Patrícia Campos Mello pontuou que, infelizmente, as jornalistas são as principais vítimas dos ataques do presidente Bolsonaro e sofrem constante difamação. Foto: ConJur.

“A palavra aborrece tanto os Estados arbitrários, porque a palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.” Essa frase de Rui Barbosa, jurista, político e jornalista brasileiro, citada por Felipe Santa Cruz, presidente da Ordens dos Advogados Brasileiros (OAB), resume o teor do evento “A Erosão da Liberdade de Expressão no Brasil”, promovido pelo Conselho Federal da OAB na quinta-feira (07).

No debate, o consenso entre os presentes foi que o Brasil atravessa um período “sombrio” para liberdade de expressão, em que os ataques a jornalistas são diários e o autoritarismo cresce. Para os palestrantes a corrosão da imprensa livre ameaça o sistema democrático como um todo.

Abrindo a palestra o presidente do Conselho Federal da OAB, afirmou que a liberdade está sob ataque no Brasil. Para ele há diversos sinais de alerta como a constante intimidação de jornalistas, os ataques a oponentes políticos, perseguição aos líderes indígenas e censura a cientistas.

José Carlos Dias, advogado e presidente da Comissão Arns, disse que por mais de 50 anos luta pela democracia. Durante a ditadura foi advogado de muitos perseguidos pelo regime. Hoje seu maior medo é que o país retroceda para o autoritarismo. Segundo ele a ditadura não pode se repetir, e por isso todos precisam usar sua voz contra essa ameaça. A democracia é a única solução para a situação do país e a liberdade de expressão a grande arma para lutar contra a repressão.

A mediadora do evento foi a jornalista, Laura Greenhalgh. Ela expôs uma pesquisa da organização Repórteres sem Fronteiras que aponta mais de 30 líderes políticos que são contra a liberdade de expressão, e o presidente Jair Bolsonaro está nessa lista. Esse estudo situa o Brasil na zona vermelha de países que restringem a liberdade de expressão.

No mesmo sentido, ela citou um estudo da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV, que revelou ataques a 68 jornalistas, dos quais 39 sofreram agressões físicas em 2020. Para Greenhalgh, o presidente manda uma mensagem de que a imprensa não é confiável e os ataques dessa natureza estão ficando mais agressivos.

A primeira convidada foi a jornalista, Patrícia Campos Mello que pontuou que os ataques contra a imprensa estão acontecendo diariamente. Infelizmente, as jornalistas mulheres são as principais vítimas dos ataques do presidente e sofrem constante difamação. O filho do presidente já insinuou que jornalistas ofereciam sexo para obter informações exclusivas, e essa mensagem foi transmitida para milhões de pessoas, o que causa um efeito muito negativo.

A retórica agressiva do presidente está se expandido para rua, pontuou. Ela citou exemplo de um jornalista da Folha de S. Paulo foi agredido e xingado enquanto cobria uma manifestação a favor do presidente. As companhias de mídia sentem insegurança, afirmou a jornalista.

Para Mello a desinformação é a campanha do Governo, seus apoiadores chegam a promover o negacionismo em relação à COVID-19. Parece que a raiz desses líderes populistas é usar ferramentas digitais para deslegitimar as informações apresentadas pela imprensa. Além disso, na opinião da jornalista, o Governo está instrumentalizando instituições para perseguir veículos de comunicação e diminuir sua capacidade de informar. O Brasil vive uma perseguição aos meios de comunicação sem precedentes.

“Quando decidi processar o filho do presidente não foi uma forma de reparação, a ideia era mostrar que isso não era normal e aceitável, que os políticos não têm imunidade para ofender ninguém. Não acho que isso vá parar, porque essa é a natureza desse Governo, mas tem que ser nossa natureza mostrar que não vamos aceitar isso e que não seremos silenciados”, afirmou Patrícia.

Paulo Coelho, escritor, disse que os brasileiros não podem aceitar algumas coisas, mas não podem se colocar no papel de vítimas. O brasileiro não pode deixar Bolsonaro interferir na liberdade, porque ela foi conquistada com “suor e lágrimas“. Bolsonaro, assim como Stalin e Kim Jong-un, não permite que as pessoas sejam contra ele ou que critiquem seu Governo, ele quer que apenas notícias favoráveis a ele sejam veiculadas, completou o escritor.

Para Coelho, a falta de limites para o que é falado na internet é um grande perigo, pois isso permite que as pessoas não consigam mais distinguir o que é verdade e o que é fake news. Tudo que vai para internet influencia as pessoas, mas o que está destruindo os jornais não é a falta de apoio do Governo e sim a quantidade de informação presente na rede, sem filtro.

O evento aconteceu em parceria com a Comissão Arns, e ocorreu por ocasião da 47ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Fonte: ConJur.