O deputado André Figueiredo, presidente estadual do PDT, está convicto da manutenção da aliança estadual entre o seu partido e o PT. Ela é importante para as duas agremiações, embora aquela seja eleitoralmente bem mais expressiva que esta. Os discursos de petistas como o do governador Camilo Santana e o deputado federal José Guimarães, as duas mais importantes figuras do partido no Estado, como André, também não deixam dúvidas quanto à continuidade da aliança, apesar dos esforços de alguns dos seus aliados em sentido contrário, e a intensidade das manifestações do presidenciável pedetista Ciro Gomes, contra a principal figura nacional do PT, o ex-presidente Lula.

O PT cearense só terá chance de voltar a ter um senador da República, depois de José Pimentel, se Camilo continuar no partido e for candidato ao Senado numa coligação com o PDT. É desconfortável, sim, a situação atual para todos os petistas, daqui e de alhures, ter o Ciro como adversário mais crítico de Lula e permanecer aliado com ele no Ceará. Mas os dois, neste Estado, têm interesse comum, mais o PT que o PDT. O primeiro senador do PT (Pimentel) foi eleito com a ajuda do PDT, como também foi o primeiro governador do Estado, Camilo Santana, inclusive reeleito.

É preciso reconhecer que o PT foi o principal aliado na eleição de Cid Gomes, em 2006, a governador do Ceará, tendo como vice o petista Professor Pinheiro e para o Senado, José Pimentel, embora dois anos depois, na campanha de reeleição da prefeita Luizianne Lins, em Fortaleza, começassem as divergências entre ambos. Cid, naquela época, impôs o nome do hoje deputado estadual Tin Gomes, para a vice de Luizianne. A escolha do então deputado estadual Camilo Santana por Cid, para ser candidato a governador, surpreendeu a todos do PT que, naquela oportunidade queriam, para manter a aliança, ter como candidato ao Senado o deputado José Guimarães.

O PT nacional e estadual precisa do governador Camilo Santana muito mais que este deles. Portanto, mantê-lo como candidato ao Senado em aliança com o PDT, alimenta a esperança de o partido vir a contar com um senador da República, posto que, exigir ter candidato próprio a governador do Ceará, indubitavelmente sairá bem menor da disputa, mesmo com Lula sendo candidato a presidente da República. Hoje, mesmo com todas as restrições de petistas a Ciro, que com o irmão senador Cid Gomes lideram o grupo governista, só fala em candidatura própria quem não tem comando no PT do Ceará.

O movimento do deputado federal José Airton, querendo ser candidato a governador, sob o argumento de romper a aliança e por ter sido ele o concorrente que ameaçou a eleição do ex-governador Lúcio Alcântara, em 2002, é apenas uma velha estratégia para barganhar. Ele é um dos atuais deputados com reeleição ameaçada. Na eleição de 2018, enquanto os deputados Luizianne Lins e José Guimarães obtiveram mais de 173 mil votos cada um, Airton conseguiu apenas pouco mais de 74 mil sufrágios. Nas próximas eleições, sem as coligações proporcionais, com esta votação só lhe restará uma distante suplência.

Ademais, sua força política dentro do partido é ínfima. O controle da direção estadual petista continua sendo do deputado José Guimarães. Será dela (direção) a decisão, embora possa sofrer alguma influência do comando nacional, cujo interesse em ter um senador com a aliança, mesmo considerada grotesca, é interessante, posto a perspectiva, muito viável, de sem ela, não ter com um dos seus um cargo majoritário no Ceará após a disputa de 2022. Guimarães está afinado com Camilo que, por sua vez, já tem o acerto com Cid e Ciro Gomes, em nome, do que ele sempre diz, do “projeto” para o Ceará, argumento utilizado para justificar sua posição de aliado de um dos mais contundentes adversários da principal figura petista, o ex-presidente Lula.

Jornalista Edison Silva resgata a memória da parceria entre PDT e PT nos últimos anos no Ceará: