Governador Camilo Santana (PT) recebe no Palácio da Abolição o presidenciável Ciro Gomes (PDT) e o senador Cid (PDT). Foto: Facebook/Camilo Santana.

O governador Camilo Santana (PT) publicou, em seu canal na internet na última sexta-feira (6), uma foto dele conversando com o presidenciável Ciro Gomes ao lado do senador Cid Gomes, ambos do PDT. Justificando a foto, escreveu: “Recebi esta tarde, no Palácio da Abolição, os ex-governadores, meus amigos, Ciro Gomes e Cid Gomes, hoje senador da República. Conversamos sobre conjuntura nacional, defesa da democracia, e sobre ideias e ações para melhorar a vida do nosso povo. Ciro e Cid fazem parte de um projeto que, ao lado de outros parceiros, tem ajudado muito o nosso Ceará. Agradeço aos dois pela visita”.

E nada mais disse e nem deveria dizer, como também sobre ele (o encontro) nada dirão os dois irmãos (Ciro e Cid) pois talvez tenha sido a primeira conversa mais efetiva sobre o envolvimento do governador na campanha presidencial do Ciro no Ceará, em 2022, assim como a sucessão dele próprio e sua pretensão de disputar a única vaga de senador da República, que o Ceará elegerá no próximo ano quando o Senado será renovado em um terço de sua composição (27 senadores), sendo um para cada Estado e o Distrito Federal. As duas campanhas estão imbricadas para as lideranças pedetistas cearenses.

Ciro quer ser presidente da República tendo a votação do Estado do Ceará como destaque, óbvio. Ser eleito presidente, perdendo para outro ou outros candidatos no seu próprio Estado, onde já foi até governador e, inegavelmente, é sua mais importante liderança, pode gerar um certo constrangimento. E se perder para presidente, sendo vencido no seu próprio torrão (ele nasceu em Pindamonhangaba, mas vive no Ceará desde criança), será trágico. Ciro foi sempre muito bem votado em todas as disputas de que participou no Ceará. E no pleito de 2022, vencendo ou não a disputa majoritária nacional, será importantíssimo para o seu currículo vencer, aqui, os concorrentes Lula e Bolsonaro, hoje bem posicionados, segundo pesquisas recentemente feitas para consumo interno de partidos.

O governador Camilo Santana pode ajudá-lo, consideravelmente, a alcançar o objetivo de ser bem mais votado que os seus concorrentes no Ceará. Mas, diferentemente do pleito passado, Camilo teria que ter apenas um candidato a presidente (em 2018 ele apoiou Ciro e Haddad do PT). Em compensação, no mesmo palanque de Camilo, candidato à reeleição estava Cid Gomes, disputando uma vaga de senador. E era a voz em defesa da candidatura de Ciro. Em 2022, Camilo é o candidato a senador dos pedetistas e, a estes não parece justo que, pedindo votos para o governador ir para o Senado, ele não retribua anunciando Ciro como seu candidato.

Ademais, Camilo vai estar sempre no palanque de um pedetista candidato a governador, onde só as camisas, bonés e bandeiras de identificação da candidatura presidencial de Ciro vão estar, somando-se com as dos postulantes à sucessão estadual e à vaga no Senado. Os petistas cearenses, é natural, vão querer manifestações de Camilo em defesa do nome do ex-presidente Lula, hoje, nacionalmente, em melhor posição na disputa com Ciro e até com Bolsonaro. Os petistas, não terão espaço no palanque principal onde Camilo estará. Eles não são tolerados pelos aliados de Ciro, exceção de Camilo, cuja relação política e pessoal com os irmãos o fizeram governador do Ceará em duas eleições seguidas.

Sem candidato a governador e com Camilo disputando o Senado com o apoio do PDT, os petistas vão pressionar o governador a levantar a bandeira da candidatura de Lula, não apenas como ele fez em relação à campanha de Haddad em 2018, e talvez nem isso ele possa fazer no primeiro turno da disputa. A eleição de Camilo para o Senado, nas circunstancias atuais, será mais trabalhosa que as duas eleições para o Governo do Estado. E por isso, mais habilidoso ele terá que ser para ficar no PT e motivar o comando do PDT a abrir mão de uma vaga de senador para fortalecer o partido e o seu líder maior, o adversário que mais tem sido atacado por Ciro Gomes.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre o tema: