O empresário Marcos Tolentino compareceu para depor após a justiça garantir à CPI a possibilidade de fazer condução coercitiva. Foto: Agência Senado.

O empresário e advogado Marcos Tolentino disse à CPI da Covid do Senado Federal, nesta terça-feira (14), que mantém há muitos anos relação de “respeito e amizade” com o líder do governo, deputado Ricardo Barros (PP/PR), e “nada mais que isso”.

Ele informou também que esteve na CPI em julho passado para acompanhar o depoimento do parlamentar e o fez na condição de amigo, sem a intenção de afrontar a Comissão.

Integrantes da CPI já sabiam que o empresário era ligado ao deputado, apontado por senadores como articulador de negociações sob suspeita de irregularidades.

O nome de Barros foi apresentado à comissão pelo servidor público Luis Ricardo Miranda e o irmão dele, o deputado Luis Miranda (DEM/DF), quando denunciaram irregularidade e superfaturamento no contrato de compra da vacina indiana Covaxin, da Bharat Biotech. Os irmãos levaram a denúncia ao presidente da República, Jair Bolsonaro, que então teria mencionado o nome de Ricardo Barros.

“Sobre a minha ligação com  Ricardo Barros, trata-se de um conhecido há muitos anos, desde que eu morei em Curitiba e que residi na cidade. Até hoje, mantenho com ele vínculo de respeito e amizade, nada mais do que isso. Em relação a meu comparecimento à CPI, quero pedir até desculpa se algum senador ter interpretado como ofensa. Não foi proposital. Não gostaria que levassem como alguma afronta… Peço até desculpa sobre isso”, declarou Tolentino, apontado pelo relator da CPI, Renan Calheiros, como o verdadeiro dona da FIB Bank, que ofereceu garantia à Precisa Medicamentos na negociação de vacinas com o governo federal.

Integrantes da CPI estão convencidos da participação de Barros em negócios irregulares no governo. O presidente da comissão parlamentar de inquérito, senador Omar Aziz (PSD/AM), chegou a dizer que o deputado é “onipresente e intocável” perante o presidente da República, que não o afastou da liderança do governo.

“Mesmo que a gente mostre aqui e desnude o líder na Câmara, isso não vai mudar nada não, pois ele vai continuar lá. Talvez o presidente escreva uma nota um dia pedindo desculpas também por tê-lo mantido até hoje como líder dele”, ironizou.

FIB Bank

O advogado e empresário Marcos Tolentino negou ser sócio oculto do FIB Bank, que avalizou um contrato da Precisa Medicamentos com o Ministério da Sáude. Ao citar um quadro grave de covid-19, ele rebateu afirmações de que teria intermediado a venda de vacinas indianas. Segundo o empresário, ele se tornou sócio em um grupo de empresas com Edson Benetti, já falecido. Disse que fez parte da Benetti Prestadora de Serviços, mas que se desligou do quadro societário há 12 anos. A partir daí, segundo Tolentino, por ter imóveis, ativos e precatórios em comum com algumas empresas dessa antiga sociedade, ele possui procuração que o ligaria ao atual sócio, Ricardo Benetti.

Quem é o dono da FIB Bank? Diante da questão, Marcos Tolentino disse que ficaria em silêncio. O relator, Renan Calheiros (MDB-AL), e outros senadores, como Tasso Jereissati (PSDB/CE), encadearam uma série de perguntas sobre as empresas de Tolentino e sua atuação como advogado. Ele admitiu que seu escritório de advocacia funciona no mesmo prédio de outras empresas sob suspeita dos parlamentares, entre elas a MB Guassu, que integralizou capital de R$ 7 bilhões para a FIB Bank a partir de um terreno.

“Em outras palavras, vossa senhoria não pode revelar quem é o verdadeiro dono da FIB Bank”, apontou Tasso.

Segundo a senadora Simone Tebet (MDB-MS), a FIB Bank é uma “empresa de prateleira”, com formação de capital (de mais de R$ 7 bilhões) obscura. Assista no vídeo abaixo à fala da senadora.

A CPI da Pandemia vai requisitar à Procuradoria-Geral da República que determine, em caráter de urgência, a realização de investigação rigorosa de todos os contratos em que a FIB Bank figure como instituição garantidora. Além disso, a comissão vai encaminhar todas as informações ao Tribunal de Contas da União (TCU), para que seja feita uma auditoria em todos os negócios firmados.

Os parlamentares demonstraram espanto ao constatarem que a FIB Bank avalizou outros contratos no âmbito de órgãos da União e questionaram como os negócios foram concretizados.

“Aí está o pulo do gato. A Fazenda Nacional não era ouvida, a Procuradoria da República não era ouvida, a Advocacia-Geral da União, quando era ouvida, era ouvida tardiamente ou não era obedecida. Foi assim que aconteceu com a Covaxin. O advogado da AGU disse que faltava garantia, que a garantia tinha de ser bancária; eles não só descumpriram a lei, não só descumpriram o contrato, como aceitaram uma garantia que não é bancária de um banco que não é banco. Comprova o conluio”, avaliou a senadora Simone Tebet (MDB-MS).

Bolsonaro

Sobre Jair Bolsonaro, o empresário disse conhecê-lo desde o tempo em que o presidente era deputado federal, mas negou relação de amizade ou qualquer outro tipo de relacionamento.

“Estive com ele em alguns encontros, meramente casuais. Eu o conheci quando ainda deputado, poucas vezes… Encontrei também como presidente da República e isso é totalmente registrado”, disse.

O advogado disse ainda conhecer o senador Flávio Bolsonaro (Patriota/RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ) “de eventos políticos e sociais”. E disse não conhecer o filho caçula do presidente, Jair Renan. 

Precisa Medicamentos

Sobre Francisco Maximiano, dono da Precisa Medicamentos, representante no Brasil da Bharat Biotech, Marcos Tolentino se limitou a dizer que o conheceu no “ambiente empresarial há alguns anos”.

“Atendi o senhor Francisco Maximiano com relação a uma ação pessoal de pequena monta, com sigilo profissional, que me impede de prestar maiores informações como advogado, mas há o acesso via autos que acaba sendo público. Já em relação à Precisa Medicamentos, jamais os representei ou realizamos qualquer negócio, até porque seria o impossível”, disse.

Segundo a testemunha, seria impossível ele ter participado das tratativas de compras da Covaxin porque sofreu por meses com consequências da covid-19 e chegou a ser entubado em fevereiro. Nos meses seguintes, teve infecção generalizada e duas paradas cardíacas, o que lhe obrigou a passar por um longo período de recuperação.

“Todo esse período de fevereiro, março, abril, depois voltando para casa, ficando sem andar, tive que reaprender todas as atividades […] E, quando saí desse estado, tive que reaprender as minhas limitações mais elementares, como andar, me alimentar”, explicou.

Depois citar por algumas vezes seu sério risco de morte com a doença, o senador Randolfe Rodrigues (Rede/AP) disse que era solidário, mas não era adequado a testemunha levar a enfermidade dele à comissão e, principalmente, se esconder para não responder a perguntas.

“Não foi a enfermidade que o impediu a ser sócio oculto da FIB Bank, nem de participar de negócios escusos, nem o impediu de vir aqui acompanhar o Ricardo Barros dar um espetáculo nesta CPI”, afirmou.

Fonte: Agência Senado.