Ciro Gomes (PDT) e Lula (PT). Fotos: Divulgação/Agência Brasil.

Ciro Gomes (PDT), está cada vez mais convencido de ter como seu primeiro adversário na disputa para chegar à Presidência da República, vencendo as eleições do próximo ano, o ex-presidente Lula (PT). Na entrevista concedida para o jornal Valor Econômico, publicado nesta segunda-feira (17), ele explicita essa posição ao ser mais contundente ainda em suas observações críticas ao petista, acusando-o de ser a “parte central da corrupção” no Brasil. Ciro admite a possibilidade de o segundo turno das eleições presidenciais do próximo ano vir a ser disputado por ele e Lula, apostando no definhamento da postulação de Bolsonaro.

“Quem vai ter que se explicar agora é o Lula porque vou para cima dele. Vamos derrotar Bolsonaro e vou propor mudança. Lula é parte central da corrupção. Lula é o maior corruptor da história moderna brasileira. E não aprendeu nada. Fica na lambança, prometendo a volta de um passado idílico que é mentira”, disse Ciro na entrevista, admitindo, no mesmo espaço, que Bolsonaro “está incitando a tropa, mas vai faltar chão”, pois ele “está derretendo”, enfatizou para justificar o seu raciocínio de o presidente não chegar ao segundo turno da disputa de 2022.

Lula não parece ter o mesmo sentimento de Ciro, mas, pela busca da construção de uma base partidária para ser candidato, apesar do favoritismo apontado pelas pesquisas, ele persegue os caminhos de Ciro, inclusive fazendo concessões para alianças que possam fragilizar a coligação almejada por Ciro. Em 2018, mesmo estando preso, por condenação criminal ora anulada, Lula foi preponderante para afastar o PT e alguns outros partidos de Ciro, inclusive o PSB. E isto ampliou as divergências entre eles por Ciro entender ter sofrido uma traição.

É difícil admitir que Bolsonaro não participe do segundo turno das próximas eleições presidenciais. É verdade, sim, que atualmente ele experimenta um grande desgaste na avaliação do seu Governo. Porém, são grandes as vantagens de um candidato à reeleição, notadamente no caso dele, atualmente o único representante da direita radical. A polarização, teoricamente, beneficia o adversário da esquerda. Ciro tem trabalhado, e agora com o profissionalismo que a política moderna reclama, para ser a opção dos contrários aos radicalismos. Aos extremistas é importante evitar a terceira força, pois ela pode ser uma forte opção para o eleitorado distanciar-se de ambos.

E Lula, nos extremos, é o que mais pode sofrer com o crescimento de Ciro, pois é este quem tem boa oportunidade de aproximar-se do eleitorado de esquerda não radical. Por ora, Bolsonaro não precisa investir contra a postulação de Ciro. Ela ainda não o atinge, apesar do discurso forte do pedetista contra o atual presidente e seu Governo. O trabalho de Ciro, no momento, quer na tentativa de conseguir alianças com partidos que lhes garantam mais tempo para a propaganda eleitoral no rádio e na televisão, quer na contundência de suas acusações a Lula, só a este deve preocupar. Os dois disputam o mesmo espaço de fortalecimento para evitar a reeleição do atual presidente. E só um dos dois chegará lá.

Profissionalizada como parece estar, depois da contratação do marqueteiro João Santana, responsável por vitoriosas campanhas nacionais petistas, Ciro, mesmo tendo que responder sobre Santana trabalhando consigo, dará mais trabalho a Lula. E se conseguir ter um tempo razoável no horário da propaganda eleitoral, sem dúvida poderá ser realmente a opção do eleitorado brasileiro para evitar a nefasta polarização entre esquerda e direita. Lula e Bolsonaro sabem disso.

Mas, até chegar o momento da consolidação da terceira via, a disputa está limitada a Ciro e Lula. É um espaço em que Bolsonaro não tem como entrar, sem oportunidade alguma para a direita. E como a recíproca é verdadeira, a esquerda não tem votos na direita, Bolsonaro, com os votos desta, dificilmente não estará no segundo turno de 2022.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre o tema: