Em praticamente todas as rodas, com dois ou mais deputados estaduais ou candidatos a um mandato legislativo, o tema central é quantidade de votos que cada um pode receber na eleição deste ano. Neste momento, essas discussões também servem para definições sobre filiações partidárias até o próximo dia primeiro de abril, fim da Janela Partidária, e do prazo de filiação partidária para quem queira ser candidato em 2022. No nosso último comentário, tratando da disputa por vagas no Legislativo, falamos sobre a “inquietação e angústia de partidos e candidatos”, também pela ilusão levada por dirigentes partidários a pretensos candidatos sobre a possibilidade de nessa ou naquela agremiação a vitória dar-se com um número de votos muito aquém do estabelecido pelo quociente eleitoral.

Recentemente, neste espaço, fizemos o seguinte registro: “Se fôssemos ouvir com seriedade a argumentação de alguns dos que ainda buscam adesões para formações de chapas completas dos seus partidos aos Legislativos, mais de cem deputados seriam eleitos para a Assembleia e uns quarenta ou mais conquistariam cadeiras na Câmara Federal, quando, oficialmente, só 46 são as vagas na Assembleia e 22 as da Câmara dos Deputados. Inflar o número de prováveis eleitos para cada uma dessas Casas é uma das alegações para sensibilizar a quem quer disputar mandatos, estando no limite muito inferior ao do quociente eleitoral, o definidor do número de votos para a vitória dos concorrentes. A tendência é tudo isso continuar até o dia 31 de março”. E, agora, com a aproximação desta data, aumenta o conflito pessoal dos candidatos sem perspectiva de votação expressiva.

Nas eleições deste ano, pelas avaliações feitas, guardado o respeito às exceções, candidatos com maiores votações serão os do PDT, PL, PT e PSD. Ademais, em razão das candidaturas a presidente da República de Lula, Bolsonaro e Ciro, PT, PL e PDT, os seus respectivos correligionários ainda serão beneficiados com os votos de legenda, aqueles dado só ao partido. Quanto maior for a preferência pelo candidato majoritário, presidente ou governador, mais votos são registrados para a legenda. Em 2018, por exemplo, por conta da influência da candidatura do Ciro Gomes, os deputados estaduais foram beneficiados com 115.088 sufrágios de legenda, o correspondente a um deputado estadual a mais e a ajuda para a vitória de um segundo com o aproveitamento da chamada sobra. Já em relação à eleição da Câmara dos Deputados, houve um acréscimo de mais 95.755 votos que ajudaram a eleger mais um parlamentar federal.

A legenda do PT, apesar da expressiva votação recebida pelo governador Camilo Santana, só ajudou o partido a conquistar a quarta cadeira na Assembleia, deixando a ideia de que a influência maior para a legenda vem do candidato a presidente da República. E isso pode ser verdade, pois Bolsonaro contribuiu menos ainda na legenda do PSL, somando apenas 16.661 votos. Indiscutivelmente, neste ano, o presidente contribuirá significativamente para a legenda de deputado estadual e federal, até pelo 22 que o identificará nas urnas. E o PL cearense sabe disso. Hoje, o partido já aparece com o que poderá eleger o maior número de deputados federais e estaduais, só perdendo para o PDT. Os bolsonaristas, em quantidade, dominam a agremiação e apostam na força eleitoral do presidente.

Bolsonaro terá ao menos dois ex-auxiliares como candidatos a deputado federal: Mayra Pinheiro e Aginaldo (Antonio Aginaldo de Oliveira). Este, coronel da Polícia Militar do Ceará, está deixando o comando da Força de Segurança Nacional para filiar-se ao PL. Ela já deixou o cargo no Ministério da Saúde, onde notabilizou-se até pelas polêmicas geradas, inclusive no caso da vacinação contra a Covid-19, por isso chamada de “Capitã Cloroquina”, além do deputado estadual André Fernandes. Estas pessoas já demonstraram ter intimidade com o presidente, assim como o deputado federal Jaziel Pereira e sua mulher, a deputada estadual Dra. Silvana, além de outros como o vereador de Fortaleza, Carmelo Neto. O presidente, assim, tendo um palanque considerável no Estado, contribuirá, também com os votos de legenda, para ampliar o número de correligionários eleitos.

Assim, a influência dos candidatos a presidente da República no aumento dos votos das suas respectivas legendas, também é um forte elemento para dificultar a eleição de novos deputados por agremiações menores, mesmo que estejam atreladas a esses candidatos.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre o tema: