Senador Cid Gomes cumprimenta o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT), sob os olhares do governador Camilo Santana (PT). Foto: Facebook/cidgomes.

A base aliada do Governo estadual está parecendo com as sublegendas do PDS, um dos dois partidos impostos pela Regime autoritário instalado no Brasil em 1964. O PDS, que antes era Arena (Aliança Renovadora Nacional), reunia todos os apoiadores dos militares no Poder, embora a divergência entre eles fosse demasiada. E por isso os generais governantes aceitaram criar, em 1977, as chamadas sublegendas, até três partidos dentro do PDS, para manter a sua base de sustentação. No Ceará, as três sublegendas eram comandadas pelos coronéis Virgílio Távora, Adauto Bezerra e Cesar Cals. Eles eram adversários entre si e do PMDB, o segundo do período do bipartidarismo.

Os coronéis do PDS, embora participassem do mesmo Governo, só em um momento uniram-se em torno de uma chapa majoritária que acabou sendo derrotado, sucumbindo-se todos. Naquele momento já havia sido criado o apêndice do PDS, o PFL, que ficou com Adauto. Foi em 1986, quando o governador Gonzaga Mota, escolhido em 1982 por Virgílio e Cesar contra Adauto, decidiu abandoná-los e ajudar a eleger Tasso Jereissati que disputava contra Adauto Bezerra, à época vice de Gonzaga. Tasso foi eleito governador pelo PMDB, junto com Mauro Benevides e Cid Carvalho para o Senado. Cesar Cals na mesma eleição foi derrotado para o Senado, tendo como suplente o mais significativo amigo político de Virgílio, Manoel de Castro, ex-governador do Ceará.

Hoje, embora num ambiente totalmente diferente, pois vivemos uma Democracia, os principais partidos da base aliada estão repetindo a convivência daquela época. O PT do governador Camilo Santana, embora com menos deputados estaduais, prefeitos e vereadores que o PDT, fala em vetar Roberto Cláudio, o nome melhor avaliado pelas pesquisas para disputar o Governo. E o PT é o primeiro partido da aliança a ter garantido, antecipadamente, um nome na chapa majoritária, que é o próprio Camilo, candidato a senador. O PSD, com o segundo maior número de prefeitos da coligação, quer o lugar de vice-governador, mas sofre restrições no próprio PDT e no PP, o partido com maior tempo de propaganda eleitoral da aliança governista.

E há vários outros questionamentos, óbvio, todos já do conhecimento da principal liderança do grupo governista, o senador Cid Gomes, que, habilidoso, tem tratado com os representantes de todas os partidos da aliança sem falar em composição do restante da chapa, no caso do candidato a governador e do seu vice, posto que a primeira suplência de Camilo, outra posição cobiçada, será de escolha dele governador. Todos os aliados do Governo, os mesmos desde a escolha do nome do governador Camilo Santana para disputar o primeiro mandato, sabem que o espaço na política cearense continua muito curto. E como a oposição não é atraente e poucos deles não sabem ou não têm coragem de fazer política tendo o Governo como adversário, aquietar-se-ão com a palavra final do chefe.

Foi assim em 2014, quando queriam ser candidato a governador Domingos Filho, vice-governador no segundo mandato de Cid Gomes; Zezinho Albuquerque, presidente da Assembleia à época; Mauro Filho, secretário da Fazenda; e Izolda Cela, que compunha o quarteto. Na véspera da convenção para homologação das candidaturas, Cid reunidos com eles resolve chamar Camilo Santana, secretário do Governo Cid, e o apresenta aos demais como o candidato a governador, dando a Zezinho a preferência de escolher o lugar de vice-governador ou de senador. Ele recusou. Foi então decidido que o lugar de vice seria de Izolda Cela e Mauro Filho o candidato a senador. Este pediu tempo para responder, e só algumas horas depois aceitou disputar com o hoje senador Tasso Jereissati.

Em 2018, como já estavam escolhidos os candidatos a governador e vice, e uma das duas vagas de senador seria disputada pelo próprio Cid Gomes, a única dificuldade surgida foi conciliar a composição com o MDB para ter o ex-senador Eunício Oliveira na chapa para o Senado. Uma parte dos liderados de Ciro Gomes não engoliu o acordo para votar em Eunício e este acabou sendo derrotado.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre a disputa na base dos partidos governistas para a escolha da chapa que vai concorrer ao Governo do Ceará em 2022: