Ciro Gomes (PDT) é a razão de uma provável federação de partidos liderada pelo PT com o PSB, e até o PCdoB. Essa novidade na política brasileira, criada em setembro passado, com a alteração da Lei dos Partidos, tem o propósito de socorrer as tradicionais agremiações que, por um determinado insucesso eleitoral, fique sujeita às regras criadas como cláusulas de barreira. O PT não precisa disso. Ao contrário, ainda é uma das maiores agremiações nacionais.

Como na disputa de 2018, quando o próprio ex-presidente Lula, mesmo preso, conseguiu impedir que o PSB aliasse ao partido de Ciro, optando por Fernando Haddad, a tentativa de fusão agora tem a mesma finalidade. Ciro, nas eleições municipais do ano passado, chegou inclusive a ter dificuldade no PDT, de Pernambuco, por ter forçado o partido a desistir da disputa pela Prefeitura de Recife para apoiar o hoje prefeito João Campos, abrindo espaço no PSB para uma aliança nacional em 2022. Ciro também fez concessões ao DEM, a partir de Salvador, onde o PDT deixou de ter candidato a prefeito para apoiar o nome indicado pelo ex-prefeito, Antônio Carlos Magalhães Neto, também com o mesmo objetivo.

Lula, recentemente, em sua viagem pelo Nordeste, quebrou arestas com o prefeito João Campos e sua família, uma parte forte do PSB nacional, e agora dá a cartada final para ter o partido como aliado, e, mais, distante de Ciro, o candidato carente de alianças para garantir um melhor espaço na propaganda eleitoral no rádio e televisão. A federação de partidos, confirmada pela Justiça Eleitoral, faz de todos os integrantes da federação um só partido durante o período de quatro anos. Assim, uma federação com o PT no meio faz todos os demais integrantes, liderados de Lula. É possível, até, que numa federação, o PT, propriamente dito, perda algumas vagas na Câmara para os integrantes da federação.

Mas essa perda é apenas nominal, pois as obrigações da federação tornam todos os deputados liderados de Lula. Por outro lado, embora houvesse alguma perda em relação ao número de deputados, com a federação o PT terá uma grande vitória que é a redução dos espaços de Ciro conquistar o apoio tão importante para o PDT, que é a aliança com o PSB. Ciro, embora Lula apareça no cenário atual como o principal favorito na disputa do próximo ano, seguido pelo presidente Bolsonaro, é o principal adversário de Lula. O seu discurso é forte, e o ex-presidente sabe muito bem disso. Com espaço na propaganda eleitoral esse discurso ficaria mais potencializado e, consequentemente, mais desfavorável ao petista.

Portanto, toda a engenharia petista é para evitar que partidos fora do campo da direita, estes já comprometidos com Bolsonaro, e provavelmente com Sergio Moro, aliem-se a Ciro. O pedetista cearense, claro, sabe da estratégia do seu adversário e tem reagido com as fortes declarações. Essa federação, ainda em construção, não refletirá na sucessão estadual, se mantida for a aliança do PT com o PDT para a eleição de um pedetista governador, e um petista, o Camilo Santana, para o Senado. Mas, embora a relação política de Camilo com Cid e Ciro Gomes seja muito sólida, não nos surpreendamos com uma ruptura. Entre Ciro e Lula os ânimos estão muito agitados.

Ciro é um nome nacional, mas o seu universo continua sendo o Estado do Ceará. E ele sabe, também, que o projeto de Lula não é apenas o de afastá-lo do cenário da sucessão presidencial. O ex-presidente e seus liderados não perdoam as acusações feitas por Ciro, e como sabem que não haverá conciliação, têm certeza que elas continuarão enquanto o líder político cearense aqui estiver fortalecido.

Jornalista Edison Silva comenta: