Senador Tasso Jereissati (PSDB) com a senadora Simone Tebet (MDB/MS). Foto: Agência Senado.

A afirmação do senador cearense Tasso Jereissati, de o PSDB de hoje não ser o dele do fim da década de 1980, está na longa entrevista concedida ao jornal Valor Econômico, edição desta segunda-feira, 24 de janeiro. De fato, o PSDB atual está muito distante do ideário que justificou o seu nascimento em 1988, quando os seus fundadores abandonaram o então PMDB, insatisfeitos com os rumos desta agremiação, outrora o ponto de apoio de todos os políticos contrários ao Regime da época. Hoje, praticamente, não há diferença entre o PSDB e as demais siglas, principalmente quanto ao comportamento ético e fisiológico de alguns dos seus integrantes.

O partido, um dos maiores do País na época citada por Tasso, tanto no cenário nacional quanto no Ceará, de algum tempo aos nossos dias tem caminhado para ser um dos menores e sem o mínimo de estímulo para o eleitor voltar a ter confiança nos seus líderes. Na última eleição nacional acabou saindo menor, tão insignificante foi a votação do seu representante na disputa presidencial, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, até recentemente um dos melhores quadros da agremiação, praticamente expurgado dela pelas ações do governador paulista, João Doria, que chegou ao partido levado pelo próprio Alckmin para ser prefeito da Capital paulista e depois governador, sem sequer terminar o mandato de prefeito.

Doria atropelou todas as tradicionais e respeitáveis lideranças do PSDB. Mesmo sofrendo oposição velada e ostensiva, o governador tem o controle do tucanato. É por força própria o candidato escolhido pelo partido para ser o candidato a presidente da República. Ele venceu as prévias que os concorrentes juraram respeitar, embora uma expressiva parte da agremiação, notadamente “a velha guarda”, das prévias ficou distante. E é esta parte que quer detonar a campanha de Doria. Tasso é um dos líderes desse movimento, segundo registra o noticiário político nacional. Recentemente Tasso esteve com o ex-presidente Michel Temer, e na próxima semana reunir-se-á com outros tucanos para dar um ultimato a Doria, sob a alegação de que sua campanha está emperrada.

Não há sinais de algum líder tucano estar pendendo para Lula, mas nenhum dos respeitáveis do partido fez declaração contrária à possibilidade de Geraldo Alckmin ser candidato a vice-presidente na chapa de Lula. Ao contrário. O último, na semana passada, a falar sobre a provável candidato de Alckmin ao lado de Lula, foi o ex-senador e ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira, admitindo como uma boa. De sã consciência, nenhum dos velhos e tradicionais tucanos concordam com a tratativa de aliança de Alckmin com Lula, mas a ojeriza a Doria motiva o apoio a essa esdrúxula composição de chapa. Os tucanos “raiz” são contra Lula, e também, com mais intensidade, a Bolsonaro, o representante da direita radical da qual o PSDB sempre manteve-se distante, embora tenha feito uma aliança duradoura com o antigo PFL, do vice-presidente de Fernando Henrique, o pernambucano Marco Maciel.

Tasso não falou na entrevista em nome do PSDB, mas não está defendendo isoladamente as ideias expostas. A parte do tucano em que o cearense está situado quer um outro candidato a presidente da República. Doria não os representa. Antes do segundo turno não fica bem apoiarem o Lula. Ciro Gomes é indigesto para a maioria dos tucanos, e Tasso sabe disso. Moro é da mesma direita de Bolsonaro. O nome da senadora Simone Tebet, do MDB/MS, seria o caminho para os que estão do lado de Tasso. Ao Valor Econômico, o senador cearense disse ser ela “a candidata com maior possibilidade de chegar ao segundo turno”. “É a única que não tem um nível de rejeição impeditivo de crescimento. Além disso, tem um partido grande e forte, o MDB, é mulher e se destacou bastante na CPI da Covid”.

E concluiu: “Fazendo essa análise, eu acho que a imprensa, os políticos, estão subestimando aquela que é a candidata com maiores chances de ir ao segundo turno. O que significa? Pode continuar tudo como está até junho. Mas há espaço para uma reviravolta”. E mais uma vez Tasso reafirmou sua disposição de não mais ser candidato. “Não pretendo concorrer mais a nenhum mandato. Pretendo, a partir de 2023, não ter mais participação com mandatos na vida política. Evidentemente, a gente, que passou tantos anos na vida política, tem a obrigação de ajudar quando puder e for possível. Neste ano, estou me envolvendo um pouco mais do que eu queria em função da preocupação com o quadro eleitoral”.

Sobre o assunto, veja o comentário do jornalista Edison Silva: