Luciano Huck (sem partido), João Doria (PSDB), Ciro Gomes (PDT), João Amoêdo (NOVO), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Eduardo Leite (PSDB). Fotos: Agência Brasil.

Dissemos, no início de abril passado, que o manifesto dos presidenciáveis, publicado no dia 31 de março deste ano, não passava de mais uma “animação política” do ambiente da sucessão presidencial. Hoje, embora não devamos menosprezar a intenção dos que o subscreveram, o documento só não está no esquecimento total graças à memória de jornalistas. No último fim de semana, no jornal Folha de S.Paulo, uma matéria relembra o lançamento e a motivação dos que o subscreveram (Ciro Gomes, Eduardo Leite, João Amoêdo, João Doria, Luiz Henrique Mandetta e Luciano Huck).

Amoêdo e Huck já desistiram, por razões pessoais, da pretensão de disputar o cargo de presidente da República. Os demais, convictos das dificuldades de união entre eles, trabalham isoladamente para viabilizar seus projetos, embora Eduardo Leite e João Doria, os dois governadores do PSDB nos estados do Rio Grande do Sul e São Paulo, respectivamente, estejam dependendo das prévias no partido, e Mandetta da decisão do DEM de tê-lo ou não como candidato. A tendência do partido é aliar-se com uma sigla afim, sendo Mandetta a opção de vice.

O manifesto, repetimos o aqui já afirmado, foi recebido, à época, com ceticismo até pelos mais otimistas quanto ao surgimento de um candidato com reais condições de ser a opção entre o radicalismo da direita, representado pelo presidente Bolsonaro, e o da esquerda, que o ex-presidente Lula simboliza. A exceção de Ciro, nenhum outro subscritor do documento representa o partido a que é filiado. Nem mesmo o governador de São Paulo, cuja candidatura trabalha há algum tempo e agora terá de submeter-se à disputa interna para saber se será ou não o nome do partido na sucessão presidencial. Ciro é vice-presidente nacional do PDT.

Não se vislumbra, mesmo sendo ainda incipiente a movimentação das lideranças políticas nacionais, a possibilidade de a chamada terceira via ter apenas um candidato capaz de ser a opção entre Bolsonaro e Lula. A polarização só beneficia a ambos. Os dois, apesar de toda provocação feita por Ciro Gomes, não abrem discussão com o cearense. Não o acolhem no cenário do debate, claro. Lula foi explícito, na entrevista exclusiva que concedeu ao jornal O Liberal, de Belém do Pará, na última sexta-feira (02), sobre não dá respostas às acusações feitas por Ciro.

Alias, na mesma entrevista ele enalteceu a qualidade do debate democrático que seria travado com Ciro, em um possível segundo turno do pleito presidencial. Foi a primeira vez, em se tratando da disputa de 2022, que Lula chegou a admitir um segundo turno entre ele e Ciro. Este, porém, mesmo antes da instalação da CPI da pandemia no Senado, já havia admitido essa possibilidade de Bolsonaro não estar no segundo turno da disputa. Não era uma avaliação lógica, mas agora o é por conta do desgaste que ele está a experimentar em razão das denúncias de corrupção, surgidas recentemente, relacionadas à compra de vacinas.

O aproximar da campanha eleitoral propriamente dita, evidente, exigirá reações de Bolsonaro e Lula contra o forte discurso acusatório de Ciro. Indiscutivelmente, pelos nomes postos em avaliação por alguns partidos, para participarem da disputa presidencial, nenhum tem o destemor do cearense para falar das mazelas dos governos de Lula e Bolsonaro. A polarização não os blindarão o suficiente para calarem-se diante das contundentes acusações que sofrerão.

Hoje, o silêncio de ambos, seguindo o roteiro da política tradicional, pode até não incentivar o eleitorado a cobrar respostas ou esclarecimentos, mas, o calor da disputa há de fazer brotar, até mesmo nos grupos de apoiadores dos dois, o desejo de ouvi-los contraditando. E nesse momento eles não poderão impedir a ampliação da visibilidade de Ciro, abrindo-se, portanto, a oportunidade efetiva de o cearense apresentar-se como a real terceira via.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre a construção política das candidaturas à sucessão do presidente Jair Bolsonaro em 2022: