Lula e Ciro são dois amigos de Camilo Santana (PT). Foto: Divulgação.

Só o governador Camilo Santana ainda acredita na possibilidade de um entendimento, com vistas à disputa pelo cargo de presidente da República, nas eleições do próximo ano, entre Ciro Gomes e Lula. Ele disse, na última terça-feira (15), em entrevista para jornalistas do UOL, que continua tentando um acordo entre os dois, mesmo depois de várias declarações públicas de Ciro descartando qualquer hipótese de uma aliança com o ex-presidente. A adjetivação de Ciro, reconhecidamente pejorativa, para qualificar algumas ações do ex-presidente, não dá margem para conciliação, por maior que seja o desprendimento de ambos.

Ademais, mesmo entendendo o interesse do governador cearense de buscar a conciliação entre dois dos seus amigos, até mesmo para tornar menos difícil o seu projeto político, impossível acreditar ser assimilada pelo eleitor brasileiro, uma aliança política entre Lula e Ciro, mesmo com todo apelo de que ela era imprescindível para a promoção das mudanças de que o País precisa. Politicamente, tivesse sucesso o governador na sua empreitada, os mais prejudicados seriam os dois líderes nacionais. Nenhum dos dois (Lula e Ciro), por mais apelativos que possam ser, tem discurso de convencimento para tal união.

O governador é hoje, no Ceará, o único político a decidir seu futuro optando entre dois amigos. Ele faz política há alguns anos filiado ao PT, mas não deve a Lula nenhum dos mandatos conquistados, em especial os de chefe do Executivo cearense. Na sua primeira eleição de governador, Lula sequer participou de um comício seu. O concorrente de Camilo foi Eunício Oliveira. Quem bancou a indicação do nome do governador e sua campanha foram os irmãos Cid e Ciro Gomes. Na reeleição, idem, Lula estava preso na época.

Com pretensões de ser eleito senador da República, como ele já admite publicamente quando afirma que estuda essa possibilidade, o governador sabe que não vai poder fazer a campanha isolado, sem apontar quem é o seu candidato a governador, na sua própria sucessão, nem o candidato a presidente da República, diferentemente do pleito passado em que ele participou dos palanques de Ciro e de Haddad. Em 2018, Camilo poderia, como era esperado pelo PDT, ser um forte elemento, dentro do PT, para quebrar arestas e conseguir o apoio do partido a Ciro, caso chegasse ao segundo turno. No próximo ano, pela tensão e animosidade entre os dois principais líderes nacionais das duas siglas, mesmo continuando petista, nada poderá fazer. Lula não mandará votar em Ciro, ou vice-versa.

Chamado de mineiro pelos jornalistas que o entrevistavam na última terça-feira, por conta da falta de respostas afirmativas, exceção apenas quando fez algumas colocações em relação ao presidente Jair Bolsonaro, Camilo, no entanto, deixou implícito sua continuidade no grupo liderado pelos irmãos Ciro e Cid Gomes. Ele defende o projeto que o grupo executa há alguns anos no Ceará, com sua efetiva colaboração. Não falou em projeto de Nação apresentado por Lula, embora tenha ressaltado pontos do Governo Lula, sem esconder algumas de suas mazelas, o que o faz sempre que questionado.

E talvez por isso ele continue defendendo uma autocrítica sobre o comportamento do partido, razão de algumas reservas que sofre internamente. Haddad, enquanto candidato a presidente da República, foi instado pelo governador a pedir desculpas publicamente aos brasileiros pelos erros do PT, ignorou. Essa irresignação de Camilo pode ser uma das razões a motivarem sua tomada de posição, no momento oportuno, preferindo optar pelo candidato do grupo que lhe garantiu os mandatos.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre o dilema do governador Camilo: