Ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-presidente da República, Lula da Silva. Foto: Divulgação/Facebook.

O encontro do ex-presidente Lula com o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, em um jantar previamente organizado para os dois e aliados na Capital paulista, domingo (19) à noite, ganharam as manchetes do noticiário político logo quando ambos chegaram ao ambiente. O inusitado de uma possível aliança entre eles, embora na política não exista o “impossível”, chama a atenção pelos seus posicionamentos políticos diametralmente opostos. Alckmin, um dos fundadores do PSDB, principal adversário do PT, acabou de deixar o partido por ter sido “engolido” pelo seu antigo afilhado, o governador João Doria, hoje, talvez, o seu principal adversário político.

Não se pode dizer, ainda, que Alckmin será candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Lula. Mas a empreitada é conveniente para ambos. E provavelmente mais para o próprio ex-governador que, embora prudente, como tem sido ao longo da sua vida pública, tem contas a ajustar com Doria, a quem introduziu no PSDB, o fez prefeito de São Paulo, contrariando algumas lideranças nacionais da agremiação, do seu próprio Estado, e também foi um dos artífices da candidatura do ex-prefeito, na metade do mandato, a governador do Estado. Doria retribuiu esses apoios negando-lhe o direito de ser novamente candidato a governador e, ato contínuo, filiando Rodrigo Garcia ao PSDB, o seu vice-governador, para ser candidato a governador, gerando, inclusive, uma indisposição com o DEM de quem o vice era filiado.

Se não fosse Alckmin, prudente, sem afetação e do diálogo, de pronto afirmaríamos que ele estava sendo vingativo ao estabelecer diálogo com o PT e Lula, posto ser este tão adversário de Doria quanto o é o presidente Bolsonaro, com a vantagem de Lula reunir, sem São Paulo, onde o PT tem uma base eleitoral significativa, mais força para derrotar o próprio Doria e o seu candidato a governador, mesmo que isso contribua para sucumbir o PSDB e, consequentemente, antigos correligionários do próprio Alckmin, que mesmo não aceitando a liderança do atual governador paulista preferem ficar no partido que fundaram, e que, por algum tempo, comandou os destinos do País.

Alckmin não é mais do PSDB, aliás, ele ainda não tem filiação partidária. Pode esperar até o dia 2 de abril do próximo ano, data limite para filiação de quem quer disputar mandato no pleito de 2022. Mas toda a sua movimentação de agora, sobretudo tratando-se de aliança com o ex-presidente Lula, só aumenta o desgaste dos tucanos na Capital paulista, o seu principal reduto, com consequências maiores para Doria. Ele sabe bem disso e arrasta a definição do seu futuro político, se na chapa com Lula ou candidato a governador, sempre tentando ampliar o ambiente de constrangimento para Doria, a quem tentou derrotar, indiretamente, nas prévias do PSDB, quando era escolhido o candidato do partido à Presidência.

Pouco ou quase nada influenciará a decisão de Alckmin no PSDB cearense. Mas já é possível admitir que o governador João Doria não terá um palanque forte no Ceará, diferentemente do que poderia acontecer se o candidato tucano viesse a ser o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, para quem o senador Tasso Jereissati fez campanha nas prévias do partido, exatamente contra o governador João Doria. Alckmin, em 2018, quando disputou a Presidência teve um palanque no Ceará, onde o partido lançou um candidato a governador, o general Guilherme Theophilo.

O resultado, porém, foi decepcionante para ambos. O general logo depois da derrota foi para a montagem do Governo de Bolsonaro, assim como também foi a candidata ao Senado na mesma chapa, Mayra Pinheiro. Esta foi para o Ministério da Saúde, e aquele para o Ministério da Justiça do ex-juiz federal Sérgio Moro, embora ambos (Guilherme e Mayra) fossem filiados ao PSDB. Do palanque cearense de Alckmin só salvou-se o senador Eduardo Girão. Ele derrotou o ex-senador Eunício Oliveira (MDB).

Comentário do jornalista Edison Silva: