Girão (Podemos) acabou servindo de instrumento do Governo Bolsonaro. Foto: Agência Senado.

O senador cearense Eduardo Girão (Podemos) só tem somado desgastes com a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, embora tenha sido um dos seus autores defendendo a investigação de irregularidades praticadas por governadores e prefeitos no combate à pandemia, sob a alegação de desvio de recursos federais liberados para o atendimento das populações. Girão, da base bolsonarista, mas com discurso de independente, ainda terá que se posicionar sobre a continuidade ou não da investigação. Ao Governo Bolsonaro não interessa a continuidade.

Os dois outros senadores do Ceará, Cid Gomes (PDT) e Tasso Jereissati (PSDB), este, integrante da CPI como Girão, já assinaram o requerimento pedindo a prorrogação do prazo de funcionamento da Comissão que, assim como para ser instalada, precisa do apoio ou assinatura de no mínimo 27 senadores, um terço da composição do Senado. O requerimento foi apresentado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede Sustentabilidade) e dele não constava a assinatura de Girão, que, moralmente, como todos os demais integrantes do grupo, tem o dever de defender a continuidade da investigação, sobretudo agora, quando afloram as fundadas suspeitas de corrupção na compra ou tentativa de compra de vacinas.

A CPI é um instrumento político de investigação. Por isso dela faz uso a oposição. O senador Girão, pensando em tirar proveito para fortalecer suas pretensões políticas no Ceará, acabou servindo de instrumento do Governo Bolsonaro, quando este constatou a irreversibilidade da proposta do senador Randolfe Rodrigues de instalar a Comissão Parlamentar de Inquérito. Girão insiste em tomar depoimentos de governadores e prefeitos, mesmo depois de os ministros do Supremo Tribunal Federal decidirem que os senadores não podem convocá-los. Os bolsonaristas precisavam dele para tumultuar a investigação e o senador não percebeu o tamanho do desgaste que experimentaria.

Se para os aliados “de raiz” do presidente Bolsonaro, por razões várias, notadamente agora após as notícias de corrupção, a CPI deve encerrar logo as suas atividades (o prazo de funcionamento é de 90 dias prorrogáveis por igual período), para o senador Girão, mesmo com o discurso de que tudo deva ser investigado, também é importante o fim dos trabalhos. Hoje, lamentavelmente, em vários espaços o senador Girão é objeto de chacota. Claro que as zombarias partem dos adversários do presidente Bolsonaro, ligando-o ao bolsonarismo. E por insistir que não é um dos fiéis aliados do presidente, deste em nenhum momento recebeu uma declaração pública de apoio.

Foi uma decisão do ministro Luís Roberto Barroso, depois de ser provocado por senadores de oposição, a razão da instalação da CPI. A prorrogação dos trabalhos de investigação depende de decisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), como só ele pode autorizar a instalação da Comissão. Assim como ele procrastinou a abertura da CPI, e teve que atender uma ordem judicial, também não é improvável que a continuidade de seu funcionamento ocorra por decisão do ministro Barroso.

Claro que a oposição tem interesse em prolongar ao máximo essa investigação. Ela tem o significativo desejo de trazer à tona as fragilidades do Governo, notadamente agora que surgiram as denúncias de desvio de recursos para a compra de vacinas. Mas os governistas, integrantes da CPI, incluindo o senador cearense Eduardo Girão, mesmo contrariando o presidente Bolsonaro, moralmente estão obrigados a defender a continuidade dos trabalhos.

Jornalista Edison Silva comenta sobre a participação do senador Eduardo Girão na CPI da Covid: