Sergio Moro e Ciro Gomes buscam se consolidar como Terceira Via. Fotos: Montagem/Divulgação.

O ex-ministro da Justiça e o juiz, enquanto ainda togado, que foi o protagonista da Lava Jato, a ação judicial de maior repercussão nacional, nos últimos anos, Sergio Moro (Podemos), passou a ser, desde agora, o terceiro alvo das críticas do presidenciável Ciro Gomes (PDT), na luta sucessória pelo governo federal. Até ao ato de filiação de Moro, os alvos de Ciro eram o atual presidente Jair Bolsonaro (ainda sem partido) e o ex-presidente Lula (PT). Moro fez nesta quarta-feira (10) o seu primeiro discurso como pré-candidato à Presidência da República, momentos antes de sua primeira filiação partidária.

Ciro, cujas ações como pré-candidato estavam suspensas, desde a última semana, a partir de quando a maioria da bancada do PDT na Câmara dos Deputados votou a favor da PEC dos Precatórios, ontem (9), publicou em suas redes sociais um agradecimento aos deputados pedetistas por terem atendido o seu apelo, e votado contra, infrutiferamente, à aprovação da PEC, em segundo turno, aproveitando para tecer críticas ao presidente Bolsonaro e ao ex-presidente Lula, assim como ao pré-candidato Sergio Moro, a quem chamou de “calouro”. De fato, no momento, embora vários outros nomes estejam postos como candidatos da terceira via, contra a polarização entre o atual e o ex-presidente, a oficialização do nome de Moro o coloca no rol dos que mais próximo podem estar dessa sonhada via.

O discurso de Moro, com respeito aos que pensam diferente, foi equilibrado e merecedor de consideração, apesar da insistência do combate à corrupção, tema significativo, mas não tanto para ser o carro-chefe de discurso à Presidência da República. Ele atacou questões fundamentais para a administração pública nacional, acusando o atual Governo, sem citá-lo especificamente, de não estar cumprindo os compromissos assumidos como candidato, além de ter entrado no jogo da política que condenava. Moro falou do desemprego, da falta de atenção, como deveria, da pandemia e suas consequências, da educação, das desigualdades e outros temas caros à sociedade brasileira.

Ciro, ao elegê-lo como um dos principais adversários, deve ter informações privilegiadas para tal. Particularmente, não vejo em Moro, como não via em outros magistrados que deixaram a toga para entrar na política partidária, como um candidato que venha a empolgar o eleitorado. Nós já tivemos um Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, famoso como relator do Mensalão, responsável pela cassação de mandatos de deputados federais e outras condenações, uma ministra do Superior Tribunal de Justiça e Corregedora-geral da Justiça, Eliana Calmon, o ministro Paulo Costa Leite, que deixou a presidência do Superior Tribunal de Justiça (STJ), depois de uma administração revolucionária naquela Corte, para ser candidato a vice-presidente da República na chapa de Anthony Garotinho, além de outros que só decepção tiveram na política, e dela desistiram de vez. Moro, não tem nada além desses, que motive a se pensar que ele alcance o sucesso não encontrado pelos outros na política, onde “o ramo é difícil”.

Ciro, volta às atividades de pré-candidato a presidente da República fortalecido com a decisão da bancada federal do PDT, que na sua quase totalidade reverteu a posição adotada no primeiro turno da votação da PEC dos Precatórios, realmente condenada por praticamente todos os pré-candidatos à sucessão presidencial, mas que só ele teve a coragem de publicamente manifestar-se contrariamente. Sua posição não foi suficiente para derrotar o Governo, apoiado pelo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, mas contribuiu para a ampliação do debate e mostrar que o partido tem um comando, mesmo deixando constrangido alguns deputados aliados que, eufóricos, chegaram a declarar ser irreversíveis suas posições, posto terem dado suas palavras que votariam sim e acabaram votando não.

Jornalista Edison Silva comenta as consequências da entrada do ex-juiz Sergio Moro no jogo político partidário: