Deputados cearenses na comitiva do presidente Jair Bolsonaro. Foto: Ascom/PR.

Os deputados federais AJ Albuquerque (PP) e Domingos Neto (PSD), como representantes dos partidos mais importantes da base aliada do Governo do Estado do Ceará, não escondem os seus apoios, hoje, ao Governo Bolsonaro, gerando um certo desconforto a alguns integrantes do grupo que lidera a política e administração públicas cearenses, responsáveis por discursos contundentes contra o presidente da República. Os dois deputados estiveram na comitiva presidencial que veio ao Ceará, última sexta-feira (26).

Na visita, Bolsonaro fez um discurso, que ainda repercute no meio político, criticando os governadores (ele não citou nominalmente nenhum deles) que adotam as medidas restritivas de circulação de pessoas em nome da necessidade, comprovada pelos sanitaristas, nacionais e internacionais, de contenção da circulação do COVID-19. O governador Camilo Santana reagiu. O senador Tasso Jereissati (PSDB), também defensor das restrições, protestou contra a aglomeração que a visita de Bolsonaro provocou em municípios cearenses, e passou a defender, inclusive, a instalação da CPI no Senado para apurar as responsabilidades do Governo Federal no enfrentamento à pandemia.

Mas as manifestações mais contundentes foram as do senador Cid Gomes, e a do presidenciável Ciro Gomes, ambos do PDT.

Além dos dois deputados federais aliados, também estavam na comitiva de Bolsonaro à visita ao Ceará, os deputados  federais Capitão Wagner e Dr. Jaziel, assim como o deputado estadual André Fernandes, todos do grupo oposicionista mais radical aos pedetistas. Por certo, Cid, ao fazer referência a “outros tantos irresponsáveis” que se acercaram do presidente Bolsonaro, nas aglomerações ocorridas naquela visita, apontava para os oposicionistas, mesmo de certa forma deixando constrangidos os aliados.

Os interesses políticos do PP e do PSD no Ceará, aliados à relação de amizade pessoal e longa das principais lideranças das referidas agremiações, representadas pelo deputado estadual e secretário das Cidades, Zezinho Albuquerque, que embora filiado ao PDT é pai do deputado AJ, assim como de Domingos Filho, presidente estadual do PSD, têm mantido a parceria com o PDT. As rusgas entre Domingos Filho e os governistas, motivadoras inclusive da extinção do Tribunal de Contas dos Municípios, foram sepultadas. Domingos quer ter o filho, Domingos Neto, candidato a vice-governador na sucessão de Camilo Santana.

Mas, embora consolidada essa parceria no Ceará, a sucessão presidencial pode ensejar abalos indesejáveis. PP e PSD não têm nome, pelo menos até aqui, para disputar o cargo de presidente da República, e, a proximidade deles com Bolsonaro tende a garantir apoio ao presidente na sua postulação a um segundo mandato. A candidatura de Ciro Gomes, se competitiva estiver no momento das definições de alianças, PP e PDS, por suas direções nacionais podem pressioná-los a não continuar no palanque governista na sucessão estadual cearense, mesmo os interesses locais dos grupos que representam essas agremiações tendendo a ser mais forte.

Até agora, apesar dos registros de alguns momentos constrangedores, a posição adotada pelos dois deputados federais não tem abalada a aliança no Ceará. A proximidade das definições políticas no cenário nacional, no entanto, pode mudar essa realidade que, também, sofrerá influência do candidato situacionista apontado para a sucessão do governador Camilo. Hoje, como quando o governador disputou o seu primeiro mandato à chefia do Executivo cearense, pelo menos cinco nomes governistas estão no páreo da disputa pelo seu lugar.

O jornalista Edison Silva analisa a importância do PP e do PSD na composição da aliança governista para eleger o sucessor do governador Camilo Santana: