O Datafolha publicou, quinta-feira (24), sua primeira pesquisa deste ano sobre a sucessão presidencial, e também agora sob nova direção. Nesta sexta-feira (25) foi a vez de o IPESPE com a XP, tornarem pública a deles, também relacionada à sucessão presidencial deste ano. Ambas, embora com sistemas avaliadores e número de entrevistas diferentes, apresentaram praticamente os mesmos percentuais de intenção de votos para os pré-candidatos apresentados aos eleitores, apontando o cearense Ciro Gomes disputando a terceira colocação com Sérgio Moro. O ex-presidente Lula é o primeiro, e o presidente Bolsonaro, o segundo. A votação para a escolha do próximo presidente da República, pelo Calendário Eleitoral, só acontecerá em 2 de outubro, portanto daqui a seis meses.

Até o encerramento da campanha eleitoral, oficialmente ainda não iniciada (ela só pode começar a partir de agosto), muito há para acontecer com potencial suficiente de mudar todo o quadro até agora conhecido, ou solidificá-lo. Assim, os dados dessas e de tantas outras pesquisas a surgirem, até o mês de setembro, devem ser vistos apenas como mais uma animação da campanha política, pois até lá, como todas as demais campanhas têm mostrado, o eleitor, salvo aquele apaixonado por esse ou aquele candidato, ainda não está vivendo a campanha, e, portanto, não definiu e nem está em via de definir o seu candidato. Nos últimos trinta dias da disputa, porém, o quadro apresenta uma outra realidade e, consequentemente, os entrevistados já passam a responder as perguntas dos pesquisadores com a devida seriedade, e expressando, de fato, a sua preferência eleitoral.

Um dos editoriais do jornal O Globo desta sexta-feira (25), analisando o resultado da pesquisa do Datafolha, cita exemplo de “azarões”, por não serem os preferidos, pelos registros das pesquisas e venceram as disputas por prefeituras de capitais brasileiras, governadores e até para presidente da República, como no caso do próprio Bolsonaro. Segundo o jornal carioca, “é ilusão acreditar que as preferências estejam consolidadas. Claro que a disputa entre os dois (Lula e Bolsonaro) é o cenário mais provável. Mas não o único possível. Embora os números reforcem a percepção de que o jogo esteja definido, ainda estão contaminados pelo passado, e obviamente, estão na frente os candidatos mais conhecidos do eleitor”. E acrescenta: “Tudo ainda pode mudar — e nada é mais fatal na política do que a arrogância daqueles que julgam conhecer o futuro”.

Quando estabelecemos o mês de setembro como o momento, a partir de quando as pesquisas mostrarão a fotografia mais clara do ambiente eleitoral, é pelo fato de a campanha já ter atingido, naquela oportunidade, a maioria do eleitorado, em razão da propaganda eleitoral no rádio e na televisão ter tomado espaço no horário nobre desses dois potentes veículos de comunicação. Mas, embora todos os candidatos tenham direito a fazer sua propaganda, a divisão do tempo, pelos critérios legais definidos, não é igualitário, acabando, no caso presente, a beneficiar os candidatos que hoje polarizam a disputa: Lula e Bolsonaro, prejudicando os demais que lutam para furar o cerco, e serem opção para os insatisfeitos com os dois. O caminho da terceira via não está sendo apenas difícil, é também muito íngreme.

Para obter sucesso, diz o editorial do jornal O Globo: “é certo, qualquer candidatura alternativa precisaria superar obstáculos nada triviais. O primeiro — e mais óbvio — é o nome. Não existe na urna uma opção identificada como “terceira via”. Pelo menos quatro pré-candidatos almejam ocupar tal posto: o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), o ex-juiz Sergio Moro (Podemos), o governador João Doria (PSDB) e a senadora Simone Tebet (MDB). Há conversas entre os três últimos para que apenas um concorra, de modo a evitar a fragmentação do eleitorado. É um passo essencial, mas insuficiente. O segundo obstáculo é mais desafiador: adotar uma estratégia consistente para chegar ao segundo turno”.

Como até o início de agosto os partidos podem mudar os nomes dos seus candidatos, ou até coligarem-se, ensejando a redução do número de concorrentes, de pouca valia são as pesquisas até lá realizadas. As pesquisas reais, que são feitas em abundância para consumo interno dos grandes partidos, refletem a realidade do quadro, mas o público delas não tem conhecimento.

Veja comentário do jornalista Edison Silva sobre o tema: