No ofício encaminhado ao ministro do TCU, Bruno Dantas, o procurador Lucas Furtado chama a atenção para o fato de que “a relação amigável e de admiração entre o Sr. Júlio Marcelo e o ex-juiz Sérgio Moro é de conhecimento público”. Foto: Reprodução/Facebook.

A relação ainda não explicada entre o ex-juiz e ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, e a consultoria Alvarez & Marsal, com sede nos Estados Unidos, para a qual foi prestar serviços depois que deixou o Governo de Jair Bolsonaro, pode ter novos desdobramentos em breve.

Em manifestação enviada na terça-feira (25) ao ministro do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas, o subprocurador Lucas Furtado, que atua junto ao TCU, sugeriu a suspeição do procurador Júlio Marcelo de Oliveira, que tenta participar do processo e já foi barrado pelo ministro.

“Dessa forma, a suspeição do Sr. Júlio Marcelo — decorrente da relação de amizade mantida com o ex-juiz Sérgio Moro — deveria impedir que este atuasse no processo em análise, em face da dúvida sobre sua imparcialidade e/ou independência. Ressalto que não estou solicitando minha atuação nos autos”, afirmou o subprocurador.

Além disso, reforçou que, “em prol da transparência e visando não pairar dúvidas”, solicitou que o ministro atue junto à procuradora-geral do MPTCU,  Cristina Machado da Costa e Silva, visando a avocação processual ou novo sorteio do processo dentre os demais membros do órgão.

“Assombra-me o fato de colega desse Parquet se incomodar tanto com possíveis colaborações no âmbito do processo. Como já havia dito, minha atuação se encontra respaldada nos regulamentos internos, não havendo empecilhos para que ofícios sejam encaminhados ao relator. Não existe suspeição de minha parte, mas acredito existir possível conflito de atuação do Sr. Júlio Marcelo nos autos em epígrafe visto ele ser amigo do responsável em análise (ex-juiz Sérgio Moro)”, diz Furtado no expediente.

Ele se refere a um ofício encaminhado anteriormente por Marcelo a Bruno Dantas, solicitando que o subprocurador não atuasse no caso.

Nos casos de suspeição, conforme o artigo 148 do Código de Processo Civil, após a arguição pela parte interessada, o juiz do processo (no caso, Bruno Dantas) deve mandar processar o incidente em separado e sem suspender a ação. Ele deve abrir prazo de 15 dias para que o arguido se manifeste, e facultar a produção de prova, quando necessária.

Bajulação pública

A admiração de Marcelo pelo ex-ministro de Bolsonaro, a quem ajudou a eleger, é notória. Em postagens no aplicativo Twitter, o procurador é pródigo em elogios ao ex-juiz considerado suspeito e parcial pelo STF.

Veja alguns exemplos das postagens pró-Moro e dos procuradores que atuavam na extinta força-tarefa da autodenominada operação “lava jato”:

“Neste Dia Internacional de Combate à Corrupção, tive a honra de discursar na Câmara dos Deputados, na sessão solene em homenagem a Sérgio Moro, e de receber a Medalha Patriótica, conferida pelos Movimentos da Sociedade Civil. O Ministro Sérgio Moro merece todas as homenagens!”

“Assistindo à excelente entrevista com o juiz Sergio Moro no Roda Viva, exemplo de magistrado e homem público. Na semana passada, a AMPCON prestou-lhe merecida homenagem por tudo que tem feito pelo país.”

“Fazer a coisa certa sempre! Moro saiu do governo como entrou. Íntegro, correto, leal ao país. Um gigante que sempre se colocou a serviço do Brasil. Que Deus o abençoe e proteja.”

“Deltan Dallagnol, os colegas da Lava Jato e Sérgio Moro são exemplos de pessoas de bem, éticas, corretas e corajosas. Enfrentam o maior caso de corrupção do mundo com profissionalismo e dedicação invejáveis. Basta ver as decisões esmagadoramente mantidas pelo TRF4 e pelo STJ.”

Fonte: ConJur.