Arte: Secom/MPF.

Uns poucos amigos conversavam, recentemente, sobre a corrida pelo voto de deputado federal nas próximas eleições, e concluíram que um pequeno grupo de cinco a seis candidatos já negociaram ou negociam mais de 20% dos votos a serem apurados. Eles precisam ter garantia de vitória, alguns até com a necessidade de mostrar liderança, e comprarão tantos quantos votos forem possíveis para ultrapassarem os 200 ou 250 mil votos, certos de que, nem sempre a quantidade comprada é a entregue. Eles querem estar prevenidos da conhecida “quebra” ou da velha traição.

Nas eleições municipais passadas, de prefeito nos 184 municípios cearenses, votaram um total de 5.455.549 eleitores, aproximadamente 87% dos aptos a votar. Nas eleições municipais é sempre menor a abstenção. Os candidatos às câmaras municipais têm mais apelo para levar o eleitor às urnas, também pelo fato do envolvimento do votante na disputa pelo cargo de prefeito. As eleições estaduais, embora atraentes, deixam os eleitores um pouco mais distantes, e acabam sendo estimulados pelos chamados cabos eleitores, ou, “os vaqueiros” como dizem os que exclusivamente elegem-se comprando quase a totalidade dos sufrágios. Para estes, sem ligação próxima com as comunidades interioranas, o eleitorado é um rebanho tangido por vaqueiros.

Sem as coligações partidárias, os atuais detentores de mandatos, mesmo aqueles que quase nada produziram ao longo da legislatura, levam certa vantagem. A maioria alimenta os prefeitos com as emendas parlamentares. E estas, lamentavelmente, acabam servindo mais como compra de votos do que propriamente de recursos para produzir bens e serviços para as respectivas comunidades. As finalidades das emendas dos deputados estão totalmente desvirtuadas. E agora, depois das tais emendas de relator, do denominado “orçamento secreto”, é que os recursos da União somam-se ao Fundo Eleitoral para multiplicarem os votos de correligionários de prefeitos.

A propósito, o jornal O Estado de S.Paulo, em sua edição de segunda-feira (13), publica uma extensa matéria sobre a liberação de recursos das emendas de relator, para apontar a cidade de Tauá, terra do deputado federal Domingos Neto, como um dos municípios brasileiros que mais receberam recursos das emendas de relator. O jornal paulista faz uma comparação dos recursos recebidos pela Prefeitura de Tauá, na Região dos Inhamuns, com o seu vizinho Município de Mombaça, cujo deputado federal mais votado lá, no pleito anterior, foi o Genecias Noronha. Domingos, foi o relator do Orçamento da União, em 2020, quando as tais emendas foram criadas pelo Congresso Nacional. E ele, de fato, exerceu as competências de relator.

Sem emendas parlamentares, a saída dos candidatos é a utilização do caixa dois. Os gastos que já estão sendo feitos hoje, como “sinal” do negócio a ser fechado nos próximos meses, não entrarão na contabilidade que começará a ser feita, oficialmente, após as homologações das candidaturas, no início do segundo semestre do ano chegante. E essas despesas antecipadas são imprescindíveis, pois sem elas não existem as preferências. E a preferência, saibam todos, não dá desconto no preço do voto, na tabela que for aplicada a partir de julho. O preço do voto, inclusive para quem tem a preferência, é o de mercado na devida época. Quem deixar para gastar só depois de ter o nome homologado em convenção pode correr o risco de ter o dinheiro e não ter o voto para comprar.

Sem dúvida, pela singularidade das eleições proporcionais do próximo ano, vamos ter uma corrida muito disputada em busca do voto. E, em consequência, o custo da campanha pode superar as expectativas até mesmo dos já agora prevenidos para despenderem uma elevada soma de recursos para conquistarem os mandatos no Congresso Nacional ou na Assembleia Legislativa, embora que para esta os percalços sejam menores.

Jornalista Edison Silva comenta: