A soma dos votos recebidos por todos os 12 prefeitos que se filiaram ao PT na última quinta-feira (13), um total de 84.692 sufrágios, é insuficiente para eleger, isoladamente, um deputado estadual. O simbolismo da festa de filiação, no dia 13, o número oficial da agremiação, foi muito maior que a concretude do fato e a ideia de crescimento da sigla, admitida por parte do eleitorado. Foi uma boa animação para o momento político da agremiação no Ceará, mas insuficiente para garantir outra posição a um filiado seu na chapa majoritária, em coligação com o PDT, além da vaga do governador Camilo Santana, candidato ao Senado.

Os prefeitos, não há dúvida, não procuraram pessoalmente o PT para filiarem-se à sigla. Eles foram chamados. E quem os procurou tinha o aval do governador Camilo. E este, óbvio, já estava acertado com o senador Cid Gomes. Jamais um pedetista, mesmo com a pequena expressão eleitoral dos quatro prefeitos que deixaram a sigla, seria aceito pelo PT, com o aval de Camilo, sem um entendimento com Cid. Aliás, o governador rejeitou a adesão ao PT, ainda no ano passado, do deputado estadual  Bruno Pedrosa (PP), depois de ele ter acertado tudo com o deputado federal José Guimarães para trocar de partido. E a alegação no momento, segundo se sabe, foi a de o governador não querer dificuldade com partido aliado. E agora é que ele não pode ter dificuldade, pois precisa de todos os votos possíveis para garantir uma boa votação para o Senado.

Há, como tratamos aqui, recentemente, um trabalho de integrantes do grupo governista para impedir que o PSD de Domingos Filho indique o nome do deputado federal Domingos Neto para a vaga de vice-governador, na chapa apoiada pelo Governo. O movimento petista pode ser parte dessa artimanha, pois fortalece o governador dentro da sigla, onde ainda sofre algumas restrições por sua ligação muito próxima com os irmãos Ciro e Cid Gomes. E fortalecido, além de demonstrar para o comando Central do seu partido o trabalho para fazer crescer a agremiação, ainda como governador, ele pode, pessoalmente, querer indicar o candidato a vice-governador dentre os vários amigos que tem fora do PT, quem sabe, um dos empresários que não pode ser o seu primeiro suplente por incompatibilidades com o PT, mas por outra sigla aliada pode ser indicado para compor, como vice, a chapa majoritária. Ou, sabe-se lá, um próprio pedetista mais próximo dele que de Ciro e Cid, como o atual presidente da Assembleia, deputado Evandro Leitão.

São conjecturas ou até elucubrações. Além dos três, Ciro, Cid e Camilo, ninguém sabe a razão dessa estratégia de engordar o PT com prefeitos de municípios dos menores do Estado. Mas ela tem uma razão de ser, pois a indefinição do quadro político nacional, com implicações diretas em todos os estados, e no Ceará, particularmente, em razão da candidatura presidencial de Ciro Gomes, todas as precauções do comando partidário governista devam ser adotadas, notadamente como já é real, na eleição deste ano pois dois partidos (PTB e PL) que davam sustentação ao Governo e tempo de televisão para as campanhas dos seus candidatos, estão fora do grupo. E ainda falta o desfecho da fusão do PSL com o DEM, que pode também tirar estes do esquema governista.

Eleitoralmente, evidente, quase nenhum prejuízo essa movimentação que aumentou os quadros do PT prejudicará a postulação de Ciro. Politicamente, porém, ela não foi boa. A oposição e parte do próprio PDT podem, pela incompreensão do acontecido, ou até maldosamente, questionar as razões políticas que fizeram, no ano da eleição, no Estado do próprio candidato a presidente, prefeitos abandonarem o seu partido para filiarem-se ao do adversário mais combatido, no caso o Lula, ensejando a necessidade de o pretenso candidato prestar esclarecimentos sobre o fato, exato no momento de preparação da convenção nacional do partido que acontecerá no dia 21 próximo, em Brasília.

Por certo, a festa do PT não foi a única animação política que registraremos até o prazo final das convenções partidárias de homologação das candidaturas, na primeira quinzena do mês de agosto vindouro. Várias outras acontecerão, e quem sabe, até como mais influência direta nas composições das chapas majoritárias, aqui incluindo-se a oposição, pois todos os pretensos candidatos a cargos majoritários aguardam as decisões políticas nacionais que influirão nas coligações partidárias locais, sem esquecermos do outro fato novo para essa campanha que são as possibilidades de formação de Federações de Partidos.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre o tema: