Deputada Fernanda Pessoa e deputado Nelinho Freitas. Foto: Reprodução/Facebook/Nelinho.

A deputada estadual Fernanda Pessoa, eleita em 2018 com 58.275 votos, está deixando o partido para filiar-se ao União Brasil, a agremiação que nasce com a fusão do PSL com o DEM. Nelinho, o outro deputado estadual tucano, também eleito em 2018 com 42.779 sufrágios, segue o mesmo caminho de Fernanda. Com eles, estão trocando o PSDB pelo novo partido, o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa, e outros seus liderados, inclusive o ex-prefeito e um dos nomes apontados com futuro deputado estadual, Firmo Camurça. O PSDB, no pleito municipal de 2020, em Fortaleza, elegeu apenas um vereador, Jorge Pinheiro.

O PSDB, fundado no Ceará pelo senador Tasso Jereissati, participou de sua primeira eleição no Estado em 1990, com a candidatura de Ciro Gomes ao Governo do Estado, tendo como vice, Lúcio Alcântara. Tasso era governador e o partido elegeu, naquela oportunidade, 18 deputados estaduais com a soma de aproximadamente um terço do eleitorado cearense. Permaneceu grande até quando perdeu o Poder. Nas eleições de 2018, sequer apresentou chapa completa para a Assembleia e à Câmara dos Deputados. Além dos dois estaduais só Roberto Pessoa foi eleito deputado federal. Ele tinha chegado pouco antes da eleição ao partido, depois de perder o controle do PL, que passou a ser governista com a ex-deputada Gorete Pereira, o que significa dizer que a maioria dos votos recebidos pelo partido era mesmo de Roberto Pessoa.

A situação do PSDB cearense é a mesma de quase todos os partidos, exceção do PT, onde, a fidelidade partidária, ou ao ex-presidente Lula, faz a diferença. Agora mesmo, no plano nacional, a promessa de troca de partidos é grande, também pelo fato de o presidente Bolsonaro ter definido o seu novo partido, o PL. Este, de fato, já não é uma pequena agremiação em termos de representação na Câmara dos Deputados, pois concentra a terceira maior bancada naquela Casa do Congresso Nacional, perdendo apenas para o ainda PSL e o PT. Mas tornar-se-á o maior já a partir de abril quando da abertura do prazo para os parlamentares trocarem de agremiações sem as restrições da Lei da Fidelidade Partidária. Só não vai perder números expressivos de deputados o PT.

Os filiados de hoje não respeitam os seus próprios partidos, e nem por eles são respeitados. E, indiscutivelmente, também por isso, é que são muito frágeis as agremiações partidárias nacionais. Os políticos atuais, muito diferente daqueles de antes do golpe militar de 1964, quando foram extintas todas as agremiações existentes à época, antes de respeito aos seus partidos são, com honrosas exceções, serviçais do governante de plantão. Tomando-se o exemplo do Ceará, que é praticamente igual ao Federal, todo chefe do Executivo tem a maioria expressiva do Legislativo, conquistada em parte pelo voto e também pelas benesses oferecidas pelo Poder. Não existe pudor quando se trata de troca de partido para ficar perto do Governo. Foi assim com Tasso Jereissati governador e os subsequentes, Lúcio Alcântara, Cid Gomes e Camilo Santana.

A história política brasileira, a cearense em especial, não registra essa tão grande afronta ao eleitor de troca de partidos pelos seus representantes até a década de 1960. Os filiados ao PSD, e da UDN de outrora, ficavam onde estavam após os resultados das eleições. Se vencia a UDN, os aliados do PSD eram oposição e vice-versa. Também, diga-se por ser verdadeiro, nenhum deles sofriam a tentativa de aliciamento. Havia o respeito recíproco. E por isso aquelas legendas eram fortes, como eram as outras de menor porte. O PSDB cearense, é, assim, uma vítima desse sistema político-partidário atual, pois não soube conter as adesões indesejadas, aquelas que trouxeram a agremiação para onde está, embora tivesse sido fundada com propósitos realmente republicanos. E, pior, não tem perspectiva de recuperação para voltar a ser o que foi, inclusive governar o País.

As eleições do próximo ano, agora por força da legislação eleitoral, com o fim das coligações proporcionais, vão deixar alguns dos partidos sem representação na Assembleia Legislativa. São siglas menores, mais com os vícios da quase totalidade das tradicionais. Mas, por certo, o governador a ser eleito em 2022 terá o Legislativo estadual à sua disposição. E não será pelo elevado espírito público de todos os integrantes da nova composição daquela Casa, mas pelo desejo de vários ser Governo a qualquer custo.

Comentário do jornalista Edison Silva: