O Nudem da Defensoria Pública do Ceará registrou redução no número de mulheres buscando ajuda nos primeiros meses de pandemia do novo coronavírus. Foto: DPCE.

Durante os primeiros meses de pandemia do novo coronavírus, o Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher (Nudem) da Defensoria Pública do Ceará viu cair o número de mulheres buscando ajuda. Não porque a violência doméstica havia diminuído, mas porque elas estavam isoladas com seus agressores, silenciadas.

Os registros das vítimas foram aumentando à medida que as ações estaduais de contenção da pandemia foram cedendo. Nos seis primeiros meses de 2021, foram 4.772 procedimentos executados no Nudem Fortaleza, representando um aumento de 139% se comparado com o mesmo período do ano anterior, quando foram registrados 1.990 procedimentos.

A defensora pública Anna Kelly Nantua, titular do Nudem, explicou que grande parte dos casos que chegam ao núcleo é referente à violência psicológica, cerca de 97%. “É muito importante que seja divulgado, cada vez mais difundido para mulheres e homens, quais são as formas de violência. Culturalmente, acredita-se que violência é só aquela física, mas a maior incidência é a violência psicológica, que gera danos emocionais, mas não deixa marcas visíveis”, explicou a defensora.

“Normalmente, a vítima passa vários anos inserida nesse ciclo de violência, em atos que, muitas vezes, não consegue perceber, porque esse ciclo se inicia com as violências moral e psicológica. Outras situações de violência vão ocorrendo, assim como também a violência física. O extremo da violência é o feminicídio”, contextualizou. Anna Kelly reforçou a importância de a mulher conseguir se reconhecer como vítima para pedir ajuda e romper com esse ciclo, só que não é fácil sair desta situação e é necessária uma rede de apoio para acolher esta mulher.

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2020 mostram que, em 2019, a cada dois minutos, um registro de violência contra a mulher era realizado. Foram 266.310 registros de lesão corporal dolosa em decorrência de violência doméstica; um estupro a cada oito minutos e 1.326 vítimas de feminicídio. A maior parte dos agressores são pessoas próximas das vítimas, como companheiros e ex-companheiros.

Atendimento na Defensoria. “Mulheres cisgênero, travestis e mulheres trans que forem vítimas de violência doméstica e violência sexual podem ser atendidas pela Defensoria Pública do Ceará. A Defensoria vai atuar na solicitação de medidas protetivas, atendimento judicial e extrajudicial, psicossocial, que envolvam o rompimento deste ciclo de violência”, explicou Kelly.

O Nudem Fortaleza conta com três defensoras públicas (Anna Kelly Vieira Nantua Cavalcante, Jeritza Braga Rocha Lopes e Maria Noêmia Pereira Landim) e uma equipe psicossocial para atender às demandas das mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. Além da parceria com as instituições da rede, o Nudem contou ainda com convênios que ajudam a ampliar os serviços ofertados. “Temos convênio com clínicas-escola de psicologia de universidade públicas e particulares, porque ao procurarem amparo da legislação, as vítimas têm chegado muito fragilizadas. Nossos profissionais do psicossocial amparam e encaminham para a rede de acolhimento”, explicou Jeritza Lopes, supervisora do Nudem. O núcleo funciona na Casa da Mulher Brasileira, no bairro Couto Fernandes, e integra a rede de assistência à mulher do equipamento, sendo uma das maiores demandas de atendimento da Casa.

Anna Kelly explicou ainda que, para buscar ajuda, as vítimas podem acionar o número oficial 180, em que qualquer pessoa pode fazer a denúncia. Nas cidades onde não existe Delegacia da Mulher, a delegacia comum pode ser buscada para o registro da ocorrência.

Fonte: Defensoria Pública do Ceará.