Presidente da Câmara, vereador Antônio Henrique (PDT). Foto: CMFor.

A Câmara Municipal de Fortaleza realizou na manhã desta terça-feira (28) duas palestras que evidenciaram a importância de se normalizar o cuidado com a saúde mental, como forma de prevenção e combate ao suicídio. O evento é mais uma ação da campanha “Setembro Amarelo”, promovida pelo Legislativo Municipal.

Durante a abertura do evento, o presidente da Câmara, vereador Antônio Henrique (PDT) destacou a preocupação do Legislativo em pautar e discutir políticas públicas voltadas para a prevenção do suicídio, principalmente na infância e adolescência, apontando a necessidade de um olhar mais profundo para o cuidado com a saúde mental.

O presidente aproveitou a ocasião para realizar o lançamento da cartilha “Viver com Alegria: Prevenção da Automutilação e do Suicídio Infanto-juvenil”.

O material apresenta os sinais de alerta e orienta os pais, educadores e sociedade em geral sobre o enfrentamento da problemática, abordando as formas de intervenção e cuidados que devem ser adotados para que as crianças e adolescentes sejam acolhidos e recebam o acompanhamento psicológico antes de chegarem a consequências drásticas.

“Nós vemos com preocupação o número de casos sobretudo na infância e adolescência e não podemos ficar de braços cruzados. Precisamos conhecer melhor as causas, estarmos atentos aos sinais de alerta e garantir que o Poder Público, escola e a própria família sejam uma rede de apoio para que juntos possam evitar consequências mais severas”, destacou.

A primeira palestra “Preservando Vidas e Construindo Cuidado” foi ministrada pela psicóloga Mariane Pedrosa, que defendeu a importância do trabalho preventivo e a normalização do cuidado com a saúde mental.

“Precisamos normalizar o cuidado com a saúde mental para que as pessoas tenham esse acompanhamento de forma preventiva e não somente quando o estado já é grave”, ponderou.

Segundo a psicóloga, é preciso agregar a temática na sociedade, para a conscientização de que há coisas no cotidiano que podem ser evitadas, como o bullying, situações de exclusão, preconceito, fofocas, relações tóxicas. “Se isso é trabalhado com todos, há uma conscientização maior e respeito às diferenças, e isso já é um processo de prevenção ao suicídio”, alertou.

Com a temática “Viver com Alegria: Prevenção da Automutilação e do Suicídio Infanto-juvenil”, a segunda palestra contou com a participação da autoras da cartilha, a coordenadora do CAPS infantil, enfermeira e advogada Ana Paula; a psicóloga da infância e adolescência, Kaliny Oliveira e a médica psiquiatra da infância e da adolescência, Perpétua Thais.

Ana Paula abordou a incidência de casos de depressão, automutilação e até mesmo de suicídio em crianças, que aumentaram na pandemia, chamando atenção para a saúde mental infantil. “A gente pensa que acontece só com adolescentes de 16 anos, mas estamos atendendo muitos casos de crianças de 7 a 8 anos com automutilação e tentativa de suicídio. E isso é muito grave e algo que nos assusta”, alertou.

De acordo com a psicóloga da infância e adolescência, Kaliny Oliveira, o adoecimento mental das crianças são reflexos de uma cobrança cada vez maior da sociedade e o uso sem monitoramento e excessivo da internet.

“A criança desenvolve uma série de atividades, é o curso de inglês, aulas de reforço escolar, curso de informática, atividades físicas, e a sociedade impondo cada vez mais. Outro vilão é a internet. Seu uso inadequado é um potencial adoecedor enquanto saúde mental pois muitas vezes não há um monitoramento necessário. E o terceiro é a prevalência dos transtornos mentais na infância e adolescência, que foram intensificados agora com a pandemia”, afirmou.

A médica psiquiatra da infância e da adolescência, Perpétua Thais também apontou alguns gatilhos agravados com a pandemia. “A família passou a conviver mais e infelizmente a brigar mais também. Nossos adolescentes estão meio que perdidos e isolados nos quartos pois hoje não há mais aquela reunião da família na sala. A dinâmica familiar conturbada, as perdas parentais com a Covid-19. Tudo é fator de risco para suicídio. E não se acredita que ele pode entrar em depressão. Os próprios pais acham que aquele comportamento é para chamar atenção. Pode deprimir e a prevalência nessa faixa etária é alta”, ponderou.

Thaís também defendeu a normalização da saúde mental e do tema. “A gente precisa normalizar também essa assistência para que não passe desapercebido e esse adolescente ou criança não tenha sido acolhido. Passou na rede de saúde básica uma criança com sintomas físicas, dor de cabeça, de barriga quando vai para a escola. Será que isso é só uma virose, um problema gástrico. Vamos investigar, essa criança pode estar sofrendo bullying na escola ou algum tipo de violência em casa. Quantos casos não temos?, refletiu.

Fonte: CMFor.