Arte: Secom/MPF.

Apavorado, faltando um ano para o encerramento do primeiro turno das eleições de 2022, que ocorrerá exatamente do dia 2 de outubro daquele ano, um dos bons parlamentares estaduais cearenses comentava, em tom de lamentação, sobre o custo da campanha eleitoral, apontando-o como principal empecilho para a reeleição de alguns dos seus colegas, e, por extensão, o desestímulo ao ingresso de pessoas comprometidas com as razões do existir da boa política em disputas eleitorais futuras.

Os cabos eleitorais do passado, hoje conhecidos como “vaqueiros”, já agora estão pedindo a candidatos carro e alguns empregos públicos, para iniciar o trabalho de aliciamento do voto, prática deplorável mas exercitada pela quase totalidade dos políticos. E tem pretenso candidato com acordos já firmados nesses moldes, embora que a tal negociação, com tanta antecedência do pleito, represente apenas um sinal para a garantia da preferência dele ao candidato.

Realmente, o comentado custo das próximas eleições não é apenas só mais um discurso repetitivo, feito a cada pleito municipal ou geral. Alguns próprios detentores de mandatos e estreantes, com facilidades junto aos governos, irresponsavelmente usam a máquina pública para distribuir benefícios, de modo doloso, que acabam transformando-se em dinheiro. O fim das coligações proporcionais é a principal razão do encarecimento da campanha para quem quer ser deputado. Os candidatos majoritários também terão que gastar bem mais, embora não pelas mesmas razões dos proporcionais.

No pleito de 2018 o valor do voto para postulantes ao Legislativo estadual, pela avaliação dos que não tinham o chamado “serviço prestado”, ou não estavam enfronhados nos governos, era estipulado em R$ 50, e para os em situações idênticas, mas pretendentes a cadeiras na Câmara Federal, o preço era o dobro, R$ 100, desembolsados com certa antecipação, como fazem aqueles candidatos dos governos ao distribuírem os empregos temporários ou liberarem obras que tendem a acabar sendo superfaturadas. Para estas ainda temos as tais emendas parlamentares, federais em maior volume de dinheiro, e estaduais com menos.

As emendas parlamentares continuam sendo uma excrescência, guardada as exceções de regra. Os parlamentares, podem e devem ter recursos para liberar a seus estados, além daqueles distribuídos pelo Executivo, mas nunca como hoje se faz, onde ela tem como finalidade ser uma moeda para compra e venda de votos, tanto que vez por outra, quando o vendedor não entrega a mercadoria (o voto) as denúncias tomam conta do noticiário. Sem critério de distribuição e uma fiscalização mais efetiva dos recursos, as emendas também influirão na inflação do valor do voto.

A concorrência entre os candidatos em 2022 será bem maior. Provavelmente não teremos eleitos para a Assembleia com menos de 50 mil votos. Nem para a Câmara dos Deputados com menos de 90 mil sufrágios. Em 2018, dos 22 deputados federais 5 elegeram-se com menos de 90 mil, e dos 46 parlamentares estaduais 10 foram eleitos com menos de 50 mil. O último destes somou 24.591 votos. As coligações proporcionais contribuíram para esse resultado, embora o PROS, que elegeu o deputado menos votado, tenha disputado sem coligação.

É muito provável que integrantes do Ministério Público Eleitoral já estejam reunindo provas sobre os desvios conhecidos do mundo político quanto aos aliciamentos patrocinados por vorazes figuras que querem a todo e qualquer custo ter um mandato legislativo. Lamentavelmente, para prejuízo da sociedade, não alcançarão resultado pleno. Em todas as últimas eleições o trabalho dos agentes da fiscalização na busca de inibir e impedir a prática dos crimes eleitorais fica sempre aquém do necessário. Infelizmente, boa parte dos próprios eleitores colabora com os políticos inescrupulosos.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre os malefícios da compra de votos: