Senador disse que a decisão do Exército de não punir Pazuello por participar de ato político pró-Bolsonaro torna mais delicada uma reconvocação do ex-ministro à CPI. Foto: Pedro França/Agência Senado.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), membro titular da CPI da Covid, não tem qualquer dúvida de que o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) será responsabilizado por comandar uma política desastrosa no combate à Covid-19, incluindo o atraso na compra de vacinas.

O ex-governador do Ceará concedeu entrevista ao jornal O Globo, e afirmou acreditar que Bolsonaro tenta desestabilizar o país e que a situação do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, com o Exército torna o retorno do general à Comissão ainda mais delicado.

“Há vários indícios em várias linhas de investigação, e todas têm uma coisa em comum, que é o Bolsonaro. O problema leva ao Bolsonaro. Se você for falar de vacina, onde parou o processo de compra, a lentidão, você vai no Pazuello, vai no outro, e acaba no Bolsonaro. Se você fala em críticas e obstáculos ao afastamento social e ao uso de máscara… Bolsonaro. Pode criticar o ministro da Saúde, mas acaba no Bolsonaro. Sobre a cloroquina, por que essa prescrição de um remédio sem comprovação científica, quem fez, quem não fez, segue a linha e acaba no Bolsonaro. E agora estamos vivendo esse problema de aglomeração, com uma ameaça, se já não uma realidade, de terceira onda. E o Ministério da Saúde praticamente imobilizado, não se pronuncia sobre essa aglomeração, se promove uma Copa América. E o que tem por trás disso? Bolsonaro. Então, todos os indícios levam ao grande chefe disso tudo, o grande chefe dessas falhas todas é sem dúvida nenhuma o Bolsonaro, cercado por maus conselheiros. Então já é possível falar em algum tipo de responsabilização em relação ao presidente?”, explicou Tasso.

Segundo o senador cearense, certamente a responsabilização chegará ao presidente, pois todas as declarações dadas à CPI que coincidem levam a Bolsonaro como o grande ordenador de tudo. “A postura dele é provocadora. Parece-me que ele já passou do limite de fazer algum tipo de enfrentamento racional às coisas que estão sendo obtidas na CPI e passou a uma provocação não só à CPI, mas ao país inteiro. O máximo da provocação foi quando o ex-ministro Pazuello esteve na CPI e jurou perante a Deus e à Constituição Brasileira, como um militar, um general, de quem se espera uma palavra altiva e corajosa, que era a favor do afastamento e rigoroso em relação a uso de máscara. E dois dias depois ele estava fazendo em cima de um palanque, ao lado do presidente, uma manifestação justamente pelo contrário. Eu acho que o presidente hoje está claramente buscando desestabilizar o país”, acrescentou.

Para Tasso, a decisão do Exército de não punir Pazuello por participar de ato político pró-Bolsonaro torna mais delicada uma reconvocação do ex-ministro à depor na CPI. “No momento em que todo o Brasil pensava, em função daqueles que conhecem a importância da hierarquia e da disciplina na vida militar, que houvesse uma manifestação muito clara do alto comando do Exército, e isso não aconteceu, isso nos deixa muito preocupados. E eu acho que o ministro Pazuello tem sido protagonista de duas crises que eu não esperava viver na minha vida: a primeira, sanitária; essa crise de mortes, casos e perdas que o Brasil sofre, o Brasil todo dia de luto. E uma que eu não esperava ver mais, que é uma crise militar; pensei que já tinha acabado na história. E o Pazuello tem sido protagonista dessas duas coisas. Para o Brasil, a melhor coisa hoje era que ele saísse de cena”, afirmou.

Tasso acredita que não haverá tempo para que a CPI ouça mais governadores do que os 8 já convocados, que começarão a ser ouvidos esta semana. “Eu não acho que vá ter tempo para ouvir outros governadores. O caso do Amazonas e de Manaus é muito específico. Aliás, foi em função dos acontecimentos de Manaus, da omissão e dos erros que aconteceram lá, que essa CPI foi instalada. E há uma certa coincidência nos depoimentos que de uma maneira responsabiliza também o governo do estado e o secretário de Saúde. Esse é um caso muito específico, tem que ser ouvido. Acho que os outros, no decorrer do tempo, com tantas coisas acontecendo, não serão prioridade”, opinou.

Por fim, para o senador, as evidências de que a demora para a compra de vacina ter ocorrido de forma deliberada, arquitetada, e a descoberta recente de uma gabinete paralelo, com mais força até que órgãos oficiais, são dois dos principais pontos da CPI até aqui. “A demora da compra de vacinas, e agora com os vídeos e documentos que estamos obtendo, sabemos que foi uma demora deliberada. Não foi, como em princípio eu achava, uma demora por negligência, por incompetência. Há também o conselho paralelo, que tinha mais força até do que os órgãos oficiais. Isso também está comprovado e é bastante irregular. Há, ainda, a questão da cloroquina, que nos leva a outro ponto, que é a tese da imunidade de rebanho. Esse pensamento não está comprovado, mas a percepção de fixação na cloroquina tem a ver com esse pensamento”, concluiu.