Fabio Wajngarten foi interrogado pelos senadores. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado.

Na hora marcada para o depoimento do ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República Fabio Wajngarten à CPI do Senado, todas as providências já estavam adotadas.

Após cobrança de Marcos Rogério (DEM/RO) sobre a votação de requerimentos de convocação de autoridades de estados e municípios, Omar Aziz (PSD/AM) informou que a CPI vai votar requerimentos de informações e de depoimentos nesta quinta-feira (13), entre eles o pedido de convocação da médica Nise Yamaguchi, defensora do “tratamento precoce” para a Covid-19.

O alcance dos pedidos de informação sobre a transferência de recursos da União para estados e municípios abriu discussão: oposição defende análise focada no dinheiro contra a covid; governistas pedem investigação mais ampla.

No começou do depoimento de Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República, em resposta a Renan Calheiros (MDB/AL), Wajngarten afirmou que é equivocado dizer que o governo “não comunicou” sobre a pandemia. Segundo ele, a Secom fez 11 campanhas desde fevereiro de 2020, sendo 7 com o Ministério da Saúde.

Wajngarten disse que o presidente Bolsonaro nunca interferiu na Secretaria de Comunicação Social e nas campanhas publicitárias relacionadas à pandemia

Questionado pelo relator sobre falas de Bolsonaro, Wajngarten disse para “perguntar a ele”. A resposta gerou reação do presidente, Omar Aziz (PSD/AM): “O senhor está aqui na condição de testemunha. Vai responder sim ou não”.

Durante sua exposição inicial, Wajngarten disse que quando soube que a Pfizer enviaria uma carta ao governo brasileiro, levou o assunto ao presidente. Segundo ele, a atitude “proativa” foi republicana e para ajudar.

Wajngarten falou que as declarações de Bolsonaro sobre vacinação têm um impacto diferente em cada público-alvo. Ele também disse concordar com a fala do presidente sobre não se vacinar, pois quer ser o último brasileiro imunizado.

Wajngarten confirmou que a Pfizer encaminhou em setembro uma carta sobre a oferta de vacinas, mas segundo ele, eram “500 mil vacinas”, e não 70 milhões de doses. Ele disse que outros ministros também receberam.

Wajngarten confirmou que o Ministério da Saúde não respondeu à carta “até 9 de novembro”, mas negou ter participado de negociações. Renan Calheiros (MDB/AL) questionou contradições em relação a entrevista dele à revista “Veja”.

Em resposta ao relator, Wajngarten afirmou que a assinatura de contrato com a Pfizer não foi procrastinada. Segundo ele, não havia segurança jurídica na época, por conta de uma brecha legal.

Renan quis saber sobre possível aconselhamento paralelo da Presidência da República e defesa da imunidade de rebanho. Fabio Wajngarten disse desconhecer ambos.

O presidente, Omar Aziz (PSD/AM), apontou contradições no depoimento de Wajngarten em relação a entrevista à Veja: “Não menospreze nossa inteligência. O senhor está mentindo”. E afirmou que o depoimento terá consequências.

A reunião foi suspensa por cinco minutos depois que o relator, Renan Calheiros (MDB/AL), acusou Fabio Wajngarten de estar mentindo à CPI e outros senadores começarem a discutir em defesa do depoente.

À Veja, Wajngarten chamou o ex-ministro da Saúde Pazuello de incompetente; disse que Pfizer tinha cinco escritórios e que o governo estava perdido, lembrou Omar Aziz: “O senhor só está aqui por causa da entrevista à revista Veja.”

Depois de alguns minutos de pausa, o trabalho da comissão de inquérito é retomado. O presidente, Omar Aziz, disse que pode dispensar Wajngarten, se ele não ajudar, e chamá-lo novamente não como testemunha, mas como investigado.

Relator da CPI, Renan Calheiros (MDB/AL) tem à sua frente, no local usado para identificação do senador, o número atualizado de mortos pela covid-19 no Brasil, que já supera 425 mil pessoas.

Renan perguntou sobre subvenção de sites e influenciadores, por meio da Presidência, para prestação de serviço. Wajngarten negou, mas confirmou contratação de influenciadores por R$ 23 mil para campanha sobre “tratamento precoce”

A pedido do relator, Renan Calheiros (MDB/AL), a CPI vai requisitar a gravação da entrevista de Wajngarten à revista Veja. Renan ameaçou pedir prisão do ex-chefe da Secom: “Se ele mentiu, vou requerer a prisão do depoente”.

Omar Aziz (PSD/AM) ameaçou encerrar o depoimento de Wajngarten, dizendo que oitiva estava “prejudicada” devido a contradições do ex-secretário com a entrevista dele à revista Veja. Mas decidiu continuar, após apelo dos senadores.

Tasso Jereissati questionou autoria do vídeo “O Brasil não pode parar”, divulgado em março de 2020. Wajngarten disse desconhecer se campanha foi feita pela Secom e diz que estava afastado da pasta no período por estar com covid.

