Advogado e o empresário Carlos Wizard na CPI da Covid. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Brasil.

Amparado por um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF), o empresário Carlos Wizard compareceu à CPI da Covid nesta quarta-feira (30) e se recusou a responder as perguntas do senadores.

“Me reservo ao direito de permanecer em silêncio”, a frase foi repetida por dezenas de vezes por Wizard.

Antes de decidir ficar em silêncio, Wizard usou os 20 minutos dados a todos os depoentes pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM). Em sua exposição, afirmou desconhecer qualquer “ministério paralelo” de aconselhamento ao presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia do novo coronavírus.

“A minha disposição de servir o país no combate à pandemia e salvar vidas faz com que eu seja acusado de pertencer ao suposto gabinete paralelo. Afirmo com toda veemência que jamais tomei consciência de um governo paralelo. Se, porventura, este gabinete existiu, eu jamais tomei conhecimento ou tenho qualquer informação a este respeito”, ressaltou.

Suspeito de integrar o suposto grupo, aos senadores, o empresário acrescentou que “essa é a mais pura expressão da verdade”.

O empresário destacou como começou sua relação com o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Wizard e a esposa, além de outros membros da sua família, foram voluntários na Operação Acolhida em 2018, que presta auxílio humanitário a imigrantes venezuelanos, e que era coordenada pelo ex-ministro. A proximidade fez com que Wizard fosse chamado por Pazuello quando ele assumiu o Ministério da Saúde para auxiliar no combate à pandemia. Wizard disse que a condição seria “servir como voluntário e empreendedor social e de forma pro-bono, sem remuneração”.

“Me reservo ao direito de permanecer em silêncio”, a frase foi repetida por diversas vezes por Wizard diante das perguntas dos senadores. Senadores criticaram a postura do depoente.

Para o relator, senador Renan Calheiros (MDB/AL), a negativa de Wizard de responder aos senadores é mais um motivo para a não liberação do passaporte do depoente, “pois são muitas as perguntas a serem feitas”. O presidente, Omar Aziz (PSD/AM), disse que ele poderia ficar em silêncio em uma pergunta que pudesse incriminá-lo e criticou Wizard.

“Se continuar a falar “me reservo ao direito de permanecer em silêncio”, seria melhor ele colocar um gravador”, disse Aziz.

Logo na chegada do empresário, senadores já criticavam a postura de Wizard em relação à CPI. Otto Alencar (PSD-BA) disse que Wizard debochou da CPI.

“O depoente debochou mesmo da Comissão Parlamentar de Inquérito, quando ele não quis comparecer aqui. Talvez pela posição dele, de ser uma pessoa milionária, ele não quis dar atenção. Mas permanentemente vinha visitar o presidente da República, estava no “gabinete paralelo”.

Ele prestaria depoimento no dia 17 de junho à CPI, mas não compareceu. Wizard chegou a pedir para depor por videoconferência, o que foi recusado pelo presidente da comissão. Diante da ausência injustificada do depoente, Aziz solicitou apreensão do passaporte e condução coercitiva do empresário, que estava nos Estados Unidos. Os advogados dele, então, contataram a comissão e, em acordo, marcaram a oitiva para esta quarta-feira (30).

Em sua fala inicial, Wizard explicou por que não compareceu à CPI na primeira convocação. Alegou que estava nos Estados Unidos cuidando do pai, idoso e acamado, e de uma filha, que está prestes a dar à luz em uma gravidez de risco. “O que os senhores fariam se estivessem na minha condição?”, perguntou aos senadores.

Ele afirmou ter conhecido o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, durante missão humanitária em Roraima. Negou ter conhecimento da existência de um “gabinete paralelo” de aconselhamento ao presidente da República. Lendo declaração escrita, justificou sua defesa do tratamento precoce para Covid-19 alegando que o entendimento da ciência evoluiu. E disse apoiar a imunização da população.

A declaração inicial foi rebatida por senadores. Renan exibiu vídeos em que Wizard admitia ter atuado como conselheiro do Ministério da Saúde. Um dos vídeos mostra entrevista de Wizard ao lado da médica Nise Yamaguche para a TV Brasil, do governo federal, em que ele diz que atuou como conselheiro por 30 dias ao lado de Pazuello e  optou por trabalhar de forma independente.

“Sobre o gabinete paralelo temos provas sobejas da sua participação, diferentemente do que aqui foi colocado”, disse o relator.

Fonte: Agência Senado e Agência Brasil.