elmano, não teria sido habilitado em qualquer processo. Ele lembrou, ainda, livro que teria sido escrito pelo deputado federal Capitão Wagner, em que o parlamentar teria narrado que as paralisações da PM servem como forma de pressionar o poder público para as reivindicações da categoria.

“Mentiroso”

Outro momento tenso se deu entre o presidente da comissão, o deputado Salmito Filho (PDT) com o advogado de defesa de Sargento Reginauro. Isso ocorreu, porque os advogados disseram que não tiveram acesso a algumas documentações. O pedetista, por outro lado, afirmou que toda a documentação devida foi apresentada. “É muito fácil pegar o mentiroso. Eu tenho todos os registros”, disse Salmito.

Um dos advogados insistiu em replicar, mas o presidente do colegiado não permitiu. “Os advogados que aqui estiveram, tiveram acesso a todos os dados, inclusive, aos dados sigilosos. Só não puderam levar no pen drive os dados sigilosos. Quer presidir no meu lugar ou vai respeitar? Eu não vou passar a palavra. Concedi e concederei no momento oportuno”, afirmou Salmito.

Quando do uso da palavra, Soldado Noélio (UB) voltou a criticar a CPI, destacando a importância de se investigar as “facções criminosas” que atuam no Ceará. O parlamentar afirmou que o trabalho está ocorrendo com interesse político-eleitoral. Ele também reclamou o recesso que ocorreu no colegiado durante alguns meses.

Quem também usou da palavra foi o deputado Delegado Cavalcante: