É conveniente, para os dirigentes de PDT e PT, minimizar os fatos ocorridos em São Paulo, sábado passado (03), quando o presidenciável Ciro Gomes (PDT) foi hostilizado, durante e após o seu discurso no evento multipartidário a favor do impeachment do presidente Jair Bolsonaro. O nível de tensão entre aliados do ex-presidente Lula (PT) e de Ciro, mesmo tão distante da campanha eleitoral propriamente dita, sinaliza para uma luta irracional entre eles, com consequências ruins para a disputa no Ceará, onde, paradoxalmente, as duas siglas podem estar aliadas para conquistar as vagas de governador e senador.

A disputa entre Ciro e Lula, por óbvio, será mais intensa aqui do que em qualquer outro Estado. Um grupo de petista, embora ao longo dos últimos anos tenha tirado proveito da aliança com o PDT de Ciro e Cid Gomes, faz um discurso de oposição, sendo aliado. No primeiro Governo de Cid Gomes, o vice-governador foi o petista Professor Pinheiro. No segundo período de Cid governador, vários petistas fizeram parte do Governo. O segundo mandato de Luizianne como prefeita de Fortaleza, foi conquistado com a ajuda de Cid, que indicou como vice-prefeito o hoje deputado estadual Tin Gomes.

É verdade que ao longo desse tempo vários incidentes aconteceram. Politicamente naturais, mas ficaram tão marcados que nem a indicação do nome de Camilo Santana para governador do Ceará, pelos irmãos Ciro e Cid, ensejou uma melhor convivência. E a sucessão de Luizianne, vencida por Roberto Cláudio (PDT), azedou de vez a relação de certos petistas com os governistas, incluindo aí o próprio governador Camilo Santana, a quem esses rebeldes tratam como adversário do partido por não contestar os ataques que Ciro tem feito aos petistas e ao próprio ex-presidente Lula, nem romper a aliança que mantém fortalecido o PDT.

Todas as lideranças governistas, mesmo tendo o governador Camilo Santana como candidato ao Senado, apoiado pelo PDT, trabalharão para uma vitória de Ciro Gomes no Ceará contra o petista Lula e o presidente Bolsonaro, ainda sem partido. O PT em defesa da candidatura de Lula vai querer ganhar no discurso. E este, sem dúvida, será focado em críticas e acusações a Ciro, mais do que propriamente de reconstrução da imagem do ex-presidente, ainda abalada com as decisões judiciais que o condenaram, inclusive à prisão, embora todas essas condenações tenham sido anuladas quando o Supremo Tribunal Federal considerou o ex-juiz Sergio Moro parcial na condução das ações criminais contra o ex-presidente.

A aliança do PT com o PDT no Ceará é sustentada pelo governador Camilo Santana, parcialmente isolado no partido, e pelo deputado federal José Guimarães, hoje a principal força do diretório estadual da agremiação. Guimarães, ao contrário de Camilo, ainda tem dado alguma declaração contra as críticas e acusações de Ciro a Lula. Camilo, em nenhum momento saiu em defesa do ex-presidente, ao contrário, sempre tem buscado e conseguido até aqui, contornar algumas dificuldades com o próprio Lula, que, em sua última passagem por Fortaleza, para desespero dos petistas adversários do PDT local, afiançou a manutenção da aliança entre os dois partidos com Camilo candidato ao Senado, e o PDT indicando um nome para suceder o governador.

Ciro, não mudará o seu discurso em relação ao ex-presidente Lula. E talvez por isso faz a advertência de que passado o momento de apoio ao impeachment de Bolsonaro, todos devem voltar para a defesa dos seus interesses políticos que reúnem os projetos para mudar a administração pública nacional e mostrar quem é quem na disputa presidencial, numa clara demonstração de continuar responsabilizando o PT por algumas mazelas das administrações do próprio ex-presidente Lula e as da sua indicada, ex-presidente Dilma. Os petistas, óbvio, reagirão, elevando também a temperatura da disputa estadual que, pode até beneficiar a oposição, representada pelo candidato que comandará o palanque de Bolsonaro no Ceará.

Jornalista Edison Silva comenta a briga entre Ciro e Lula e as consequências nas eleições do Ceará: