Governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB); Lula (PT) e o prefeito de Recife, João Campos (PSB). Foto: Ricardo Stuckert/PT.

O ex-presidente Lula (PT) está cumprindo em Pernambuco, ou mais precisamente em Recife, Capital do Estado, a parte mais importante de sua prospecção no Nordeste Brasileiro (ele chega ao Ceará na sexta-feira (20), depois de visitar outros estados nordestinos), com vistas à consolidação de alianças e apoios para a disputa presidencial do próximo ano.

Para o cearense Ciro Gomes (PDT), também é muito significativo o resultado dos entendimentos de Lula por lá, pois está em jogo, senão de forma definitiva ainda, a posição do PSB em 2022. O partido é sondado pelos dois pretensos candidatos à Presidência da República.

Lula precisa muito menos do PSB que o Ciro. Mas, como em 2018, o interesse do petista é basicamente impossibilitar ou dificultar, ao máximo, uma aliança daquele partido com o PDT. O PSB, fechado com Ciro, facilita sobremodo a abertura da pretendida terceira via para minimizar os efeitos da polarização, hoje existente, entre as postulações de Bolsonaro pela direita, e Lula representando a esquerda. A família Campos, em Pernambuco, embora não seja diretamente a gerenciadora nacional do partido é, indiscutivelmente, a parte mais influente da agremiação.

O prefeito da Capital pernambucana, João Campos, filho do ex-governador Eduardo Campos, que foi a figura mais importante do PSB até a sua morte em 2014, quando disputava o cargo de presidente da República, tem forte influência no partido e recebeu ajuda de Ciro para eleger-se prefeito no ano passado, concorrendo com sua prima, a deputada federal pelo PT, Marília Arraes.

Esta, porém, para facilitar os entendimentos de Lula com o PSB, foi a primeira a manifestar-se favorável a um acordo de Lula com os adversários dela, na chegada do ex-presidente a Recife, no último domingo.

Em todos os outros estados nordestinos, inclusive no Ceará, Lula não tem dificuldade para acertar acordos. Aqui, Lula parece não querer confrontar Ciro, nem tampouco o governador Camilo Santana, cuja relação política e de amizade com Ciro e Cid Gomes o ex-presidente respeita. Sem estrutura para, competitivamente, disputar o Governo do Estado, Lula contenta-se em ter o seu partido elegendo um senador da República, o Camilo, sem a necessidade, sequer, de ele fazer um comício aqui em favor do correligionário. Do outro lado, Ciro não o atingirá eleitoralmente, pois para os cearenses, como têm mostrado algumas pesquisas reservadas, Lula é muito maior que todo o seu PT no Ceará.

Ciro, dos nomes postos para disputar a sucessão de Bolsonaro, com o mínimo de estrutura partidária será o que mais reúne condições de servir como uma cunha no meio da polarização. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), cobiçado pelo PSD para ser um dos nomes da terceira via, não é combativo o suficiente para confrontar os discursos, virulentos, sem dúvida, de Lula e Bolsonaro. E o PSDB, cuja participação da disputa com candidato próprio só acontecerá se o governador de São Paulo, João Doria, vencer as prévias no partido, não conseguirá as alianças partidárias necessárias à garantia de um bom tempo de propaganda no rádio e na televisão. A tendência dos tucanos é repetir o desastre da disputa presidencial de 2018.

Se o vencedor das prévias do PSDB for o governador do Rio Grande do Sul, visto que apenas os dois governadores [Doria e Eduardo Leite] estão realmente trabalhando suas candidaturas, a tendência é o partido apoiar um nome de oposição a Lula e a Bolsonaro, ideia aliás do senador cearense Tasso Jereissati, um dos nomes anteriormente apresentados para também disputar a indicação do partido para ser candidato a presidente da República. O senador não está fazendo campanha e os seus correligionários o apontam como aliado do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, também defensor de uma terceira via forte, ao contrário de uma outra liderança tucana, o deputado federal Aécio Neves, cujo discurso é em defesa de não candidatura presidencial do partido para voltar todas as suas atenções ao fortalecimento da agremiação com a eleição de mais deputados federais e senadores.

Jornalista Edison Silva comenta a visita de Lula ao Nordeste: