Unidade da Polícia Militar Nacional da Itália. Foto: Reprodução/ConJur.

O jornalista Jamil Chade divulgou, pelo Twitter, uma queixa registrada nesta segunda-feira (01/11) após homens que faziam a segurança do presidente Jair Bolsonaro agredirem representantes da imprensa durante a cobertura do encontro do G20 em Roma.

O jornalista da Globo, Leonardo Monteiro, foi agredido com um soco no estômago por um agente de segurança de Jair Bolsonaro depois de perguntar ao presidente por que ele não tinha participado de alguns encontros da cúpula do G20 em Roma.

Segundo o portal G1, Jamil Chade filmou a agressão para tentar identificar o responsável, mas o segurança também o empurrou, agarrou pelo braço para torcê-lo e levou o celular do repórter. Mais adiante, atirou o aparelho na rua.

Globo afirmou, em editorial, que está buscando informações sobre os procedimentos necessários para solicitar investigação para as autoridades italianas. Não foi possível saber se o agressor do repórter era policial ou segurança particular do presidente.

”Denúncia feita agora em Roma, pela agressão que sofremos em plena cobertura presidencial. Em 21 anos como correspondente, foram 70 países e vários presidentes. Mas violência em cúpula foi a 1ª vez. Silêncio revelador por parte do Itamaraty e Presidência. Não vencerão. Nunca”, afirmou Jamil Chade em tweet.

A violência começou porque, enquanto presidentes de outros países davam entrevistas coletivas, Bolsonaro foi se encontrar com apoiadores. Os jornalistas brasileiros se aproximaram para fazer perguntas, e foram hostilizados pelo presidente. Quando o correspondente da Globo se identificou, ouviu de Bolsonaro: “É da Globo? Você não tem vergonha na cara.”

Mesmo antes de Bolsonaro chegar à embaixada, uma assistente da Globo foi hostilizada pelos apoiadores do presidente, chamada de “infiltrada”. Depois, quando seguranças e policiais italianos chegaram, um agente empurrou a jornalista Ana Estela de Sousa Pinto, da Folha de S.Paulo, e disse para ela se afastar do local.

Segundo relatos de um jornalista da BBC, a truculência não se estendeu aos apoiadores do presidente. Vários deles, usando as cores do Brasil, se aproximaram de Bolsonaro. Parte dos manifestantes também xingou e hostilizou os jornalistas.

No editorial, a Globo atribuiu o episódio à “retórica beligerante do presidente Jair Bolsonaro contra jornalistas”. “Essa retórica não impedirá o trabalho legítimo da imprensa. Perguntas continuarão a ser feitas, os atos do presidente continuarão a ser acompanhados e registrados. É o dever do jornalismo profissional. Mas essa retórica pode ter consequências ainda mais graves. E o responsável será o presidente.”

Folha, por sua vez, divulgou nota dizendo que “repudia as agressões sofridas pela repórter Ana Estela de Sousa Pinto e outros jornalistas em Roma, mais um inaceitável ataque da Presidência Jair Bolsonaro à imprensa profissional.”

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) também divulgou nota, afirmando que “repudia com veemência e indignação as agressões sofridas por jornalistas brasileiros na cobertura das atividades do presidente Jair Bolsonaro em Roma. A violência contra os jornalistas, na tentativa de impedir seu trabalho, é consequência direta da postura do próprio presidente, que estimula com atos e palavras a intolerância diante da atividade jornalística. É lamentável e inadmissível que o presidente e seus agentes de segurança se voltem contra o trabalho dos jornalistas, cuja missão é informar aos cidadãos. A agressão verbal e a truculência física não impedirão o jornalismo brasileiro de prosseguir no seu trabalho. A ANJ espera que os atos de violência cometidos contra os jornalistas sejam apurados e os culpados, punidos. A impunidade nesse e em outros episódios é sinal de escalada autoritária.”

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) disse que “repudia mais esse ataque à imprensa envolvendo a maior autoridade do país. Ao não condenar atos violentos de seus seguranças e apoiadores a jornalistas que tão somente estão cumprindo seu dever de informar, o presidente da República incentiva mais ataques do gênero, em uma escalada perigosa e que pode se revelar fatal. Atacar o mensageiro é uma prática recorrente do governo Bolsonaro que, assim como qualquer outra administração, está sujeito ao escrutínio público. É dever da imprensa informar à sociedade atos do poder público, incluindo viagens do presidente no exercício do mandato. E a sociedade, por meio do art 5º da Constituição, inciso XIV, tem o direito do acesso à informação garantido.”

Já o Conselho Federal da OAB, por meio de sua Comissão de Liberdade de Expressão, afirmou que “repudia  ataques dos seguranças do presidente aos jornalistas que cobriam sua passagem em Roma. Lamentável que incidentes como esse ocorram, refletindo uma postura frequente de desrespeito ao trabalho dos profissionais de imprensa”. A nota é assinada por Felipe Santa Cruz, presidente da OAB Nacional e Pierpaolo Bottini, presidente da Comissão de Liberdade de Expressão da OAB Nacional.

Fonte: ConJur.