A pedido de Wajngarten, a comissão de inquérito paralisou por cinco minutos os trabalhos. O próximo senador a fazer perguntas à testemunha foi Ciro Nogueira (PP/PI).

Antes da suspensão, Eduardo Girão e Omar Aziz discutiram, após Girão questionar os rumos da CPI e dizer que Wajngarten está sendo intimidado e humilhado. “Humilhados são os 425 mil mortos, pois não temos vacina”, respondeu Omar.

Antes da suspensão, Humberto Costa (PT/PE) exibiu no celular vídeo da campanha O Brasil não pode parar, produzida pela Secom. Antes, Wajngarten havia dito que não tinha certeza se a pasta era responsável pela campanha do governo.

Ciro Nogueira (PP/PI) afirmou ter feito uma enquete em seu site sobre o foco da CPI. Segundo ele, 14% foram a favor de discutir o uso da cloroquina, enquanto 86% votaram pela investigação de desvios de recursos públicos.

Para Randolfe Rodrigues (Rede/AP), o depoimento de Wajngarten confirma que o governo levou quase 6 meses para decidir comprar as vacinas Pfizer. A oferta foi feita em 12 de setembro, e o governo só aderiu no dia 23 de fevereiro.

A reunião foi interrompida pela terceira vez. Fabio Wajngarten pediu um curto intervalo e foi atendido pelos senadores. Ainda faltavam 11 senadores inscritos para falar.

A reunião foi retomada. O senador Rogério Carvalho (PT/SE) faz seus questionamentos.

Otto Alencar (PSD/BA) disse que vai apresentar requerimento para que a CPI faça acareação entre Wajngarten e os repórteres da revista Veja sobre a recente entrevista do depoente. “Alguém está mentindo”, afirmou Otto.

Rogério Carvalho (PT/SE) exibiu vídeo em que Wajngarten diz ter trabalhado em março de 2020, quando teve covid. Antes, o ex-secretário disse à CPI que não lembrava da campanha “O Brasil não pode parar” por estar afastado da Secom.

Questionado por Alessandro Vieira, Wajngarten confirmou declaração à Veja de que Bolsonaro foi informado de forma errônea, por dolo ou incompetência, sobre a pandemia. Ele não quis dizer quem seria responsável pelas informações.

Fernando Bezerra (MDB/PE) diz que vídeo “O Brasil não pode parar” não saiu da Secom. Sobre campanhas de orientações contra à covid, Wajngarten disse que a Secom utilizou a estrutura da EBC, com 2.120 reportagens na Agência Brasil.

Leila Barros (PSB/DF) apresentou à CPI trecho do áudio liberado pela revista Veja da entrevista de Wajngarten, na qual ele afirma ter havido incompetência do Ministério da Saúde na negociação de vacinas com a Pfizer.

Jean Paul Prates (PT/RN) insiste e Wajngarten afirma que campanha “O Brasil não pode parar” estava em “fase de teste” na Secom e sua veiculação foi autorizada pelo então ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.

Renan Calheiros (MDB/AL) apontou “espetáculo de mentiras” e pediu prisão de Wajngarten após negativa sobre autorização oficial para campanha “Brasil não pode parar”. O relator mostrou postagem da Secom com a campanha.

“Este depoente tinha que sair daqui preso, faltou com a verdade e está em estado flagrancial”, afirmou Fabiano Contarato (Rede/ES). Para ele, Fabio Wajngarten mentiu à CPI durante o depoimento.

Presidente da CPI, Omar Aziz (PSD/AM) diz que se depender dele não vai pedir prisão em flagrante de Fábio Wajngarten. “Aqui não é um tribunal de julgamento”.

“Não há flagrante”, disse Marcos Rogério (DEM/RO) sobre a possibilidade de prisão de Wajngarten. Ele mencionou decisão do STF que extinguiu ações contra a campanha “Brasil não pode parar”, cuja veiculação foi suspensa.

Após pedidos de prisão de Wajngarten, Omar Aziz (PSD/AM) afirmou que depoimento trouxe informação “mais importante da CPI” até o momento: a cúpula do governo sabia desde setembro de 2020 sobre a oferta de vacinas da Pfizer.

Omar Aziz (PSD/AM) suspendeu a reunião e disse que vai retomá-la após as votações no Plenário do Senado.

Antes da suspensão, Jorge Kajuru (Podemos/GO) disse que o depoente mentiu ao negar que a Secom estimulou o uso de cloroquina. O senador mostrou postagens de outubro de 2020 para contradizer Wajngarten.

Antes da suspensão, Humberto Costa (PT/PE) pediu o encaminhamento do depoimento ao MP, para apure contradições de Wajngarten. Flávio Bolsonaro (Republicanos/RJ) defendeu o depoente e atacou o relator, Renan Calheiros (MDB/AL).