Depois da discussão no plenário, Inspetor Alberto foi ao Cuca José Walter e arrancou as placas informativas. Foto: CMFor.

Uma placa instalada em banheiros da Rede Cuca – Centros Urbanos de Cultura e Arte – da Prefeitura de Fortaleza contra a transfobia gerou revolta entre vereadores conservadores da Câmara Municipal. O assunto foi levantado durante a sessão plenária de quinta-feira (28), o que levou um dos parlamentares a se deslocar até uma das unidades de cultura e arte para retirar o informativo. O caso foi parar na delegacia.

O vereador Jorge Pinheiro (PSDB) levou o assunto à tribuna, e em discurso cheio de emoção, afirmou que a Casa Legislativa não iria aceitar que algo desse tipo acontecesse. O tucano chegou a cobrar uma resposta da Prefeitura e do líder do Governo, Gardel Rolim (PDT), que não respondeu às provocações do colega.

De acordo com a placa, o banheiro seria de uso para todas as pessoas que se identificassem com determinado gênero, seja ela cis, não-binária ou trans. “Isso não pode ser imposto na nossa sociedade. Em Fortaleza, não. Fortaleza não quer a imposição da ideologia de gênero para esse povo”, disparou.

Priscila Costa (PSC) também se posicionou sobre o assunto. “É um movimento hipócrita que serve a esta ideologia de gênero, vindo proteger partidos e agendas ideológicas”.

O vereador Carmelo Neto (Republicanos) chegou a insinuar que este tipo de placa poderia influenciar para a ocorrência de crimes sexuais contra adolescentes.

Ronivaldo Maia (PT) destacou que, ao contrário do que estavam falando alguns de seus pares, os Cucas estão servindo para atender a juventude “que passa longe de mandatos de falsos moralistas”.  Dr Vicente (PT) destacou que há uma mudança no comportamento das pessoas e que não preocupação pela maior parte da população com o tema.

Os vereadores Adriana Nossa Cara (PSOL), Gabriel Aguiar (PSOL) e Júlio Brizzi (PDT) partiram em defesa da comunidade LGBTQIA+. Adriana criticou falas de Carmelo Neto que quis, em sua avaliação, colocar pessoas não-binárias e trans como estupradoras. “O banheiro é apenas a ponta do iceberg desse ódio verbalizado na Câmara”.

Para Júlio Brizzi, o debate na Casa poderia ser melhor aproveitado. Em sua avaliação, muitas das vezes, o posicionamento dos conservadores da Câmara chega próximo à ignorância ou apenas demarcação política. Para Gabriel Aguiar, “a vontade de muita gente é negar a existência das pessoas trans, de negar a existência de pessoas LGBTQIA+. Não querem sequer que essas pessoas existam, como muito tempo tentaram fazer com as minorias”.

Pontual

Em contato com a Rede Cuca, o vice-líder do Governo, Professor Enilson (Cidadania), afirmou que as placas não faziam parte de qualquer ação normativa do órgão, sendo uma decisão pontual. Jorge Pinheiro questionou se os informativos seriam retirados e que, caso isso não acontecesse, levaria o tema à tribuna, mais uma vez, na próxima semana.

Ainda na tarde da quinta-feira, o vereador Inspetor Alberto (PROS), teria se deslocado até um dos Cucas e retirado as placas informativas. Durante a confusão, o parlamentar teria destratado algumas servidoras do local, que registraram Boletim de Ocorrência contra Alberto. Ele também fez registro contra as funcionárias. O Fórum LGBT protocolou, na tarde desta sexta-feira (29), junto à Procuradoria Geral de Justiça, representação criminal o vereador bolsonarista.

Abuso de autoridade

Na manhã desta sexta-feira (29), representantes do Departamento de Grupos Vulneráveis da Policia Civil e da Delegacia de Combate e Exploração da Criança e Adolescente estiveram reunidos com a presidente do Instituto Cuca, Kilvia Cristina (MDB), que prestou esclarecimentos sobre o ocorrido com Alberto.

Em nota, a Rede Cuca esclarece que o parlamentar adentrou o Cuca José Walter “de forma arbitrária e removeu as placas de sinalização que comunicam a permissão de utilização dos banheiros da Rede por pessoas trans e não binárias”. Segundo o texto, Inspetor Alberto causou danos ao patrimônio público e gerou constrangimentos aos colaboradores e usuários do equipamento. “Esse ato de abuso de autoridade e violação dos direitos humanos não será tolerado e as devidas providências serão tomadas”.