Pix é o meio de pagamento criado pelo Banco Central em que os recursos são transferidos entre contas em poucos segundos, a qualquer hora ou dia. Foto: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil.

Um suplente de deputado estadual nesta legislatura, ele chegou até a assumir o mandato por um certo período, disse, recentemente, em conversa com dois experimentados integrantes da Assembleia Legislativa do Ceará, estar avaliando a possibilidade de não participar da disputa eleitoral deste ano. Ele, até aqui, já teria gasto, só em Fortaleza, aproximadamente R$ 800 mil com um pequeno grupo de defensores de sua candidatura. Sua base eleitoral é no Interior, e o investimento na Capital seria apenas um complemento. Ele foi aconselhado a desistir e, em vez de comprar, vender os votos que ele controla na sua Região, para guardar o dinheiro e investir em sua campanha de prefeito em 2024. É possível que ele não desista e continue gastando os resultados das vendas dos seus imóveis que sobraram da eleição de 2018.

Este, sabem todos os atentos observadores da política, não é um exemplo único. Esta eleição é a mais cara, dizem todos, a cada disputa eleitoral. E, lamentável, é uma afirmação verdadeira. Deputados estaduais, com força política significativa em vários municípios, em alguns destes com pessoas suas ocupando o cargo de prefeito, começam a reservar dinheiro para os gastos dos últimos 15 dias da campanha, os mais sufocantes, pois esperam despender, no período, o mínimo de R$ 3 milhões. E se não tivessem o serviço prestado ao longo dos seus mandatos, nem ajudado eleger prefeitos, a despesa total para conquistar um novo mandato seria o dobro. O serviço prestado pelo deputado é, além do assistencialismo propriamente dito, inclusive com empregos temporários em empresas terceirizadas, carrear pequenas obras estaduais para os municípios.

Os deputados estaduais também têm as chamadas emendas parlamentares, mas em valores insignificantes em comparação com as emendas dos deputados federais e senadores. Estas, pelo caráter impositivo, sempre chegam às mãos dos prefeitos e, antes mesmo de representarem um trabalho daquele que a liberou em benefício da população do respectivo Município, é, na verdade, o pagamento antecipado dos votos que os prefeitos carrearão para eles. Mas, embora os volumes dos recursos das emendas parlamentares sejam substanciais, não são, em verdade, suficientes para dispensar os pagamentos à vista, e em espécie, na reta final da campanha. E não estamos falando de pouco dinheiro, amealhado sabe-se lá como. Sem o abundante uso da moeda corrente, deste, ou de outros países (dólar, euro), só o pequeno grupo das exceções conquista mandatos.

O Pix, o modo fácil de transferência de recursos entre as pessoas físicas e jurídicas, já motiva preocupação para alguns candidatos. Eleitores, sem qualquer uma justificativa, liga para o número do candidato, e simplesmente diz: Deputado me mande um Pix. Evidente que ele não vai mandar. Seria uma imprudência deixar registrado e de fácil comprovação, estar comprando votos, mesmo que ainda oficialmente não seja candidato. Mas ele terá que dar uma satisfação àquele pedinte e a tantos outros que utilizarem-se da mesma prática. O fato é só mais um exemplo de como o dinheiro é, lamentavelmente, o principal ator da campanha eleitoral, por mais atento que esteja a fiscalização feita pela Corregedoria da Justiça Eleitoral e o Ministério Público com a ajuda da Polícia Federal.

E esse dinheiro que é o ator principal da campanha eleitoral não é aquele do Fundo Eleitoral de R$ 5,7 bilhões saídos do Orçamento da União para os partidos distribuírem com os seus candidatos a presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Este, embora questionado seja o seu montante, sequer chega a todos dos candidatos, pois sua distribuição fica a critério do partido, com obrigação apenas de reservar um percentual para as candidatas. A quase totalidade dos gastos de campanha dos deputados e senadores é feita com recursos próprios, sem o conhecimento oficial da Justiça Eleitoral, pois as prestações de contas omitem os valores reais de algumas despesas. É uma ficção os valores estabelecidos como teto para as despesas dos candidatos.

Enquanto a nossa sociedade não estiver educada politicamente, a próxima eleição sempre será mais cara que a atual. E, por continuarem gastando sempre mais para conquistar os mandatos, menos comprometidos com o desenvolvimento do País serão os nossos representantes nos legislativos dos Estados e da União.

Comentário do jornalista Edison Silva: